Santuário no Egito carrega mensagem misteriosa e deixa arqueólogos perplexos

Elisson Amboni

Um santuário de falcão está confundindo os pesquisadores devido aos mistérios envolvidos nele. Ele data de 1.700 anos atrás e é um verdadeiro tesouro arqueológico. É certo dizer que a contribuição do Egito para a humanidade é uma das mais significativas. Isso porque foi herança desse povo a geometria, a religião – sobretudo a politeísta, a filosofia, os fundamentos da aritmética, a medicina, diversas técnicas agrícolas, o sistema complexo de escrita, o calendário e muito mais. Desse modo, investigar a civilização egípcia é conhecer não apenas a história pertencente aos egípcios, mas toda a influência que tiveram.

Foram encontrados os restos de 15 falcões. No entanto, um detalhe chama para si toda a atenção: o que sobrou dos animais estava numa espécie de pedestal, e, segundo os especialistas, os falcões estavam sem cabeça.

Santuário de falcão e monumento são descobertos

Berenice, uma antiga cidade portuária no Egito, foi palco de uma descoberta surpreendente e intrigante: um santuário de falcão, no qual havia restos mortais de animais (falcões) sem cabeça, posicionados num pedestal junto com um monumento de pedra representando dois deuses desconhecidos. Próximo ao local também continha um arpão de ferro com cerca de 34 centímetros de comprimento.

Santuário de falcão
Estela do Deus Falcão e da Cabeça. Imagem: Divulgação American Journal of Archaeology Volume 126, Número 4

Além disso, uma segunda descoberta deixou os pesquisadores confusos e perplexos: numa outra sala do santuário de falcão, os arqueólogos encontraram uma estela, ou pilar, com uma inscrição grega cuja tradução significa “É impróprio ferver uma cabeça aqui”. Como era de se esperar, o santuário e a frase continuam sendo um mistério. Os pesquisadores se perguntam por que os falcões foram decapitados, por que uma estela foi colocada em uma sala proibindo a fervura de cabeças e por que um arpão foi colocado perto dos falcões.

David Frankfurter, professor de religião da Universidade de Boston, disse ao portal Live Science que “a decapitação dos falcões parece ser um gesto local de completar uma oferenda viva ao deus do santuário […] o sacrifício votivo de um animal vivo geralmente envolve algum tipo de matança ou aspersão de sangue para mostrar o compromisso do devoto.”

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Esqueleto completo de um falcão peregrino adulto no canto sudeste da sala interna. Imagem: American Journal of Archaeology Volume 126, Número 4

Possível explicação

No pilar, são retratadas três divindades: Harpócrates, também escrito Harpócrates, de Koptos, que é um “deus infantil”, e duas divindades ainda não identificadas cujos nomes não são claros na estela. Contudo, é possível visualizá-las bem: uma tem uma “cabeça de falcão” e a outra é uma deusa que usa uma coroa feita de “chifres de vaca e um disco solar”, segundo informou a equipe, num artigo publicado em outubro no American Journal of Archaeology. Vale salientar que o deus com cabeça de falcão é o maior entre os demais, sua proeminência é facilmente identificada.

A possível explicação é que o santuário de falcão tratava-se de um lugar em que aconteciam rituais de oferendas feitas às divindades, sobretudo ao deus com cabeça de falcão, tendo em vista a relação.

“Nós levantamos a hipótese de que os animais sacrificados foram fervidos antes de serem apresentados ao deus, talvez para facilitar a retirada de suas penas, e que suas cabeças foram removidas, de acordo com a prescrição na estela”, como informa a equipe de pesquisadores. Restos de peixes, cascas de ovos de pássaros e mamíferos também foram encontrados no santuário; os arqueólogos acreditam que também foram oferendas.

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Trincheiras 129 (abaixo), 130 (superior direito) e 131 (superior esquerdo), olhando para oeste-noroeste. Imagem: American Journal of Archaeology Volume 126, Número 4

Sugestão religiosa

O santuário de falcão estava em uso por volta do século IV d.C, quando o poder do Império Romano estava diminuindo no controle do Egito e quando o cristianismo já era a religião oficial da mesma soberania. Isso mostra que as práticas antigas religiosas continuaram mesmo após o surgimento e imposições de outros credos. A descoberta do santuário de falcão certamente é crucial para o entendimento e desenvolvimento de estudos acerca das crenças e dos rituais religiosos que floresceram na cidade.

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