Rússia tenta capturar usina de Chernobyl

Dominic Albuquerque
Imagem: Getty Imagens

Após o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o ministro do interior da Ucrânia relatou que as tropas russas foram enviadas através de Belarus, ao norte da Ucrânia, para a zona de exclusão altamente radioativa de Chernobyl, iniciando uma batalha que arrisca danificar o reator nuclear envolto em cimento, que derreteu em 1986.

“Tropas da Guarda Nacional responsáveis por proteger a unidade de armazenamento de resíduos radioativos perigosos estão resistindo ferozmente”, disse Anton Herashchenko, um conselheiro do ministro do interior. Se um projétil de artilharia atingisse a unidade de armazenamento, Herashchenko diz que a “poeira radioativa poderia cobrir o território da Ucrânia, Belarus e os países da União Europeia”.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse no Twitter que as forças russas estão tentando capturar Chernobyl, que é o local do maior acidente nuclear da história. A região atualmente está dentro de uma região protegida que inclui parte da rota direta mais curta de Belarus para a capital da Ucrânia, Kiev. “Isso é uma declaração de guerra contra toda a Europa”, disse Zelensky.

As forças militares russas avançaram contra a Ucrânia pelo ar, mar e terra. Mais de 40 soldados ucranianos foram mortos até o momento, e dúzias foram feridas durante conflitos na manhã da quinta-feira (24/02), disse Oleksiy Arestovich, um conselheiro do presidente.

“Nossos defensores estão sacrificando suas vidas para que a tragédia de 1986 não se repita”, Zelensky escreveu no tweet.

O Ministro do Exterior ecoou suas palavras na mesma rede, afirmando que um ataque russo na Ucrânia poderia “causar outro desastre ecológico’.

“Em 1986, o mundo viu o maior desastre tecnológico em Chernobyl. Se a Rússia continuar a guerra, Chernobyl pode acontecer novamente em 2022”.

A Embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos, Oksana Markarova, também comentou.

“Eles tentaram capturar a estação central da usina nuclear de Chernobyl, e a luta está acontecendo lá com a Guarda Nacional da Ucrânia protegendo a estação central do ataque”, contou Markarova em uma coletiva de imprensa.

“Pela primeira vez desde o desastre nuclear de Chernobyl – que posteriormente a Ucrânia, junto com nossos amigos e aliados europeus e americanos, passou a proteger o mundo de outro desastre nuclear – nós temos que defendê-la novamente das forças russas”, acrescentou.

As consequências do desastre de Chernobyl em 1986

O desastre de Chernobyl é o único acidente na história de energia nuclear comercial a causar fatalidades oriundas de radiação. Foi produto de um reator cheio de falhas da época soviética, combinado com erro humano, e muitos dos fatores subjacentes à Chernobyl foram específicos ao reator e à resposta do governo soviético.

Trinta e uma pessoas morreram nas semanas após o acidente depois da explosão de vapor inicial, exposição a radiação e queimaduras térmicas, e uma devido a parada cardíaca.

Em 2018, o United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation (UNSCEAR) reportou que o desastre também foi responsável por quase 20.000 casos documentados de câncer da tireoide dentre indivíduos com menos de 18 anos na época do acidente e nos três países afetados, Belarus, Ucrânia e Rússia.

Consequências psicológicas também foram ocasionadas após o acidente e continuam até hoje, como suicídios, apatia e alcoolismo.

Compartilhar