Restos mortais encontrados no Atacama revelam que o deserto era palco de batalhas sangrentas

Rafael D'avila

Análises na região mostram que os restos mortais são de 3.000 a 1.400 anos, incluindo indivíduos ainda com cabelos e órgãos intactos, por conta da aridez daquele solo. Todavia, apresentam costelas quebradas, mutilação facial, feridas de punção nos pulmões e outras áreas, ou seja, sofreram golpes fatais.

“Os padrões e frequências do trauma letal… são surpreendentes”, diz Tiffiny Tung, arqueóloga da Universidade de Vanderbilt, que não se envolveu na pesquisa. O Journal of Anthropological Archaeology publicará os resultados dos estudos no próximo mês, expondo as razões do período sangrento. Fatores como recursos escassos, mudanças climáticas e tradições culturais, acima de tudo, aparecem como possíveis causas do ‘massacre’.

Restos mortais encontrados no Deserto do Atacama.
O crânio de um homem adulto, provavelmente de 25 a 30 anos, mostra um trauma cicatrizado afetando a mandíbula superior. Todavia, a lesão provavelmente foi causada por um soco de outro indivíduo em uma luta. Imagem: Vivien Studen

Conforme explicou Tung, em relação aos restos mortais: “Podemos olhar para essas outras populações de diferentes épocas e lugares para tentar entender … Esses intensos surtos de violência versus relativa calma, relativa paz”, diz ela. “Quais são as forças maiores em jogo que estão contribuindo para que as pessoas queiram ferir, mutilar ou realmente matar outra pessoa?”.

O que os restos mortais dizem sobre as responsabilidades sociais da época?

O Deserto do Atacama é um lugar repleto de privilégios para aqueles que gostam de investigar sobre conflitos da antiguidade. Os elementos já encontrados nas areias abrangem quase 9.000 anos de violência episódica e mudanças sociais. Nesse cenário, “na orla do Deserto do Atacama… Você tem vale, área verde. E então você não tem nada. E aí você tem outro pequeno vale”, diz Bernardo Arriaza, coautor do estudo e antropólogo da Universidade de Tarapacá.

Uma das ferramentas usadas para torturas pessoas.
Armas como bolas amarradas provavelmente foram usadas para causar traumatismo craniano. Imagem: Raul Rocha

Foi “um período notável em geral, e há tantas mudanças acontecendo”, relatou a professora Christina Torres, da Universidade da Califórnia, Merced, que estuda restos mortais em sítios do Atacama, mas não se envolveu na nova pesquisa. “É a primeira vez que temos tantas pessoas se reunindo, agregando. Portanto, não é surpreendente que houvesse conflito e veríamos isso se manifestar de várias maneiras”.

“Nunca se trata apenas do clima”, completa Tung. “Nós, como seres humanos, tomamos decisões sobre como distribuir recursos. Temos normas sociais e práticas culturais. Eles são realmente poderosos para definir se haverá ou não explosões de violência e também sobre quem participa da violência”, finalizou.

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