Por que este cemitério da Idade da Pedra intriga pesquisadores?

Elisson Amboni
Imagem: Aki Hakonen

Imagine descobrir um local que reconta as narrativas de uma era pré-histórica, uma janela para o passado distante da humanidade. Arqueólogos na região de Tainiaro, na Finlândia, a um passo do Círculo Polar Ártico, fizeram exatamente isso. O sítio descoberto, com 6.500 anos de idade, é potencialmente um dos maiores cemitérios de caçadores-coletores do norte da Europa. A história contida ali revela-se não por restos humanos, que se perderam ao tempo graças ao solo ácido, mas por milhares de artefatos e ossadas de animais meticulosamente preservados.

No norte da Finlândia, a surpreendente revelação do sítio arqueológico de Tainiaro trouxe à luz um cemitério da Idade da Pedra de proporções inesperadas. Quando trabalhadores locais tropeçaram em artefatos de pedra enquanto cavavam areia na década de 50, mal poderiam prever a real importância deste local. Apesar do interesse inicial, as restrições financeiras impediram um estudo mais aprofundado.

Anos mais tarde, uma equipe da Universidade de Oulu, sob a orientação de Tuija Laurén, iniciou escavações, enfrentando desafios semelhantes, mas acrescentando peso à teoria de um cemitério pré-histórico. No entanto, foi a recente investigação, divulgada na revista científica Antiquity, que revelou a verdadeira extensão do local com aproximadamente 200 sepulturas individuais. A descoberta é notável não apenas pelo número inesperado de sepulturas, mas também por sua localização inusitada, a meros quilômetros do Círculo Polar Ártico.

“As descobertas em Tainiaro indicam que grandes cemitérios podem ter existido até mesmo próximo ao Círculo Polar Ártico”, disse Aki Hakonen, associado ao Departamento de Arqueologia da Universidade de Oulu. Ele acrescentou ainda que estes resultados “levantam perguntas sobre por que um local desse tipo existe tão ao norte e se mais cemitérios como esse poderiam ser encontrados nas diversas vales fluviais ao redor da Baía de Botnie.”

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Sítio de Tainiaro. Imagem: Tuija Lauren

A descoberta redefiniu a compreensão do estabelecimento humano na região de Lapônia. As investigações proporcionaram um vislumbre da cultura e das práticas funerárias de sociedades pré-históricas que habitavam zonas quase intocadas pela modernidade.

A magnitude de Tainiaro está apenas começando a ser entendida, mas uma coisa permanece clara: este lugar oferece uma janela rara para as vidas daqueles que o construíram e honraram seus mortos sob a luz da aurora boreal.

Quando você explora a extensão dos trabalhos arqueológicos, entende-se o quão frustrante pode ser a falta de restos humanos físicos. Em um local particular, cujos relevos sugerem a existência de um cemitério da Idade da Pedra, a ausência de ossos é palpável. A forte acidez do solo é apontada como a causa dessa completa decomposição.

Os especialistas, em resposta a esse desafio, analisaram o layout característico de várias fossas alongadas. Observando a uniformidade dessas estruturas, os pesquisadores as comparam atentamente com mais de 800 outras sepulturas da Idade da Pedra espalhadas por 14 cemitérios no norte da Europa, reforçando a hipótese de que são, de fato, locais de sepultamento.

A narrativa desses sepultamentos é ainda mais colorida pelo uso recorrente de pigmentos de ocre vermelho e vestígios de materiais carbonizados nas fossas. Tais evidências sugerem possíveis práticas culturais ricas em significado para a população dessa região remota. “Uma ancestral associação entre o ocre vermelho e o fogo, e com a calorosa vitalidade de um lar, é apenas uma das muitas possibilidades, mas uma que ressoa com um significado particular”, escreveram os autores do estudo.

Para desvendar os mistérios que ainda cobrem o local, nomeado Tainiaro, a equipe emprega tecnologias avançadas como a imagem radar geofísica. Essa técnica promete iluminar o sítio arqueológico sem perturbar o equilíbrio sutil que foi preservado ao longo dos milênios. Investigações futuras e novas escavações são vistas com esperança, enquanto os pesquisadores aguardam encontrar pistas adicionais que podem lançar luz sobre a civilização até então desconhecida.

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