Por que ainda estamos longe de ter carros voadores?

Os carros voadores podem até ser o futuro, mas provavelmente são um futuro ainda muito distante.

Felipe Miranda
Protótipo da Embraer.

Após a última metade do século XX, pensava-se que logo nas primeiras décadas do século XXI surgiriam os carros voadores. Bom, estamos no final de 2022, e ao que tudo indica, apesar de dezenas de projetos de empresas de todos os portes, incluindo gigantes como Airbus, Embraer e Uber, estamos longes de ter um carro voador que funcione de verdade.

Na verdade, a ideia surgiu um pouco antes da metade do século passado virar – ou bem antes. O primeiro carro voador do mundo foi patenteado em 1842 – mas esta aberração era basicamente uma carruagem voadora a vapor, e obviamente nunca saiu do papel.

Em 1904, Júlio Verne descreveu um veículo híbrido entre um carro, um avião, uma lancha e um submarino no livro Robur, O Conquistador. Mais tarde, essas ideias se intensificaram.

Em 12 de julho de 1946, a Convair, uma fabricante estadunidense de aviões, lançava o Model 116, um dos primeiros protótipos de carros voadores. Mais tarde, após algumas dezenas de voos bem sucedidos, o seu sucessor, Model 118, sofreu um acidente, pois o piloto confundiu os marcadores de combustível (um marcador do motor que voava, e o outro do motor que rodava em solo), e ficou sem combustível no ar, caindo. Felizmente, o piloto sofreu apenas pequenos ferimentos.

Gafes com carros voadores não são algo exclusivo dos primórdios da ideia. A chinesa Xpeng, testou, em Dubai, seu “carro voador”, o Xpeng 2. No teste, o barulhento veículo basicamente pairou fixo no ar por algum tempo e desceu ao solo, sem realizar nenhuma manobra, ou movimentos horizontais, apenas uma subida vertical.

Para não ficar apenas na crítica, o veículo foi aplaudido por alguns por demonstrar uma alta estabilidade no ar.

Por que os carros voadores ainda são uma realidade distante?

Drones já fazem entregas de comida, análises agrícolas, filmes. Foguetes vão para o espaço e retornam à Terra pousando perfeitamente. Carros elétricos já são muito comuns na Europa e Estados Unidos. Isso tudo demonstra que a tecnologia está andando. No entanto, ainda há grandes limitações tecnológicas para se por realmente na prática veículos terrestres e voadores para transporte de passageiros.

Carros voadores
Um modelo de 1959 se como seriam os carros voadores. Imagem: Joe Wolf / Flickr

Desde maneiras de se diminuir os ruídos – quem já viu um drone pessoalmente sabe o barulho produzido – até a autonomia da bateria, manobrabilidade de um objeto tão grande, e a confiabilidade, afinal, esses carros voadores serão tripulados.

“As baterias são definitivamente o principal fator limitante aqui, devido ao seu peso e à distância que podem alimentar um veículo aéreo”, disse ao Veredict Aziz Tahiri, vice-presidente de defesa e aeroespacial global da empresa Hexagon.

A questão da bateria é quase um paradoxo. Justamente pela bateria, os veículos aéreos elétricos ficam pesados, e exigem mais bateria. Para melhorar sua autonomia, são necessárias mais baterias. Mas ao adicionar mais baterias, o veículo fica mais pesado, e exige mais da bateria. Logo, precisamos melhorar a autonomia das baterias sem aumentar a quantidade de baterias.

Por exemplo, o Xpeng 2, tem apenas 35 minutos de autonomia.

Além da questão tecnológica, há a questão regulação. Já temos a regulação do trânsito comum. Há, também, a regulação do trânsito aéreo comum. Acrescentar uma regulação nova gera um trabalho novo, o que necessita uma grande mudança entre os órgãos públicos, regulatórios e a sociedade.

“A NASA acredita que serão [aproximadamente] 10 anos até que o clima regulatório esteja pronto para operações de táxi aéreo em escala, e para muitos órgãos reguladores, carros voadores estão longe de ser uma prioridade, disse Emilio Campa, ex-analista da empresa GlobalData. Mas há quem pense que até 2030 esses carros sejam realidade.

“Cidades grandes e voltadas para o futuro que são pioneiras em tecnologia, como Paris, Nova Iorque e Londres, procuram demonstrar suas capacidades fazendo planos para introduções do eVTOL, enquanto centros de rápido crescimento, como Dubai, Rio de Janeiro, Xangai e Pequim, também estão se movendo e podem até superar esses países, devido à sua capacidade de acelerar a regulamentação local”, diz Tahiri.

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