Pessoas nascidas cegas são misteriosamente imunes à esquizofrenia

Damares Alves
Imagem ilustrativa, olho com catarata. (sruilk / Shutterstock.com)

Nenhuma pessoa com cegueira congênita jamais foi diagnosticada com esquizofrenia. Nas últimas seis décadas cientistas do mundo inteiro têm escrito sobre esse mistério. Eles vasculharam em todas as literaturas, em todos os hospitais psiquiátricos, investigaram agências que oferecem apoio à pessoas com deficiência visual, e simplesmente não encontraram nenhum caso. Pessoas nascidas cegas são misteriosamente imunes à esquizofrenia.

Estranhamente, a perda de visão em outros períodos da vida está associada a maiores riscos de esquizofrenia e sintomas psicóticos. Se pessoas saudáveis, tiverem a visão bloqueada por apenas alguns dias, elas podem ter alucinações. E as conexões entre anormalidades da visão e esquizofrenia tornaram-se mais profundamente estabelecidas nos últimos anos – anormalidades visuais são encontradas antes que uma pessoa tenha algum sintoma psicótico, às vezes prevendo quem desenvolverá esquizofrenia.

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Um estudo mostrou que ter movimentos oculares incomuns, problemas com as retinas, taxas de piscadas incomuns e outros problemas visuais aumentam a probabilidade de uma pessoa ser diagnosticada com esquizofrenia mais tarde.

Em outro estudo realizado em 2004, 13 pessoas saudáveis ​​foram vendadas por 96 horas, e 10 delas relataram ter alucinações visuais entre no primeiro e no segundo dia.

Mulher vendada, imagem ilustrativa. Pessoas nascidas cegas são misteriosamente protegidas da esquizofrenia. (Foto: Bruno Feitosa / Pexels)
Pessoa vendada, imagem ilustrativa. Pessoas nascidas cegas são misteriosamente protegidas da esquizofrenia. (Foto: Bruno Feitosa / Pexels)

Durante o estudo, uma mulher de 29 anos, alegou ter visto um rosto verde com grandes olhos quando estava em pé na frente de onde sabia que havia um espelho,apesar de que não poderia vê-lo. Outra pessoa, um homem de 24 anos, relatou ao final do segundo dia que estava com dificuldade para caminhar por causa de todas as alucinações que pareciam estar em seu caminho. Ele relatou ter visto montes de pedras ou pequenas pedras. No final da pesquisa, ele relatou ter visto “edifícios ornamentados de mármore branco-verde” e “figuras de desenho animado”.

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As pessoas que nascem cegas ou que talvez tenham tipos específicos de cegueira congênita, parecem ser imunes aos mesmos distúrbios que a perda de visão pode incentivar mais tarde na vida.

Em um estudo publicado em Dezembro do ano passado na revista Schizophrenia Bulletin, os pesquisadores Tom Pollak e Phil Corlett, apresentam uma teoria sobre porquê isso acontece. Segundo o estudo, isso está enraizado na hipótese de que um dos trabalhos mais importantes do nosso cérebro é fazer previsões sobre o mundo. Em vez de perceber o mundo ao nosso redor em tempo real, nosso cérebro cria um modelo do que está lá fora, prediz e simula o que experimentamos e depois compara nossas previsões com o que realmente está acontecendo, para isso o cérebro utiliza erros para atualizar ou mudar o modelo em nossas mentes. A visão nos fornece muitas informações sobre o mundo ao nosso redor e é um sentido extremamente importante, ele ajuda a conectar outras pistas sensoriais, como som e toque.

Quando as pessoas têm problemas com sua visão, o cérebro precisa fazer mais previsões para explicá-las. Mas, se você não pudesse ver nada, não construiria aquelas falsas representações do mundo ao seu redor e isso poderia levar a problemas de mentais mais tarde. Já as pessoas nascidas cegas não tem os recursos visuais para ajudar a moldar seu modelo de mundo. Eles precisam construí-lo com seus outros sentidos.

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A hipótese de Pollak e seu colega não foi comprovada, mas isso não significa que ela está de todo errada, mais estudos são necessários. A esquizofrenia poderia estar mais enraizada em déficits cognitivos – distúrbios na percepção, atenção, memória, linguagem ou aprendizado, e não apenas à visão. O cérebro humano é demasiadamente complexo, não há uma resposta curta.

O estudo foi publicado na revista Schizophrenia Bulletin, clique aqui para acessá-lo.

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