Pesquisadores descobrem que as presas se originaram neste animal bizarro

Mateus Marchetto

Elefantes, morsas, hipopótamos e javalis, todos estes animais têm ao menos duas coisas em comum. A primeira delas é que todos são mamíferos, e a segunda é que todos estes bichos desenvolvem presas longas que crescem indefinidamente. Pesquisadores descobriram agora que um animal bizarro chamado de dicynodonte pode ter sido a origem das presas nos mamíferos.

Nenhum outro grupo de animais, vale ressaltar, como aves e répteis têm presas. Além do mais, as presas não têm a mesma composição de um dente comum, e em geral podem ter diversos formatos e durezas.

Por esse motivo, inclusive, os autores da pesquisa publicada no periódico The Royal Society Publishing, precisaram primeiramente definir o que é, de fato, uma presa.

“Para este artigo, nós precisamos definir uma presa, porque é um termo surpreendentemente ambíguo,” afirma Megan Whitney, autora da pesquisa, ao EurekAlert. Assim, a pesquisa define uma presa como um dente que se estende para fora da boca, cresce indefinidamente ao longo da vida e é composto de dentina.

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Imagem: tonyo_au / Pixabay 

Dentes de coelhos e outros roedores, por exemplo, são longos e crescem indefinidamente. Todavia eles têm uma cobertura resistente de esmalte – camada mais resistente do dente – que protege contra o desgaste lateral e, por esse motivo, não são presas. Além disso, presas geralmente têm ligamentos à sua volta.

Acontece que, analisando os dentes dos dicynodontes, a equipe pode traçar uma possível linha evolutiva para a origem das presas. Isso porque, diversas espécies deste animal apresentaram ao longo do tempo o surgimento das características citadas acima.

Ou seja, os primeiros dicynodontes – que viveram há até 270 MA – apresentavam dentes mais curtos, revestidos por esmalte, ao invés de dentina. Já espécies mais recentes destes animais, até 201 MA, apresentam as características de presas definidas pela pesquisa.

Estes animais bizarros com presas eram descendentes dos mamíferos

Os dicynodontes tinham aparências bastante bizarras para nossos padrões modernos. Estes animais tinham tamanhos bastante variáveis de espécie para espécie, com alguns tendo o tamanho de hipopótamos. Além do mais, esses bichos tinham um bico revestido por queratina associado às presas.

Contudo, por mais estranhos que pareçam, os dicynodontes eram mais próximos dos mamíferos do que dos dinossauros ou répteis. Segundo a pesquisa, por esse motivo, inclusive, as presas apenas aparecem nos mamíferos.

Para analisar as características da arcada dentária dos dicynodontes, por conseguinte, os pesquisadores realizaram análises de micro-tomografia nas presas de 19 espécimes de dicynodontes. Além disso, a análise ao microscópio também ajudou a caracterizar as variações na composição e estrutura das presas.

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Imagem: Ian Lindsay / Pixabay 

A dentina, como dito antes, foi um dos fatores determinantes da análise, aparecendo com mais predominância em dentes mais recentes destes animais. Isso acontece parcialmente porque o esmalte não consegue cobrir toda a extensão das presas de animais. Por esse motivo, estas estruturas precisam crescer indefinidamente.

Ademais, a equipe ainda observou uma convergência evolutiva no surgimento das presas. Ou seja, dentes mais longos e com menos esmalte apareceram independentemente mesmo em linhagens distantes dos dicynodontes.

“Eu meio que esperei que haveria um ponto na árvore genealógica onde todos os dicynodontes começaram a ter presas, então eu achei bastante chocante que nós na verdade vemos as presas evoluindo convergentemente.”, diz Whitney.

A pesquisa está disponível no periódico The Royal Society Publishing.

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