O rosto de Zuzu, um brasileiro de 9.600 anos de idade

Mateus Marchetto
Imagem: Moacir Elias Santos/Cícero Moraes

Especialistas acabam de reconstruir digitalmente o rosto de Zuzu, um habitante do Brasil que viveu há mais de 9.600 anos, onde hoje é o Piauí. O rosto do indivíduo foi ilustrado em uma animação gráfica, a partir de um fóssil descoberto no ano de 1997.

Muito antes o Brasil se construir como nação, as terras que compõem o país já eram habitadas por seres humanos. Os primeiros habitantes das Américas provavelmente migraram da Ásia ao longo de diversas gerações, até se estabelecerem na América do Norte, Central e do Sul.

O rosto de Zuzu representa o que seria a face de um integrante destes grupos de seres humanos que migraram para as Américas, especialmente no Brasil. O crânio de Zuzu foi descoberto em 1997, em um dos mais de 1.000 sítios arqueológicos do Parque Nacional Serra das Capivaras, no Piauí.

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Pintura rupestre no Parque Nacional Serra das Capivaras. Imagem: Autor desconhecido via Wikipedia Commons.

Os restos de Zuzu foram descobertos em posição fetal, onde provavelmente fora sua cova. Ademais, ainda não se sabe com certeza se Zuzu era um homem ou uma mulher.

Usando 57 imagens em diversos ângulos do crânio fossilizado, uma dupla de especialistas conseguiu reconstruir aproximadamente o que deve ter sido o rosto deste sul-americano milenar. O arqueólogo Moacir Elias Santos e o designer 3D Cicero Moraes publicaram, no dia 25 de janeiro, o artigo contendo os métodos e os resultados para o desenvolvimento da animação gráfica.

Além das imagens, a composição também contou com imagens de tomografia do rosto de voluntários, de forma a adicionar profundidade e marcas do rosto reconstruído. A cor da pele pode apenas ser estimada, e também há uma versão da reconstrução em escala de cinza.

Origem dos primeiros brasileiros e do rosto de Zuzu

Ao G1, Moacir Santos afirma: “(Eram) Caçadores coletores, que foram os primeiros que habitaram o território brasileiro. É um esqueleto muito especial, porque essa conservação de esqueletos antigos é muito difícil principalmente em um clima tropical como o nosso”.

Em climas úmidos e quentes, a decomposição dos tecidos tende a acontecer de forma muito mais acelerada. Isso, portanto, dificulta profundamente a preservação de fósseis em regiões tropicais.

Como dito antes, os primeiros colonizadores das Américas provavelmente vieram da Ásia, cruzando uma região congelada entre o Canadá e a Rússia. Provavelmente os primeiros povos indígenas americanos derivaram de grupos da Mongólia, migrando progressivamente da América do Norte para o Sul.

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Imagem: Moacir Elias Santos e Cícero Moraes, 2023.

Ao G1, Moacir ressalta que há muitos traços faciais em comum ao longo das Américas: “Traços que são conservados inclusive entre os grupos indígenas atuais. Se a gente observar bem, as nossas populações indígenas são muito parecidas com populações que nós tínhamos no México, no território onde hoje é os Estados Unidos”, explica Moacir.

Segundo os autores, a reconstrução é importante para compreender as origens dos povos originários brasileiros e sul-americanos. Além disso, de acordo com os especialistas, a reconstrução é uma forma de trazer esses povos para mais perto do público, de trazer sua vida para o presente.

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