O bravo resgate da estação espacial soviética Salyut 7

Felipe Miranda
A Soyuz T-13 se afasta e fotografa outra nave acoplada na Salyut 7. (Créditos da imagem: Reprodução).

Se você nunca assistiu o filme que leva o nome da estação,  Salyut 7, vale muito a pena. Dois bravos cosmonautas russos conseguiram, após desafiar a morte diversas vezes e praticamente sem nada de recursos, salvar uma estação espacial completamente descontrolada na órbita da Terra – hoje uma história pouco conhecida e pouco contada.

Após os americanos chegarem à Lua, a Corrida Espacial teve novos desdobramentos, já que agora não havia sentido em gastar dinheiro para ir à Lua, no contexto dos soviéticos. Um dos caminhos da Corrida Espacial. Embora conheçamos, apenas a ISS. existiram mais de uma dezena de estações espaciais, a maioria delas, soviéticas.

A Salyut 7 foi a última estação do programa russo Salyut, lançada em abril de 1982. A Salyut 7 era, na verdade, um backup da Salyut 6 – e realmente muito parecida com a sua antecessora. Simplesmente um “tapa buraco”, ela substituía a Mir, que enfrentava diversos atrasos. 

Em 1985, o sistema elétrico da Salyut 7 teve um problema: a energia caiu (por segurança), devido a um surto de corrente; Quando o próximo turno de controladores entrou, sem aguardar os especialistas, resolveram reativar o sistema primário de rádio da estação. No entanto, isso gerou novos curto circuitos, e logo a estação ficou em silêncio completo – e uma reativação a partir da Terra não era mais possível.

Dessa forma, a Salyut 7 se descontrolou, perdeu seu sistema de aquecimento, e caía lentamente em direção à Terra. Uma missão de resgate seria perigosa, mas a finalização da avançada estação espacial Mir ainda demoraria. Além disso, uma série de fracassos anteriores aterrorizava aos russos. Então não lhes restava outra saída.

Escolha difícil

Vladimir Dzhanibekov sabia como acoplar a nave manualmente na estação. Embora os soviéticos fizessem acoplamentos automáticos, Dzhanibekov acoplara manualmente algum tempo antes, na Salyut 7 em pleno funcionamento. Mas acoplar em uma estação descontrolada era novidade. O cosmonauta Viktor Savinykh o acompanhou na missão quase suicida.

2dc6d4328546f1f93d81708088d4eb07
A dupla de cosmonautas. (Reprodução).

Após um extensivo treino, finalmente, em 6 de junho de 1985, a dupla de cosmonautas foi ao espaço, à bordo da Soyuz T-13. O início da missão foi um sucesso. Dzhanibekov acoplou a nave à estação descontrolada. Portanto, as manutenções enfim de iniciariam. Mas se não fosse possível salvar a estação, os cosmonautas deveriam voltar para a Terra.

Missão impossível: kamikazes espaciais

6c6edb32cb7b325f4596e47831f057d6
Fotografia da Salyut 7 feita por uma das câmeras da Soyuz, que transmitia tudo para o solo. (Reprodução).

Sem eletricidade para lhes aquecer, os cosmonautas vestiram seus casacos de inverno – a temperatura era negativa e o gelo se acumulava por diversos pontos, além do próprio suprimento de água. O único ponto positivo era que o ar da estação ainda estava respirável. 

Com algumas baterias operáveis, a dupla alinhou a estação ao Sol para que os painéis solares funcionassem novamente. Para utilizar as baterias, o comando em solo bolou um plano de testagem. Se os cosmonautas utilizassem as baterias da Soyuz, correriam o risco de um curto circuito inutilizá-las. Isso os prenderiam no espaço. Felizmente, então, seis baterias da estação funcionavam.

Dessa forma, os cosmonautas restabeleceram os sistemas vitais da estação, como a reciclagem de ar, iluminação, ventilação. Falando assim parece fácil, mas já se passaram 7 dias de um exaustivo trabalho com racionamento de água e alimentos. No sétimo dia, eles restabeleceram o controle de acoplamento automático, pois somente assim receberiam recursos do solo. Logo, uma carga com água, comida e ferramentas chegou e a missão continuaria por muito tempo.

No total, Dzhanibekov permaneceu na estação por 110 dias, e se aposentou após a missão. Savinykh passou quase dois meses a mais, totalizando 168 dias na estação. Salyut 7 permaneceu em operação por mais alguns anos e apenas em 7 de fevereiro de 1991, reentrou na atmosfera.

Vale lembrar que este é apenas um resumo, que faz tudo parecer fácil – mas foi uma complexa e quase suicida missão. Este texto, com três páginas, do engenheiro aeroespacial Nickolai Belakovski, publicado na Ars Technica, carrega muito mais detalhes da história.

Com informações de Astronomy e Ars Technica

Compartilhar