Novo método permite transplante com corações de “defuntos”

Os corações são reanimados após a morte circulatória.

Felipe Miranda
Imagem: Shawn Rocco/Duke Health

O transplante de corações reanimados pode parecer algo extremamente futurista e utópico, mas tem se tornado realidade conforme a tecnologia na área de medicina avança a largos passos. Geralmente, os corações transplantados são oriundos de doadores vitimados pela morte cerebral (quando a atividade cerebral para totalmente, mas alguns órgãos continuam funcionando por um determinado tempo).

Como acontece a doação de órgãos?

A doação após a morte circulatória (DMC) já ocorre, mas com outros órgãos, como os rins. Entretanto, isso não ocorre com os corações. Alguns pesquisadores da Duke Health defendem que se a doação após a morte circulatória for aplicada também ao coração, pode expandir em até 30% a disponibilidade de doações do órgão, além de dar novas chances de vida a muito mais pacientes.

“Honestamente, se pudéssemos estalar os dedos e apenas fazer com que as pessoas usassem isso, acho que provavelmente subiria ainda mais do que isso”, disse à Associated Press o cirurgião de transplantes Dr. Jacob Schroder, da Escola de Medicina da Universidade Duke, que liderou a pesquisa. “Isso realmente deveria ser padrão de atendimento.”

Geralmente, a doação de órgãos ocorre após a morte cerebral, já que a pessoa é dada como morta, pois toda a sua função cerebral acaba. Entretanto, por algum tempo, o corpo continua a bombear sangue, e alguns equipamentos podem ajudar o batimento e a respiração continuar até que seja feita a retirada e conservação desses órgãos.

No entanto, a doação após morte circulatória ocorre quando, por exemplo, um paciente que perdeu parte de suas funções cerebrais tem seus aparelhos desligados por sua família, cessando sua respiração e batimento cardíacos. Alguns órgãos são doados após a perda de circulação, mas o coração é deixado para trás pelo medo dos médicos com o dano cardíaco.

O transplante de corações reanimados

Conforme os especialistas defendem, porém, não precisam ser bombeados e oxigenados dentro do corpo humano, mas equipamentos que os reanimam de maneira artificial, com bombeamento de sangue, e nutrientes transportados. Assim, não só se pode conservar o coração, mas testar seu funcionamento antes do transplante, tornando o transplante de corações reanimados uma possibilidade bastante viável.

“Deveria ser padrão de atendimento, honestamente”, disse Schroder ao CBS News, “e todos os centros de transplante do país deveriam considerar usar isso”.

Para a conclusão da viabilidade do transplante de corações reanimados, os pesquisadores selecionaram aleatoriamente 180 pacientes, dos quais receberam tanto a doação de corações após a morte cerebral do doador, quanto a de corações reanimados.

De todos os corações coletados de mortes circulatória, 90% dos órgãos ainda puderam ser usados. Além disso, após seis meses, conforme a equipe, os pacientes que receberam doações após morte cerebral e de doações após morte circulatória tinham a mesma probabilidade de estar vivos.

Após retirar os corações dos pacientes, um marca-passo inicia os batimentos do coração e uma máquina o enche de sangue para que possa bombear novamente. Nesse momento, o coração não envelhece, como quando está sem circulação, que rapidamente envelhece e pode ser seriamente danificado.

Segundo o CBS, no ano passado, nos Estados Unidos, houve 345 procedimentos de doações após morte circulatória. No entanto, número representou apenas 8% dos mais de 4 mil transplantes de coração e pulmão realizados em 2022 no país.

“Acho que é seguro dizer que o número desses transplantes cardíacos tem aumentado, e essa tendência deve continuar, especialmente agora que este estudo está disponibilizando dados de resultados”, disse à CNN Anne Paschke, porta-voz da UNOS.

Agora, apenas o futuro dirá se o método cumprirá o que promete.

“Acho que muitos programas… estão esperando para ver esses dados para ter certeza de que haverá um aumento significativo no transplante se investirem em toda a infraestrutura necessária”, disse a Dra. Nancy Sweitzer, diretora médica de pesquisa clínica da Divisão de Cardiologia da Escola de Medicina da Universidade de Washington.

Compartilhar