Narval solitário adotado por belugas poderia produzir ‘narlugas’

Letícia Silva Jordão
Imagem: GREMM

O Narval solitário foi descoberto pela primeira vez por uma equipe de cientistas do Grupo de Pesquisa e Educação em Mamíferos Marinhos enquanto eles utilizavam um drone para estudar os comportamentos sociais de baleias belugas.

Na ocasião, eles perceberam que o grupo de belugas havia adotado um narval macho solitário no rio St. Lawrence, no Canadá. Desde então, os cientistas vem rastreando o narval que hoje está com cerca de 12 anos, idade próxima da maturidade sexual.

Isso faz com que os cientistas observem ainda mais de perto as interações entre o narval e as baleias belugas, para ver se o animal marinho adotado vai acasalar com uma fêmea beluga e produzir um híbrido conhecido como “narluga”.

Interação das belugas com o narval solitário intriga cientistas

As baleias belugas e os narvais pertencem à mesma família de cetáceos, chamada Monodontidae, que costuma flutuar pelo Oceano Ártico. Porém, as belugas têm o costume de migrar para a região sul quando o inverno aparece, enquanto que os narvais permanecem no Ártico, ficando até cinco meses sob águas cobertas de gelo.

beluga baleia
Uma beluga. Imagem: Pixabay

Como é raro ver as duas espécies interagindo na natureza, os pesquisadores estão surpresos em ver que o grupo de belugas adotou o narval e deixou que ele se juntasse na sua viagem. Segundo a ecologista comportamental, Erica Siracusa, é possível que o narval tenha se unido ao grupo como forma de se proteger contra predadores.

Além disso, a mudança no clima também pode ter influenciado uma interação maior entre as duas espécies, que são criaturas sociais, segundo relatou Brigit Katz para o Smithsonian.

Animais híbridos de narluga

Ao longo do tempo, os cientistas especularam que os híbridos de narluga realmente existiam, até que em 2019 uma análise de DNA de um crânio pôde confirmar a sua existência. O crânio, encontrado por um caçador, difere dos crânios das belugas e dos narvais.

narval o unicórnio marinho
Narval. Imagem: Smithsonian National Museum of Natural History

Ele possuía mini presas na mandíbula superior e dentes inferiores em forma de saca-rolhas. Seu DNA, junto com análises químicas, mostraram que ele pertencia a um híbrido de narluga de primeira geração.

Porém, os cientistas não sabem se esse narluga encontrado chegou a procriar. Quando o assunto são espécies híbridas, existem algumas combinações que geram animais inférteis, como é o caso das mulas.

Mas, mesmo que as chances de gerar um animal infértil sejam grandes, os pesquisadores ainda acreditam que o narval solitário possa procriar com uma fêmea beluga. Os cientistas já viram muitas interações sociais e sexuais nas duas espécies.

Para que o narval solitário consiga procriar no grupo, ele precisará ser aceito pelos outros machos beluga para formar uma aliança e assim se aproximar e cortejar as baleias fêmeas. Se ele obtiver sucesso, os cientistas precisarão esperar que o filhote cresça para poder diferenciá-lo dos outros filhotes de beluga.

Quanto a isso, os pesquisadores estão muito animados com essa possibilidade. Robert Michaud, presidente e diretor científico do GREMM disse que “é divertido, intrigante, mas também é uma informação muito poderosa e útil para rastrearmos a vida deste narval entre as belugas. Se ele estiver bem, ele pode ficar aqui pelos próximos 40 anos — eles vivem até 60, 80 anos.”

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