Maior lago do planeta cobria 2,8 milhões de quilômetros quadrados

O gigantesco Lago Paratethys moldou a Eurásia.

Elisson Amboni
Imagem: Dan Palcu/Natural Earth

Imagine um lago colossal com 2,8 milhões de quilômetros quadrados, maior que o Mar Mediterrâneo e abrangendo territórios da atual Áustria ao Turcomenistão. Este impressionante corpo d’água foi o Lago Paratethys que, após existir por milhões de anos na Eurásia, ainda é considerado o maior lago já registrado no planeta Terra.

Formado pela elevação dos Alpes e Cárpatos, Paratethys se conectava ao Mar Mediterrâneo por meio de uma bacia. Cerca de 12 milhões de anos atrás, uma colisão tectônica fechou essa conexão e o imenso mar tornou-se um lago, contendo 1,77 milhão de quilômetros cúbicos de água, dez vezes mais do que todos os lagos atuais juntos.

Apesar de sua vastidão, Paratethys era surpreendentemente raso e abrigava apenas metade da água do Mediterrâneo. Sua separação do mar interrompeu o fluxo de água doce dos rios europeus, o que levou a mudanças na flora e fauna, com espécies marinhas diversificadas sendo substituídas por espécies de água doce menos variadas.

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O Lago Paratethys em sua maior (contorno azul) e menor (contorno vermelho) extensão, com as massas terrestres configuradas como eram naquela época. Imagem: DV Palcu et al., Scientific Reports, 2021

Paratethys também afetou significativamente o clima eurasiático, estabilizando as temperaturas sazonais graças à umidade que gerava. No entanto, um período de “secagem extrema” fez com que a chuva cessasse na região, levando à evaporação das águas do lago sem reposição pela precipitação.

Entre 9,8 e 7,7 milhões de anos atrás, a Grande Seca Khersoniana reduziu os níveis de água em 250 metros, fazendo com que o lago perdesse 70% de sua superfície e 30% de seu volume, chegando ao tamanho atual do Mar Negro.

Espécies como golfinhos, focas e a menor baleia do mundo (Cetotherium riabinini) não resistiram às águas cada vez menores. Outras espécies, que dependiam do lago para sobreviver, migraram para a África e evoluíram para girafas e elefantes, como conhecemos hoje.

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Um Cetotherium riabinini comparado a um humano. Imagem: Gol’Din and Lena Godlevska/Wikimedia Commons/University of Utrecht

O encolhimento afetou o clima eurasiático, trazendo invernos mais frios e verões mais quentes. Paratethys continuou a encolher, dando origem a três regiões distintas: o Mar Negro, o Mar Cáspio e o Mar de Aral, que atualmente sofre com a atividade humana.

Esta história fascinante e emocionante do Lago Paratethys ilustra como a natureza e as mudanças climáticas afetaram a vida e o ecossistema do nosso planeta ao longo dos milênios.

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