Primatas carregam seus filhotes mortos muito frequentemente, mostra pesquisa

Mateus Marchetto
Imagem: minka2507 / Pixabay

Primatas frequentemente podem ter comportamentos bizarros em relação à morte e seus filhotes. Macacos capuchinhos, por exemplo, foram recentemente vistos matando e canibalizando um filhote, bem como chimpanzés. Uma nova pesquisa agora mostra que primatas carregam seus filhotes mortos de forma bastante frequente, por vários dias.

Há muitos anos pesquisadores já observam mães primatas carregando seus filhotes após a morte. A pesquisa, publicada no periódico The Royal Society Publishing B, buscou então registrar e criar uma base de dados mais robusta sobre a interação de diversas espécies de macacos com seus filhotes mortos.

Para tanto os pesquisadores revisaram pesquisas envolvendo mais de 50 espécies de primatas e 409 casos de macacos carregando seus filhotes mortos. Acontece que 80% das espécies comumente carregavam seus filhotes após a morte.

Além de descobrirem que o comportamento de relação com filhotes mortos é muito frequente, a equipe também mostrou que a relação pode depender da idade do filhote, da mãe e da forma como o filhote morreu.

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Imagem: Andrea Tóth / Pixabay 

Por exemplo, mães mais jovens que tiveram menos contato com a morte tendem a carregar seus filhotes por mais tempo, por dias ou semanas. Quando o filhote morre, ademais, por causas menos evidentes – como doenças infecciosas – o tempo de carregamento do filhote morto também aumenta.

A pesquisa mostrou, inclusive, que este tipo de comportamento já vem sendo registrado cientificamente há pelo menos 105 anos. Uma pesquisa, portanto, do periódico  Journal of Animal Behavior registra um caso de uma mãe carregando o filhote morto em 1915.

Além de carregar, ademais, primatas podem ter vários tipos de interação com a carcaça de um filhote. As mães tendem, por exemplo, a continuar limpando o pelo do animal e tentar alimentá-lo. Em alguns casos a carcaça acaba canibalizada, aliás.

A maior base de dados de interações de primatas com filhotes mortos

A primeira vista, o feito da equipe de pesquisadores pode parecer irrelevante. Contudo, este tipo de interação com filhotes mortos mostra uma das características mais essenciais das sociedades humanas: o luto.

A relação social com membros de um mesmo grupo foi algo imprescindível na evolução humana. Isso permitiu que nossa espécie desenvolvesse laços importantes e se agrupasse mais facilmente em comunidades.

O que a nova pesquisa indica é que este tipo de comportamento – conquanto de forma mais primitiva – já estava presente em nossos ancestrais primatas, teoricamente. A pesquisa, aliás, também analisou espécies de lêmures, mostrando que o comportamento de carregar os filhotes mortos já não era tão comum nestes animais.

Acontece que os lêmures se separaram, evolutivamente, dos demais macacos há pelo menos 60 milhões de anos, e provavelmente não evoluíram o luto como chimpanzés e gorilas. Ainda assim os lêmures mostram sinais de dor e perda quando há a morte de um dos membros do bando, especialmente filhotes.

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Imagem: Alexas_Fotos / Pixabay

Em alguns dos casos mais extremos, como uma fêmea de macaca tonkeana em 2017, as mães carregavam e continuavam cuidando de seus filhotes mesmo depois de 4 ou 5 semanas após a morte.

Os autores afirmam que mesmo com todos os dados, mais evidências são necessárias antes de conclusões. Todavia, esse comportamento tão frequente mostra que esta pode ser uma forma dos primatas aliviarem o sofrimento pela perda.

A pesquisa está disponível no periódico The Royal Society Publishing B.

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