Hipótese da avó: o provável importante papel das avós na evolução humana

Felipe Miranda
(Pixabay).

Pouquíssimos animais experimentam a menopausa. Até pouco tempo atrás, conhecíamos três. Mas recentemente, outros dois entraram para a lista. São esses cinco os animais que enfrentam a menopausa: os humanos, a beluga, o narval, a orca e a baleia-piloto. Note que de todos, apenas os humanos vivem em solo. E a evolução é, não intencionalmente, muito inteligente. Ou seja, se algo foi selecionado, provavelmente apresenta alguma característica positiva – as avós na evolução humana.

Nos anos 1960, o biólogo evolucionista William Hamilton propôs em um artigo a ideia de que a menopausa surgiu, para o caso dos humanos, como uma adaptação evolutiva relacionada ao sucesso da reprodução humana. Então, novos pesquisadores se inspiraram, e nos anos 1980 e 1990, a antropóloga Kristen Hawkes passou a coletar inúmeros dados que corroboram a “Hipótese da avó”.

Você já notou que diferente dos humanos, a maior parte dos animais torna-se independente dos pais rapidamente? Os humanos são completamente frágeis, e não nascem exatamente prontos para viver. No entanto, mesmo com tamanha fragilidade, e uma alta taxa de mortalidade infantil nos primórdios da humanidade permitiram um sucesso evolucionário da humanidade. É agora que entram as queridas vovós. 

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Qual, afinal, o papel das avós na evolução humana?

Hawkes passou a correlacionar sua pesquisa de campo com as avós quando estudava um grupo de caçadores-coletores da Tanzânia, na África. Ela notou que as avós desses grupos que viviam de formas mais rudimentares exerciam um papel crucial na alimentação e criação das numerosas crianças. Quando a mãe tinha um novo filho, precisava voltar sua atenção para ele, e as avós assumiam boa parte do trabalho com as crianças maiores.

Pelo menos nos primórdios da humanidade, antes das grandes cidades e produção em escada de alimentos, as mães não dariam conta de reproduzir muito, mesmo com ajuda dos pais. O cérebro humano custa muito, e é difícil se desenvolver bem. Nosso cérebro nos permitiu chegar até aqui, mas quase causou nossa extinção pelo custo energético e pela dificuldade nos partos, aliado ao bipedismo.

Então, enquanto as avós cuidavam das crianças maiores, as mães voltavam suas energias em reproduzir mais. Dessa forma, mais crianças nasciam e havia um bom sucesso reprodutivo. Como as famílias onde as avós ajudavam reproduziam melhor, a prática acabou selecionada geneticamente, com o passar dos milhares de anos de evolução. 

Dessa forma, a longevidade tornou-se uma característica importante. Após a menopausa, as mulheres não reproduzem mais. Portanto, não possuem crianças pequenas para cuidar e podem ajudar as mulheres mais jovens a cuidar de seus filhos. É assim, então, que possivelmente a evolução originou a menopausa e privilegiou a longevidade.

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Questionamentos

Um dos principais questionamentos da ideia do papel das avós na evolução humana é a expectativa de vida. Muitos argumentam que antes da revolução industrial, a expectativa de vida ficava em torno dos 35 anos na Europa. No entanto, isso pode ser uma leitura estatística errônea. Acontece que antes da revolução industrial, a mortalidade infantil era enorme, contaminando a longevidade média. Mas as pessoas envelheciam mais do que os 35 anos. 

Há, ainda, outros inúmeros questionamentos, como os problemas de saúde que surgem com a menopausa e o fato de que outros parentes, além dos homossexuais, que não reproduzem, poderiam exercer esses importantes papéis “adotivos”. Embora a hipótese da avó tenha bastante sentido no âmbito antropológico, faltam evidências para se afirmar se a menopausa é um fenômeno recente ou antigo. Essa seria a principal chave para buscar uma resolução biológica para a questão.

Com informações de Smithsonian Magazine  BLELL, Mwenza

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