Formação de RNA em vidro vulcânico poderia explicar a origem da vida

Dominic Albuquerque
Imagem: Olga Danylenko/Shutterstock.com

O RNA pode se formar espontaneamente quando as moléculas componentes são filtradas em vidro basáltico, e isso poderia explicar a origem da vida na Terra — e nos apontar onde procurá-la em outros planetas, de acordo com uma nova pesquisa.

Os pesquisadores admitem que a descoberta não dá todas as respostas, mas argumentam que ela fornece uma resposta simples e clara a uma das maiores questões da ciência.

A teoria evolucionária e a genética se combinam para explicar como as formas mais simples de vida poderiam ter evoluído até formar o mundo que conhecemos hoje. Contudo, elas não responderam como essas primeiras formas de vida apareceram, algo difícil de se compreender.

Os nucleotídeos que formam a base do DNA e RNA já foram encontrados em meteoritos, mas explicar como eles se formaram é uma tarefa bem mais difícil. Um artigo na revista Astrobiology afirma preencher as lacunas que faltam, demonstrando que o vidro basáltico faz os nucleosídeos de trifosfatos se unirem para formar cadeias de RNA.

A Terra tinha uma quantidade significativa de vidro basáltico quando a vida surgiu. “Por várias centenas de milhões de anos após a formação da Lua, impactos frequentes juntos ao vulcanismo abundante no planeta jovem formaram lava basáltica derretida, a fonte do vidro basáltico”, disse o coautor Stephen Mojzsis, professor na Universidade do Colorado, numa declaração. “Os impactos também teriam feito a água evaporar e originado terra seca, fornecendo aquíferos onde o RNA poderia ter se formado”.

Os autores demonstraram uma taxa de síntese impressionante para moléculas de RNA de 90-150 nucleotídeos de comprimento a 25º C (77º F) e um pH de 7,5, com alguns comprimentos atingindo 300 nucleotídeos.

Com a quantidade suficiente de matéria-prima, “uma pequena região de impacto na superfície hadeana contendo apenas algumas toneladas métricas de vidro fraturado e permeado de água poderia ter a capacidade de produzir cerca de um grama de RNA por dia”, escrevem os autores.

Enquanto isso, evidências acerca da presença de bases de nucleotídeos em certos meteoritos continuam a crescer, sugerindo que eles poderiam ter chegado á Terra vindos do espaço. Essas bases se transformam em nucleosídeos em atmosferas reduzidas, como a que existia na Terra após o impacto dos asteroides.

Os membros da equipe já tinham demonstrado anteriormente que o níquel, abundante em alguns meteoritos, catalisa os nucleosídeos e o fosfato a formarem trifosfatos.

O RNA e a origem da vida

Contudo, isso ainda deixa em aberto a questão de se essas moléculas de RNA eram o suficiente para originar a vida. Os biólogos já postularam há tempos a ideia de um “Mundo de RNA”, onde o RNA teria precedido o DNA e as proteínas que ele forma.

Permanece ainda o quanto o RNA precisa antes de sustentar uma evolução darwiniana, com estimativas variando entre 50 e 5.000 nucleotídeos. Mesmo que o mínimo fosse maior que as cadeias demonstradas aqui, é fácil imaginar circunstâncias um pouco diferentes que poderiam originar cadeias mais longas.

Se o artigo estiver correto, devemos agradecimentos ao basalto pela nossa existência. Outros materiais presentes na Terra primitiva, como o quartzo, não fazem os nucleotídeos se ligarem da mesma maneira.

Marte era igualmente rico em vidro basáltico no período equivalente da história dos dois planetas. E diferentemente da Terra, muito dele permanece próximo à superfície, disponível para avaliação em missões futuras.

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