Fata Morgana: o efeito que faz barcos voarem no mar

Felipe Miranda
O efeito da Fata Morgana. Imagem: Timpaananen / Wikimedia Commons

Fata Morgana vem do italiano Fada Morgana. Trata-se de uma feiticeira fictícia, supostamente uma sacerdotisa da Ilha de Avalon, na Bretanha e meia-irmã do lendário Rei Arthur. O efeito leva o nome dela pois, segundo as histórias, Morgana podia utilizar seus poderes para criar imagens de castelos flutuando e enfeitiçar marinheiros. Da mesma forma, este efeito é óptico, e causa “aparições fantasmas” no horizonte. Bom, é claro que possivelmente a magia de Morgana também relacionava-se a efeitos óticos.

Veja, no vídeo abaixo, um barco voando no horizonte. Mas fique tranquilo, não é um barco fantasma. Não tenha medo do Holandês Voador. Trata-se, então, simplesmente de um fenômeno ótico causado pela distorção da luz na atmosfera

Observações da Fata Morgana

Um caso curioso, conforme relatado pela revista Wired, ocorreu uma vez com um um padre jesuíta olhando para o mar, no estreito de Messina (local famoso pelos avistamentos impossíveis), na Itália. Ele viu, em suas palavras, “uma cidade toda flutuando no ar, e tão imensurável e tão esplêndida, tão adornada com edifícios magníficos, todos os quais foram encontrados na base de um cristal luminoso”. Depois, a cidade ainda se transformou em um jardim, uma floresta e depois em uma guerra. 

Ele deve ter ficado com medo do que coloram em seu chá. Seria natural que o padre Giardina pensasse ser alguma visão divina – uma espécie de premonição, ou talvez a linha temporal do local. Mas ele e outros religiosos jesuítas enxergaram ciência no fenômeno pela primeira vez. Ele errou, mas tentou se aproximar da verdade. O padre pensou ser um efeito reflexivo pelos sais que evaporavam acima do mar – como um espelho.

Desde sempre a humanidade fascinou-se com o fenômeno. Não só o padre, como diversos outros estudiosos italianos tentaram explicá-lo de alguma forma. Relatos são diversos. O fenômeno se encontra, ainda, na cultura popular e na arte. Um exemplo é a obra de Prokofiev. A sua ópera The Love for Three Oranges inclui uma maldição de Fata Morgana. 

Na verdade, o padre não errou completamente. Ele acertou quando referiu-se aos dias quentes acima do mar. 

O que acontece?

Imagine um dia muito quente. O ar fica bastante abafado, correto? Mas próximo ao oceano ele esfria um pouco. Isso ocorre pois a água absorve o calor do ar. Como resultado, há um gradiente, um degradê de temperaturas. Próximo a água, o ar permanece mais frio. Mas conforme se distancia da água, permanece gradativamente mais quente. 

Além da água ajudar a resfriar o ar, há outro fenômeno que ajuda ainda mais nessa separação de temperatura. Você se lembra das aulas de termodinâmica, no ensino médio? Bom, se não, aqui vai um lembrete rápido. Quando algo aquece, suas moléculas se agitam mais. Como resultado, sua densidade cai, já que uma massa x ocupará um espaço maior.

Note que quando você esquenta água em uma panela, antes mesmo da fervura a água se move. Isso ocorre pela convecção térmica. A água mais próxima do inferior do caneco esquenta e sobe. Ao subir e encontrar a atmosfera, então, esfria. Quando esfria, sua densidade aumenta novamente, e ela volta para o fundo do caneco.

Com o ar há a mesma coisa, só que não com tanta movimentação. Consideremos que simplesmente o ar mais quente permanece no alto e o ar mais frio permanece próximo à superfície, simplesmente por sua densidade. Ah, e isso não ocorre apenas no mar. Ocorre em qualquer local com um distante horizonte.

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(Wikimedia Commons).

Quando a luz passa por essas camadas de ar com diferentes temperaturas, há uma refração, ou seja, a luz faz diversos caminhos em diversos ângulos diferentes. Dessa forma, até chegar aos nossos olhos, então, ela se distorceu muito, e a imagem parece diferente do que realmente é, no caso dos horizontes distantes.

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