Este sapo fica praticamente invisível ao dormir

Mateus Marchetto
Imagem: Jesse Delia via AMNH

A transparência é um fenômeno comum em águas vivas e peixes de altas profundidades, mas não em organismos terrestres. Surpreendentemente, pesquisadores acabam de descobrir um sapo que fica invisível ao dormir. De acordo com o estudo, o animal consegue estocar 89% de seu sangue no fígado, o que aumenta a transparência do corpo.

Águas-vivas, vale ressaltar, não possuem células sanguíneas pigmentadas, como os eritrócitos dos vertebrados. Portanto, a transparência destes animais é muito facilitada, uma vez que não há cores para esconder.

“A transparência é tanto rara quando muito difícil de se fazer, porque nossos tecidos estão cheios de coisas que absorvem e espalham luz,” diz a coautora Jesse Delia ao National Geographic. “Células vermelhas do sangue podem também absorver muita luz.”

Sapos, nesse sentido, possuem células vermelhas com pigmentos que participam do transporte de oxigênio e gás carbônico. Conhecidamente, os sapos da família Centrolenidae são translúcidos e por esse motivo recebem o apelido de glassfrogs. Agora, no entanto, pesquisadores descobriram os mecanismos fisiológicos que deixam o sapo Hyalinobatrachium fleishmanni invisível ao dormir.

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Imagem: Jesse Delia via EurekAlert

De acordo com o artigo, publicado no periódico Science, quando os glassfrogs dormem, o sangue fica majoritariamente estocado no fígado. Além do mais, os principais órgãos estão em uma bolsa interna que aumenta a translucidez dos tecidos. Como mostra a pesquisa, quando os sapos estão dormindo, o fígado aumenta em até 40% o seu volume, de modo a acumular as células do sangue.

Isso é bastante curioso, segundo os autores, uma vez que células sanguíneas tendem a coagular quando estão muito aglomeradas em um determinado tecido.

Invisível ao dormir, mas não anestesiado

Para avaliar a transparência dos animais, a equipe precisou utilizar a técnica de imagem chamada microscopia fotoacústica. A técnica consiste em expor o sapo a um laser e registrar os sinais acústicos recebidos das moléculas do animal. Isso porque, ao receber luz, as moléculas também liberam energia em ondas sonoras.

Essa técnica foi necessária pois sapos anestesiados não apresentaram a transparência característica do sono. Isso porque o estresse da anestesia evita o recolhimento das células sanguíneas no fígado, deixando o animal plenamente visível.

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Imagem: Junjie Yao, Duke University

Os pesquisadores também analisaram animais acordados, em períodos de recuperação de atividades físicas e reprodução, por exemplo. Contudo, o período do sono foi o mais significativo para a transparência dos animais.

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