Algas injetadas no sangue de sapos podem ajudá-los a respirar, sugere pesquisa

Mateus Marchetto
Imagem: Rudy and Peter Skitterians / Pixabay

Uma das principais funções da circulação sanguínea é oxigenação das células do corpo, que individualmente precisam de oxigênio. Contudo, quando a circulação de oxigênio é interrompida, é muito difícil retomar os níveis saudáveis para as células, especialmente do sistema nervoso. Acontece que cientistas usaram algas injetadas no sangue de girinos para oxigenar os cérebros dos animais – e alguns neurônios até voltaram à vida.

Tudo começou com pesquisadores se perguntando se animais poderiam, de alguma forma se aproveitar dos produtos da fotossíntese de algas. Até aí, nada de novo, já que lesmas, corais e diversos organismos se associam com algas para utilizar o oxigênio delas.

Assim, como mostra a pesquisa publicada no periódico iScience, uma equipe de cientistas resolveu injetar algas (Chlamydomonas renhardtii) e cianobactérias (Synechocystis) no sangue de girinos. A ideia era ver se os animais poderiam utilizar o oxigênio da fotossíntese das algas de alguma forma.

No vídeo abaixo é possível conferir o momento em que a equipe de pesquisadores injeta uma solução de algas unicelulares diretamente no coração de um girino da espécie Xenopus laevis.

Quando os pesquisadores cortaram o suprimento de oxigênio dos girinos, no entanto, as algas conseguiram oxigenar de forma altamente eficiente as células nervosas dos anfíbios, usando apenas luz. Algumas regiões do cérebro até foram reativadas pela carga de oxigênio fornecida pelas algas.

Em termos gerais, as algas injetadas no sangue dos bichos puderam fornecer oxigênio para os tecidos e até mesmo trazer algumas células de volta à vida.

Teremos um dia algas injetadas no sangue humano?

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Algas são um grupo altamente diverso de organismos. Alguns são pluricelulares e alguns são unicelulares (como o da pesquisa). A grande maioria é fotossintetizante. Imagem: djedj / Pixabay 

Como os autores afirmam, é preciso ter cautela com extrapolações dos resultados. Todavia, o experimento mostra um potencial bastante interessante de que as algas mantenham tecidos animais vivos. A oxigenação pelas algas, por exemplo, foi em torno de duas vezes mais rápida do que simplesmente colocar oxigênio de volta no meio.

Em uma primeira instância, os pesquisadores acreditam que a descoberta pode futuramente auxiliar em pesquisas com animais, aumentando o tempo de vida útil dos tecidos nervosos.

Pesquisas com organóides (pequenos órgãos artificiais) e tecidos isolados também podem acabar beneficiadas. Isso porque esse tipo de material isolado não tem a oxigenação vinda do sistema circulatório, o que dificulta bastante o cultivo de células.

Em um horizonte mais distante, esses pequenos organismos verdes fotossintetizantes podem fornecer novos tratamentos para doenças relacionadas à falta de oxigênio nos tecidos. O infarto do miocárdio, por exemplo, acontece pela falta de oxigênio no tecido cardíaco.

Nesse sentido, as algas poderiam talvez recuperar células nervosas danificadas e de quebra evitar muitas sequelas em pacientes do tipo. Contudo, isso é só teoria. Até porque existe um problema essencial em algas injetadas no sangue humano: o sistema imunológico.

Nosso sistema imune é muito mais seletivo do que o do girinos, e milhões de células estranhas na corrente sanguínea certamente iriam desencadear uma resposta inflamatória extrema, se não letal. Ainda assim, não há problema em imaginar.

A pesquisa está disponível no periódico iScience.

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