Se esta primavera está quente, imagine só um planeta onde as rochas vaporizam na atmosfera. A lava é, basicamente, rocha derretida – e já é extremamente quente. Uma atmosfera de vapor de rochas já é outro nível, completamente inconcebível para a imaginação humana.
Os cientistas descobriram o exoplaneta K2-141b em 2017, orbitando uma anã laranja a uma distância extremamente pequena – ele dá uma volta em torno de sua estrela a cada 6,7 horas. Além disso, o extremo calor por lá leva os cientistas a acreditar que, possivelmente, um lado do planeta permanece iluminado de forma permanente, assim como a Lua mantém sempre a mesma face voltada para a Terra, pela sincronia na rotação e translação.
A equipe, formada por cientistas da McGill University, York University e do Indian Institute of Science Education descrevem o estudo em um artigo do dia 3 de novembro no periódico britânico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
“O estudo é o primeiro a fazer previsões sobre as condições meteorológicas em K2-141b que podem ser detectadas a centenas de anos-luz de distância com telescópios de última geração, como o Telescópio Espacial James Webb”, explica em um comunicado Giang Nguyen, estudante de doutorado pela York University e autor principal do estudo.
Atmosfera de vapor de rochas e um show de bizarrices
O frio e o calor reinam por lá. Dois terços do planeta enfrenta o dia eterno, com temperaturas de cerca de 3 mil graus Celsius. No entanto, o lado escuro do planeta esfria muito, com temperaturas abaixo dos -200° C. A temperatura mais baixa possível em qualquer ponto do universo é o zero absoluto (273,15° C) – e esse planeta naturalmente chega perto.
O show de bizarrices vai além. Como a rocha evaporada compõe a atmosfera, assim como a água na Terra, é natural a existência de chuvas de rochas. O vapor se junta e precipita, tornando-se lava novamente, na área quente do planeta.
As chuvas ocorrem no lado mais frio do planeta. No entanto, o retorno da rocha para os rios de lava demora bastante, e não são tão estáveis quanto o ciclo da água na Terra. Os cientistas dizem, então, que possivelmente a composição mineral e as características do planeta eventualmente mudarão duramente.
Quanto aos ventos, o caos instaurado em K2-141b cria ventos que ultrapassam os 5000 km/h, valor quatro vezes superior à velocidade do som na atmosfera da Terra (1216 km/h). Mas o planeta provavelmente te incineraria se tentasse soltar uma pipa ou pegar um ar por lá. Então eu não te recomendaria essa experiência.
Oportunidade de pesquisa
“Todos os planetas rochosos, incluindo a Terra, começaram como mundos derretidos, mas depois esfriaram e solidificaram rapidamente. Os planetas lava nos dão um raro vislumbre neste estágio da evolução planetária”, explica o professor Nicolas Cowan, Departamento de Ciências da Terra e Planetárias da Universidade McGill, no Canadá.
Dessa forma, o planeta traz uma boa oportunidade de se conhecer um pouco melhor sobre o passado e o desenvolvimento da Terra, além dos outros planetas rochosos. A Terra possivelmente foi um inferno também. Claro que, possivelmente, não tão quente, mas quente o suficiente para manter oceanos de lava pela superfície.
Atualmente, eles trabalham com dados do já aposentado Telescópio Espacial Spitzer. No entanto, o Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, o lançou em 2003, ou seja, uma tecnologia já um tanto antiga. Em breve a NASA lançará o Telescópio Espacial James Webb, o mais poderoso da história, superando em muitas vezes o próprio Hubble. Portanto, isso trará uma boa oportunidade de pesquisa.
O estudo foi publicado no periódico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. Com informações de Live Science e McGill University.