Filogeneticamente falando, os dinossauros ainda não sumiram, pois tecnicamente as aves são dinossauros. Quando pensamos em um dinossauro, pensamos logo em um gigantesco e amedrontador animal, parecido com um crocodilo gigante. No entanto, muitos deles possuíam penas, assim como as aves, e a maioria era consideravelmente pequena.
Outro ponto engraçado, é que os dinossauros maiores eram herbívoros. Os carnívoros precisavam ser mais ágeis para caçar. Portanto, os dinossauros carnívoros eram menores. Este bicho na foto de capa, por exemplo, era um dinossauro carnívoro. Se parece com uma ema ou avestruz rabudo e com pescoço curto, mas é um dinossauro.
Os pesquisadores descreveram, portanto, essas “hastes” engraçadas do dinossauro brasileiro recém descoberto em um artigo no periódico Cretaceous Research. A espécie chama-se Ubirajara jubatus. O nome do gênero da espécie, Ubirajara, é uma palavra em tupi-guarani para “senhor da lança”, em homenagem aos indígenas brasileiros.
Os fósseis
O animal possuía o tamanho de uma galinha e possui a penugem mais elaborada conhecida pelo mundo animal. Conforme os pesquisadores, talvez seja a partir daí que algumas aves como os pavões adquiriram o costume de se exibir. Os pavões machos demonstram aquelas esplendorosas caudas durante os rituais de acasalamento.
“O que é especialmente incomum sobre a besta é a presença de duas fitas muito longas e provavelmente rígidas em cada lado de seus ombros, provavelmente usadas para exibição, para atração de parceiros, rivalidade entre machos ou para assustar o inimigo”, disse em um comunicado o Professor David Martill, co-autor do estudo.
Max Langer, paleontólogo da USP (Universidade de São Paulo) e que não se participou do estudo, conta ao Science News que tratava-se apenas de uma questão de tempo encontrar um dinossauro tão bem detalhado aqui no país. Os cientistas encontraram o dinossauro agora em 2020 mesmo, ao analisar fósseis em sua coleção.
Conforme Langer, na Formação Crato, no nordeste brasileiro, há inúmeros fósseis extremamente bem preservados. Eles possuem até mesmo alguns detalhes de suas fibras musculares e vasos sanguíneos. Diversos dinossauros pelo mundo conservaram suas penas, mas ali a conservação também é especial. Os pesquisadores descobriram a possibilidade da preservação dessas penas das rochas da Formação do Crato em 2015, ao encontrar um fóssil com penas.
Langer ainda aproveitou a oportunidade junto à revista para criticar um ponto. Esse estudo não envolve nenhum brasileiro, e a coleção de fósseis localiza-se na Alemanha. Ele diz, então, que tratando-se de um patrimônio nacional, o objeto deveria permanecer em alguma coleção de instituto ou universidade do Brasil.
Por que o dinossauro possui penas tão chamativas?
“Essas são características extravagantes para um animal tão pequeno e nada do que preveríamos se apenas tivéssemos preservado o esqueleto. Por que se enfeitar de uma maneira que o torne mais óbvio para sua presa e para os predadores em potencial?”, diz o autor principal do estudo, Robert Smythe, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido.
“O sucesso evolucionário vai além de apenas sobreviver, você também deve ter uma boa aparência se quiser passar seus genes adiante”, completa Smythe. Ele explica que a sobrevivência das espécies vai além de sobreviver aos predadores e ao ambiente, mas também relaciona-se com uma reprodução bem frutífera.
“Os pássaros modernos são famosos por sua plumagem elaborada e exibições que são usadas para atrair parceiros – a cauda do pavão e os pássaros-do-paraíso machos são exemplos clássicos disso”, explica o autor principal. Conforme ele, esse é um dos principais indícios de que esse costume não surgiu com as aves. mas partiu já dos dinossauros.
Como já diziam os Bragaboys, “o movimento é sensual […] o movimento é bem sexy”. Brincadeiras à parte, no mundo da evolução, tornou-se uma característica útil essa mania de se demonstrar para as fêmeas. Com o tempo, então, a natureza a selecionou, já que os animais que o faziam se reproduzem mais facilmente.
O estudo foi publicado no periódico Cretaceous Research. Com informações de Science News e University of Portsmouth.