Lobotomia

Mateus Marchetto
Imagem: Wikipédia

A lobotomia foi uma operação neurocirúrgica, praticada principalmente no século 20, que danificava permanentemente partes do lobo pré-frontal do cérebro. Ela foi utilizada por mais de duas décadas como tratamento para esquizofrenia, depressão maníaca e transtorno bipolar, entre outras doenças mentais.

História da lobotomia

O neurologista António Egas Moniz foi laureado, em 1949, com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina. O seu feito, que veio a se tornar bastante polêmico posteriormente, era uma cirurgia supostamente milagrosa agindo diretamente no cérebro: a lobotomia.

Há 75 anos, pouco ou quase nada se sabia sobre doenças psicológicas como a depressão e a ansiedade, ou mesmo transtornos como a esquizofrenia ou o transtorno do espectro autista. Assim, muitas destas características eram generalizadas como “angústias” ou “manias” que tinham origem no sistema cognitivo do paciente.

Médicos e especialistas da época, como Moniz, argumentavam que os problemas psicológicos de um paciente tinham origem em um arranjo errado dos neurônios na parte anterior do cérebro. Basicamente, então, a lobotomia tinha como objetivo cortar a conexão entre o lobo frontal e o resto do sistema nervoso.

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Imagem: OpenClipart-Vectors / Pixabay 

Supostamente isso causaria um reset no sistema nervoso do paciente e, por consequência seus sofrimentos seriam amenizados. Supostamente.

Acontece que as lobotomias tinham efeitos colaterais assustadores que passaram a ser divulgados apenas anos depois de milhares dessas cirurgias terem acontecido. Esse rompimento da ligação do lobo frontal pode causar convulsões, perda de movimento, enfraquecimento e incapacidade de compreensão da fala, apenas para citar alguns.

Em 1967, Walter Freeman e James Watts foram os primeiros a realizar uma lobotomia em solo americano. Após estimadas 5.000 cirurgias do tipo, Freeman foi proibido de realizar o procedimento, depois que a paciente Helen Mortensen faleceu por uma hemorragia algumas horas após ser atendida pelo médico, em 1967.

Diversas maneiras como acontecia uma lobotomia

Um dos fatores que faziam as lobotomias parecerem uma pílula mágica para tantos problemas era a sua simplicidade. Para fazer a cirurgia, o médico precisaria de apenas alguns instrumentos, dependendo do tipo de lobotomia a ser executado.

As descrições a seguir podem ser violentas, proceda com cautela.

Para acessar as conexões entre o lobo frontal e o resto do cérebro, o médico precisava realizar dois furos no crânio, ao menos. Esses furos poderiam ser na parte superior da cabeça, acima da testa, ou perto das têmporas, por exemplo. A partir destes furos (feitos literalmente com brocas manuais) o médico punha uma lâmina entre as conexões do cérebro.

O cirurgião então movia a lâmina de um lado para o outro, cortando os neurônios no meio do caminho.

O psiquiatra italiano Amarro Fiamberti, contudo, deu um passo adiante na técnica. Fiamberti foi o criador da lobotomia transorbital, assustadoramente feita por cima dos olhos. Não obstante, nesse tipo de procedimento o médico usaria um instrumento similar a um picador de gelo, ou uma chave de fenda, para chegar ao cérebro.

Esse instrumento era inserido por cima dos olhos (entre a pálpebra e o globo ocular), até chegar ao osso do crânio, onde era batido com um martelo até a perfuração acontecer. Depois o médico movia o instrumento de um lado para o outro, e a lobotomia estava pronta. Muitos destes procedimentos nem necessitavam anestesias.

Vale comentar que no início e metade do século passado as alternativas à lobotomia não eram exatamente humanitárias também. Tratamentos violentos com eletrochoques e sedativos fatais a longo prazo estavam no repertório, por exemplo.

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