Elefantes enterram e ficam de luto por filhotes mortos

Leandro da Silva Monteiro
Filhote de elefante enterrado pelo seu próprio bando. Imagem: West Bengal Forest Department

Desde os tempos imemoriais, grandes civilizações e pequenos povoados realizam rituais fúnebres para se despedir de entes queridos. Mas aparentemente essa não é uma característica exclusiva dos seres humanos. Na Índia foram registrados um grupo de elefantes que não apenas enterram, mas também ficam de luto por filhotes mortos.

Ao todo, houve cinco ocorrências de sepultamento de filhotes de elefantes feitos pelos próprios membros dos seus rebanhos nas planícies de inundação do leste do Himalaia, no norte de Bengala Ocidental. O estudo foi conduzido por Akashdeep Roy, um pesquisador do Instituto Indiano de Educação e Pesquisa em Ciências, e Parveen Kaswan, um oficial do Serviço Florestal Indiano. Os dois passaram mais de um ano revisando a literatura disponível sobre hábitos de sepultamento observados em elefantes e conseguiram encontrar cinco relatos diferentes documentando o ato. O estudo foi publicado no mês anterior na Journal of Threatened Taxa.

Elefantes são criaturas fascinantes não apenas pelo seu tamanho, mas também por seus comportamentos que espelham muitas características encontradas em humanos. Elefantes já foram vistos imitando o bocejo de humanos, parando um caminhão-pipa para beber água e até mesmo se arriscando para salvar pessoas em perigo. Grande parte desses registros são evidências anedóticas, mas não deixam de surpreender, tal como o estudo de Roy e Kaswan.

Os elefantes registrados realizando os sepultamentos fazem parte de uma espécie asiática, o Elephas maximus, porém tais hábitos já foram encontrados também em elefantes africanos da Loxodonta cycloti. O estudo marca a primeira vez que o comportamento é registrado na Ásia, bem como a primeira vez que os elefantes são vistos cobrindo os filhotes com terra além de posicionar o corpo de um modo específico. Uma análise dos cadáveres revelou que os filhos teriam morrido de causas naturais por falhas respiratórias ou uma infecção.

“Eles têm plena consciência do que fazem”, Roy afirmou numa entrevista ao Live Science. Segundo ele, o sepultamento dos filhotes é impressionantemente bem organizado. 

Como elefantes enterram os filhotes

Elefantes enterram e ficam de luto por filhotes mortos
Grupo de elefantes carregando filhote morto. Imagem: West Bengal Forest Department

Os elefantes do leste do Himalaia vivem em florestas locais, fazendas de chá, terras agrícolas e assentamentos humanos e por isso devem ter um grande contato com as comunidades da região. Os relatos encontrados pela dupla de pesquisadores descrevem que os filhotes foram carregados pelos adultos por longas distâncias de até dois dias de caminhada. Eles eram levados até as fazendas de chá onde há vários drenos cavados para irrigação das plantações.

Os elefantes então colocavam os filhos de costas, com as pernas para cima, e depois cobriam os corpos com terra. O detalhe é que eles também nivelavam o terreno depois que os filhotes estivessem completamente cobertos. Roy teoriza que essa escolha pode ter duas motivações, sendo a primeira por questões práticas já que é a posição mais fácil para se posicionar os filhotes nos buracos. Porém ele também acredita que é uma forma de permitir que mais de um membro do rebanho ajude no sepultamento.

Algumas pessoas das comunidades locais relatam ouvir os elefantes fazendo barulhos semelhantes a um trompete e rugidos após o sepultamento. Para Roy essa é uma forma dos animais prestarem homenagem a morte dos seus filhotes e expressar a dor e agonia que estão sentido. Além disso, os elefantes passaram a evitar os locais em que os filhotes foram enterrados, inclusive mudando completamente sua rota habitual. Outra vez, Roy teoriza que é uma forma dos animais evitarem “memórias ruins” associadas à perda. 

“Eles selecionaram fazendas de chá de propósito porque não podiam enterrar o cadáver nas aldeias devido à alta perturbação humana, e tampouco poderiam fazer isso dentro da floresta onde não há valas pré-construídas e conhecendo sua incapacidade de cavar buracos grandes nessa zona biogeográfica”, adiciona Roy, acreditando que isso seria uma demonstração clara da inteligência dos elefantes.

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