Biólogos descobrem antigos ecossistemas microbianos sob uma cratera

Amanda dos Santos
Localização da cratera do anel de pico Chicxulub abaixo da borda norte da Península de Yucatán, México. Foto disponibilizada do estudo publicado na revista Astrobiology

Como surgiu a vida na Terra? E como ela sobreviveu ao éon Hadean, uma época em que impactos massivos e repetitivos escavaram crateras com milhares de quilômetros de diâmetro na superfície da Terra? Inicialmente, esses mesmos impactos devastadores podem ter criado um vasto paraíso de ecossistemas microbianos subterrâneos. Seria o início da vida na Terra.

No meio de todas as câmaras e caminhos, bombeados com água rica em minerais, a vida primitiva dos ecossistemas microbianos encontrou abrigo e a energia necessária para manter a vida na Terra. A evidência vem do evento de extinção mais conhecido da Terra: o evento de impacto Chicxulub.

Então, um novo estudo apresenta evidências de que a cratera Chicxulub foi hospedeira de uma enorme rede subterrânea de fontes hidrotermais. Elas poderiam ter fornecido um santuário para a vida microbiana.

Hipótese sobre a origem da vida

Crateras de impacto muito anteriores provavelmente tinham o mesmo santuário. O estudo foi intitulado ‘Fracionamento de isótopos de enxofre microbiano no sistema hidrotérmico de Chicxulub’. Seu autor principal é David Kring, do Instituto Lunar e Planetário. Por sua vez, David Kring é uma importante voz científica que apoia essa hipótese.

Embora os impactos massivos tenham tornado a superfície da Terra inabitável durante o éon Hadean, o mesmo provavelmente não seria verdade para a região sob as crateras de impacto.

Pelo contrário, de acordo com Kring, os mesmos eventos de impacto produziram vastos sistemas hidrotérmicos subterrâneos perfeitos para a química pré-biótica e habitats para a evolução inicial da vida.

núcleo Chicxulub
Seção do núcleo do Chicxulub com os minerais hidrotermais dachiardita (laranja brilhante) e analcima (incolor e transparente). Os minerais preenchem parcialmente cavidades na rocha que eram nichos para ecossistemas microbianos. Foto: (David A. Kring)

Neste novo estudo, Kring e seus colegas apresentam evidências do International Ocean Discovery Program e do International Continental Scientific Drilling Program. Esses programas forneceram núcleos de rocha do anel da cratera Chicxulub. Especificamente, este estudo é baseado em cerca de 15.000 quilogramas de rocha recuperada de um furo de 1,3 km de profundidade.

A equipe de pesquisadores encontrou pequenas esferas de pirita chamadas framboides na amostra, com apenas 10 milionésimos de metro de diâmetro. Dessa forma, como a pirita é um sulfeto de ferro, ela contém isótopos de enxofre. Esses isótopos mostraram que os framboides eram formados por micróbios que faziam parte de ecossistemas microbianos. Por consequência, eles eram adaptados ao fluido aquecido carregado de minerais que fluía pela rede subterrânea.

Cratera de impacto Chicxulub

A rede subterrânea estava presente sob o anel de pico quebrado da cratera de impacto Chicxulub. Ou seja, a vida precisa de energia para sobreviver e essa vida microbiana obtém a energia de reações químicas no sistema de rochas e fluidos.

Eles converteram o sulfato no fluido em sulfeto, que foi preservado em pirita. Concluindo, os antigos micróbios termofílicos seriam bastante semelhantes aos micróbios termofílicos povoando os ambientes extremos da Terra atualmente. Como as fontes hidrotermais profundas do oceano e as fonte termais do Parque Yellowstone.

Os mesmos organismos redutores de enxofre persistiram por 2,5 milhões de anos após o impacto e os encontrado hoje na Chicxulub são provavelmente os descendentes diretos deles.

Estudo publicado na revista Astrobiology.

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