Novo fóssil de dinossauro e ovos contém evidências únicas

Mateus Marchetto
Confira o fóssil que contém evidências únicas sobre o desenvolvimento dos dinossauros. (Bi et al., Science Bulletin, 2020)

Oviraptores, como o nome indica, foram um grupo de dinossauros asiáticos que se alimentavam, sobretudo, de ovos. Contudo, um fóssil descoberto recentemente mostra que esses dinos também eram pais cuidadosos com seus ovos. Pesquisadores encontraram o esqueleto na formação de Nanxiong, na China. Esse foi, aliás, um dos poucos fósseis de oviraptor descobertos fora da Mongólia.

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(Bi et al., Science Bulletin, 2020)

No entanto, a diferença desse fóssil para os demais é que ele contém indícios moleculares de que essa espécie chocava seus ovos. Isso porque os pesquisadores puderam identificar que certos ovos incubavam a uma determinada temperatura – mais ou menos como as aves modernas. A diferença é que alguns ovos estavam mais próximos da mãe e, portanto, tinham uma temperatura maior e acabavam chocando antes. Esse fenômeno tem o nome de incubação assíncrona e é pouco comum mesmo nas aves.

Os pesquisadores conseguiram identificar também, pela primeira vez, fósseis de embriões junto ao animal adulto. O ninho possuía diversos anéis, o maior tendo 78cm na base e o menor tendo 26cm logo abaixo da mãe. Assim, os embriões dos anéis mais altos, mais próximos da mãe e mais quentes, estavam em estágios mais avançados do desenvolvimento. Aqueles da base, por outro lado, não aparentaram um desenvolvimento tão precoce, demonstrando, mais uma vez, a incubação assíncrona.

Por que esses ovos são importantes?

Oviraptores viveram entre 70 e 80 milhões de anos atrás (no período Cretáceo) em praticamente todo o deserto da Mongólia e em algumas outras regiões da Ásia. Eles foram, inclusive, competidores diretos dos famosos velociraptores. Acontece que outras dezenas de ninhos de oviraptores fossilizados já foram registrados, mas nenhum deles continha tantas evidências moleculares de que os dinos realmente chocavam seus ovos. Os autores do estudo puderam chegar a essa conclusão por meio de um isótopo de oxigênio presente nos fósseis, que permitiu calcular a temperatura do ninho.

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(Imagem de Dennis Larsen por Pixabay)

Essa descoberta faz toda a diferença porque, nas últimas décadas, paleontólogos têm enfrentado um longo debate sobre o cuidado parental dos dinossauros. De início acreditava-se que eles simplesmente abandonavam seus ovos à própria sorte – mais ou menos como as tartarugas marinhas. Contudo, evidências como esse novo fóssil Chinês corroboram com um desenvolvimento muito mais mimado dos filhotes de diversas espécies de dinossauros – principalmente as carnívoras, como velociraptores e tiranossauros.

A partir das análises moleculares também foi possível demonstrar que a fêmea morreu enquanto chocava os ovos e, como dito, a temperatura influencia diretamente o desenvolvimento do embrião.

O artigo está disponível no periódico Science Bulletin.

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