Cientistas registram ondas cerebrais de paciente minutos antes de sua morte

Lorena Franqueto
Cientistas analisam ondas cerebrais de paciente momentos antes de sua morte

Frequentemente, pessoas que experienciaram uma quase morte relatam experiências extremamente semelhantes. No entanto, até o momento ninguém registrou ondas cerebrais de paciente para compreender a atividade cerebral pré-morte. O que existe são muitos relatos curiosos do quase falecimento e pouco ou nenhum dado analisado cientificamente. Em recente relato de caso da Frontiers in Aging Neuroscience, cirurgiões registraram eletroencefalografia (EEG) de paciente de 87 anos.

nerve cells g48989dcc0 1920
Neurocirurgiões coletam ondas cerebrais de paciente momentos antes de sua morte. Crédito da imagem: ColinNOOB, disponível no Pixabay.

O registro das ondas cerebrais de paciente previamente à sua morte:

O paciente de 87 anos chegou à emergência após queda e a tomografia computadorizada revelou hematomas subdurais agudos bilaterais, isto é, o rompimento de um vaso entre o crânio e a superfície do cérebro. Sendo assim, a conduta médica foi uma cirurgia para evacuação dos hematomas. Infelizmente, o senhor desenvolveu convulsões durante o procedimento, seguidas de uma parada cardíaca.

Por fim, a gravação das ondas cerebrais aconteceu porque os médicos utilizavam o EEG para monitoramento da condição do paciente durante a cirurgia. Além disso, por causa do estado de não ressuscitação do paciente e após o consentimento da família, os cientistas registraram essa atividade elétrica do cérebro humano através de evento inesperado.

“Medimos 900 segundos de atividade cerebral na hora da morte e estabelecemos um foco específico para investigar o que aconteceu nos 30 segundos antes e depois do coração parar de bater”, diz Ajmal Zemmar, neurocirurgião da Universidade de Louisville, EUA. 

O que foi descoberto?

Primeiramente, as oscilações neurais representam a atividade elétrica coletiva dos neurônios disparando no cérebro e são mais comumente conhecidas como ondas cerebrais. No entanto, essas ondas podem ocorrer em frequências diferentes e são classificadas conforme o estado de vigília ou sono. Sendo assim, elas estão associadas à diferentes estados como processamento de informações, percepção, consciência e memória durante a vigília e estados de sonho e meditação.  

No caso reportado, logo após a parada cardíaca os cirurgiões reportaram um aumento de ondas do tipo gama e uma interação com a alfa, uma padrão semelhante ao estado de memória.

“Dado que o acoplamento cruzado entre a atividade alfa e gama está envolvido nos processos cognitivos e na recuperação da memória em indivíduos saudáveis, é intrigante especular que tal atividade poderia apoiar uma última ‘recordação da vida’ que pode ocorrer no estado de quase morte”, escreveram os autores.

brain g23ed9f494 1920
Crédito para sbtlneet, disponível em Pixabay.

Dessa forma, as descobertas da equipe apontam para uma ligação potencial entre as ondas cerebrais observadas durante a morte com as experiências fenomenológicas das experiências de quase morte. Com as poucas evidências, parece que o cérebro atua de forma estereotipado durante.

Em estudos com roedores, outros pesquisadores encontraram condições semelhantes às alterações na atividade neuronal. Por isso, é possível que a organização e execução de uma resposta biológica frente à morte possa ser conservada em espécies.

As limitações do estudo:

Vale ressaltar que o cérebro do paciente estava em estado pós traumático, o órgão sofria de sangramento, inchaço e convulsões. Além disso, o paciente recebeu grandes doses de anticonvulsivantes. Portanto, ambas as condições somadas poderiam influenciar no estado das ondas cerebrais. Também não há um estado basal para comparar a atividade cerebral antes da internação e durante a morte.

O estudo de outros casos também seriam inviável devido a imprevisibilidade da morte. Por exemplo, em condições de pacientes previamente saudáveis é quase impossível coletar informações de EEG antes de sua morte e em casos de paciente doentes sua atividade cerebral pode já estar comprometida antes da morte.

Por fim, são nítidas as dificuldades de avaliar o que acontece com o cérebro durante a morte, principalmente quando os pacientes deixam para trás familiares específicos.

“Algo que podemos aprender com esta pesquisa é: embora nossos entes queridos tenham os olhos fechados e estejam prontos para nos deixar e descansar, seus cérebros podem estar revivendo alguns dos melhores momentos que vivenciaram em suas vidas”, finalizou Zemmar,

Compartilhar