Frequentemente, pessoas que experienciaram uma quase morte relatam experiências extremamente semelhantes. No entanto, até o momento ninguém registrou ondas cerebrais de paciente para compreender a atividade cerebral pré-morte. O que existe são muitos relatos curiosos do quase falecimento e pouco ou nenhum dado analisado cientificamente. Em recente relato de caso da Frontiers in Aging Neuroscience, cirurgiões registraram eletroencefalografia (EEG) de paciente de 87 anos.
![nerve cells g48989dcc0 1920](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2022/02/nerve-cells-g48989dcc0_1920-1244x700.jpg)
O registro das ondas cerebrais de paciente previamente à sua morte:
O paciente de 87 anos chegou à emergência após queda e a tomografia computadorizada revelou hematomas subdurais agudos bilaterais, isto é, o rompimento de um vaso entre o crânio e a superfície do cérebro. Sendo assim, a conduta médica foi uma cirurgia para evacuação dos hematomas. Infelizmente, o senhor desenvolveu convulsões durante o procedimento, seguidas de uma parada cardíaca.
Por fim, a gravação das ondas cerebrais aconteceu porque os médicos utilizavam o EEG para monitoramento da condição do paciente durante a cirurgia. Além disso, por causa do estado de não ressuscitação do paciente e após o consentimento da família, os cientistas registraram essa atividade elétrica do cérebro humano através de evento inesperado.
“Medimos 900 segundos de atividade cerebral na hora da morte e estabelecemos um foco específico para investigar o que aconteceu nos 30 segundos antes e depois do coração parar de bater”, diz Ajmal Zemmar, neurocirurgião da Universidade de Louisville, EUA.
O que foi descoberto?
Primeiramente, as oscilações neurais representam a atividade elétrica coletiva dos neurônios disparando no cérebro e são mais comumente conhecidas como ondas cerebrais. No entanto, essas ondas podem ocorrer em frequências diferentes e são classificadas conforme o estado de vigília ou sono. Sendo assim, elas estão associadas à diferentes estados como processamento de informações, percepção, consciência e memória durante a vigília e estados de sonho e meditação.
No caso reportado, logo após a parada cardíaca os cirurgiões reportaram um aumento de ondas do tipo gama e uma interação com a alfa, uma padrão semelhante ao estado de memória.
“Dado que o acoplamento cruzado entre a atividade alfa e gama está envolvido nos processos cognitivos e na recuperação da memória em indivíduos saudáveis, é intrigante especular que tal atividade poderia apoiar uma última ‘recordação da vida’ que pode ocorrer no estado de quase morte”, escreveram os autores.
![brain g23ed9f494 1920](https://socientifica.com.br/wp-content/uploads/2022/02/brain-g23ed9f494_1920-1280x675.jpg)
Dessa forma, as descobertas da equipe apontam para uma ligação potencial entre as ondas cerebrais observadas durante a morte com as experiências fenomenológicas das experiências de quase morte. Com as poucas evidências, parece que o cérebro atua de forma estereotipado durante.
Em estudos com roedores, outros pesquisadores encontraram condições semelhantes às alterações na atividade neuronal. Por isso, é possível que a organização e execução de uma resposta biológica frente à morte possa ser conservada em espécies.
As limitações do estudo:
Vale ressaltar que o cérebro do paciente estava em estado pós traumático, o órgão sofria de sangramento, inchaço e convulsões. Além disso, o paciente recebeu grandes doses de anticonvulsivantes. Portanto, ambas as condições somadas poderiam influenciar no estado das ondas cerebrais. Também não há um estado basal para comparar a atividade cerebral antes da internação e durante a morte.
O estudo de outros casos também seriam inviável devido a imprevisibilidade da morte. Por exemplo, em condições de pacientes previamente saudáveis é quase impossível coletar informações de EEG antes de sua morte e em casos de paciente doentes sua atividade cerebral pode já estar comprometida antes da morte.
Por fim, são nítidas as dificuldades de avaliar o que acontece com o cérebro durante a morte, principalmente quando os pacientes deixam para trás familiares específicos.
“Algo que podemos aprender com esta pesquisa é: embora nossos entes queridos tenham os olhos fechados e estejam prontos para nos deixar e descansar, seus cérebros podem estar revivendo alguns dos melhores momentos que vivenciaram em suas vidas”, finalizou Zemmar,