Existir material orgânico em sua composição não significa necessariamente que também há vida. Já falamos sobre isso em uma matéria sobre o asteroide Bennu. Existem diversas reações químicas, processos geológicos e diversos outros tipos de processos que formam a matéria orgânica, afinal, a matéria orgânica precede a vida, e não o contrário. Mas, ainda assim, um meteorito com material orgânico é animador.
Em 16 de janeiro de 2018, um meteoro explode sobre um lago nos céus do estado de Michigan, nos Estados Unidos. Na época, o meteoro já se destacou pelo “fato de que passou por cima de nós e explodiu perto dessas estações sísmicas e microfones infra-som, isso é incomum e fortuito. E isso torna este evento cientificamente interessante”, nas palavras do sismólogo Jeroen Ritsema em um comunicado na Universidade de Michigan, na ocasião da queda.
Mas o que anima agora é outro ponto.
Conhecendo a história do sistema solar
Um meteoro é uma pedra espacial passando pela atmosfera da Terra. Agora ele já tocou no solo, então o classificamos como um meteorito. Portanto, ele já não nos traz as respostas como anteriormente. A pesquisa, agora, é quando ao meteorito. As análises da composição dos meteoritos nos ajuda a entender muito da formação do sistema solar, já que como não há atividade geológica ou climática, eles são extremamente puros.
A vida se formou na Terra há mais de 4 bilhões de anos. E desde então, o planeta Terra mudou muito, seja pelo clima, seja pela geologia. São várias as dinâmicas que tornam o planeta Terra de hoje em dia muito diferente. Então, olhar somente para a Terra nos entrega resultados muito limitados.
Se um asteroide mantém uma composição muito parecida com a composição dos corpos no início da formação do sistema solar, ele nos entregaria muitas respostas interessantes quando à formação da vida na Terra. Às vezes nos esquecemos de que também fazemos parte do sistema solar. Há uma dinâmica entre os diversos corpos, e olhar para fora da Terra é olhar também para a Terra, assim como olhar aqui é também olhar para o espaço.
Os cientistas descrevem a queda, a recuperação e as análises da composição do meteorito em um artigo publicado recentemente no periódico Meteoritics & Planetary Science.
Meteorito com material orgânico, mas vai além
“Este meteorito é especial porque caiu em um lago congelado e foi recuperado rapidamente. Era muito puro. Pudemos ver que os minerais não foram muito alterados e depois descobrimos que ele continha um rico estoque de compostos orgânicos extraterrestres”, explica em um comunicado o pesquisador Philipp Heck, curador do Field Museum. “Esses tipos de compostos orgânicos provavelmente foram entregues à Terra primitiva por meteoritos e podem ter contribuído para os ingredientes da vida”.
Os cientistas conseguiram recuperá-lo tão bem por que utilizaram a tecnologia ao seu favor. “O radar meteorológico serve para detectar granizo e chuva”, diz Heck. Mas eles pensaram em utilizá-lo para procurar os rastros do meteoro. “Esses pedaços de meteorito caíram nessa faixa de tamanho e, portanto, o radar meteorológico ajudou a mostrar a posição e a velocidade do meteorito”, explica.
O meteorito caiu bem na superfície do Lago Strawberry, que por sorte estava congelado. O lago localiza-se próximo à cidade de Hamburgo, no estado de Michigan, nos Estados Unidos (americanos adoram copiar nomes de cidades europeias, risos).
“Quando o meteorito chegou ao Campo, passei o fim de semana inteiro analisando-o, porque fiquei muito animado para descobrir que tipo de meteorito era e o que havia nele”, explica Jennika Greer, uma das autoras do estudo. “Com cada meteorito que cai, há uma chance de que haja algo completamente novo e totalmente inesperado”.
Tratava-se de um meteorito do tipo condrito H4, o que representa cerca de apenas 4% dos meteoritos na Terra. Então, é bastante raro. Em breve veremos respostas trazidas pelo objeto.
O estudo científico foi publicado no periódico Meteoritics & Planetary Science. Com informações de Live Science e Phys.org/Fiel Museum.