Chimpanzés e bonobos lembram de seus amigos após décadas separados

Elisson Amboni
Imagem: iStockphoto

Uma pesquisa recente desenvolvida pela Universidade Johns Hopkins trouxe à tona uma descoberta surpreendente sobre a capacidade de reconhecimento social dos primatas não humanos. O estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences, apontou que grandes símios são capazes de identificar fotografias de membros de seu próprio grupo após mais de duas décadas e meia de separação. Esse fenômeno demonstra uma memória social de longa duração que anteriormente não se conhecia fora da espécie humana.

Segundo o autor sênior da pesquisa, o professor Christopher Krupenye, chimpanzés e bonobos demonstram a habilidade de reconhecer indivíduos com quem não mais conviveram por intervalos extensivos, atentando de maneira especial àqueles com os quais mantinham relações mais positivas. “Isso sugere que isso é mais do que apenas familiaridade — eles estão acompanhando aspectos da qualidade dessas relações sociais”, segundo ele.

Liderando um estudo inovador no campo da antropologia biológica e psicologia comparada, Laura Lewis da Universidade da Califórnia em Berkeley, explorou as surpreendentes semelhanças nas capacidades cognitivas de grandes primatas com os humanos, destacando especificamente a memória. A investigação nasceu de interações pessoais com primatas, cujas respostas empolgadas e reconhecimento após longos períodos sem contato sugerem uma sofisticação notável na memória social destes animais.

Comentando sobre o entusiasmo primatas seres ao reencontrarem conhecidos após um tempo significativo, Krupenye compartilha suas observações: “Eles manifestam uma reação como se nos reconhecessem e parecem nos distinguir claramente de um visitante comum do zoológico.” Com isso, a equipe de pesquisa procurou responder a uma questão primordial: os grandes primatas têm de fato uma memória duradoura e consistente para parceiros sociais familiares?

Cada descoberta desse estudo amplia a nossa compreensão sobre a psique dos primatas, e possivelmente, esclarece aspectos sobre a própria natureza da memória humana.

Chimpanzés e bonobos têm a capacidade notável de identificar membros familiares afastados por longos períodos. Esses primatas foram apresentados a fotografias de colegas de grupo antigos, contrapostas com imagens de desconhecidos. As observações revelaram uma forte inclinação a fixar o olhar nas fotografias dos conhecidos, intensificada quando se tratava de amigos próximos.

Um caso que se destaca é o da bonobo Louise, que, mesmo após mais de duas décadas sem contato visual, ainda mostrou forte predileção por imagens de sua irmã Loretta e seu sobrinho Erin. Essa ligação interpessoal atravessa anos e confirma a profunda capacidade cognitiva que estes animais possuem, desvendando laços que vão muito além do simples reconhecimento visual.

A pesquisa revela que a capacidade de grandes primatas em manter vivas as lembranças sociais pode se estender por toda a sua expectativa de vida, de 40 a 60 anos. Essa persistência mnemônica é notavelmente comparável à dos seres humanos, que podem reter recordações por até 48 anos após um encontro. Tal fenômeno poderia ter sido herdado de ancestrais evolutivos compartilhados, desempenhando um papel fundamental na formação da cultura humana e na manutenção de relações intergrupais duradouras.

A pesquisa também sugere que os primatas são capazes de lembrar a qualidade de suas relações sociais muito depois de ter esmaecido a sua funcionalidade prática. “Esse padrão de relações sociais moldando a memória de longo prazo em chimpanzés e bonobos é semelhante ao que observamos nos humanos”, afirma Lewis.

O interesse recente em desvendar a complexidade emocional dos primatas conduziu a descobertas intrigantes. Surge a questão se os grandes símios sentem falta dos companheiros de grupo dos quais foram separados. Cientistas estão especulando sobre a possibilidade de que os símios possam não apenas lembrar, mas também sentir a ausência de indivíduos conhecidos, uma capacidade cognitiva que se acreditava ser exclusivamente humana.

Esse estudo traz um novo olhar sobre como a caça furtiva e a desmatamento interrompem ligações essenciais entre os grandes símios e suas consequências nocivas. Ao perturbar esses vínculos significativos e duradouros, pode-se causar danos profundos no bem-estar social e emocional desses animais.

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