Baleias-da-groenlândia ainda carregam cicatrizes da extinta caça comercial

Elisson Amboni
Imagem: Matti Lainema and Juha Nurminen, Ultima Thule: Arctic Explorations, Helsinki: John Nurminen Foundation, 2001

Mais de um século depois que a caça comercial de baleias foi interrompida, as populações de baleias-da-groenlândia ainda estão lutando com suas consequências. Os cientistas estão descobrindo agora como essas criaturas majestosas do Ártico estão lutando contra uma crise de diversidade genética, uma consequência direta da era da caça industrial de baleias.

No início do século XX, a caça havia dizimado a população global de baleias-da-groenlândia, reduzindo seu número para apenas 3.000. Esse declínio drástico foi alimentado principalmente pelo valor comercial da gordura de baleia, usada para a produção de óleo, e das barbatanas, usadas em produtos como espartilhos e escovas. Embora países como os EUA, o Canadá e a Noruega tenham protegido a espécie há muito tempo, a recuperação total dos tubarões-baleia permanece incerta devido a dados incompletos sobre o tamanho da população antes do início da caça às baleias.

Um estudo conduzido por Michael Westbury e sua equipe da Universidade de Copenhague foi publicado recentemente. Nele, os pesquisadores descrevem progressos significativos na compreensão de como os climas passados e as atividades humanas impactaram as baleias-da-groenlândia. Analisando o DNA nuclear extraído de mais de 200 ossos de baleias antigas e avaliando os dados geográficos de 800 restos mortais, os pesquisadores montaram um quadro de mudanças populacionais que abrange 11.000 anos.

Apesar das mudanças climáticas significativas e dos milênios de caça indígena de subsistência, as populações permaneceram robustas até o início dos empreendimentos comerciais. “A caça comercial de baleias acabou com essa estabilidade”, comentou Eline Lorenzen, pesquisadora envolvida no estudo. As descobertas da equipe sugerem que algumas populações dessas baleias sofreram declínios superiores a 90% durante o auge da caça comercial, levando a uma grave perda de diversidade genética.

Essa erosão genética, como explica Lorenzen, é particularmente preocupante porque as baleias estão entre os mamíferos de vida mais longa da Terra, com expectativa de vida superior a 200 anos e longos intervalos entre as gerações. Do ponto de vista delas, a caça comercial de baleias foi interrompida há apenas duas ou três gerações. Os efeitos persistentes significam que a consanguinidade pode se tornar mais predominante nas gerações futuras, à medida que a diversidade genética continua a diminuir.

As implicações vão além da genética. Como o Ártico se aquece duas vezes mais rápido do que o resto do mundo, a diversidade genética reduzida pode prejudicar a capacidade de adaptação das baleias-da-groenlândia às condições ambientais que mudam rapidamente. Os verões sem gelo esperados para 2030 trarão novas dificuldades para esses enormes animais que evoluíram para sobreviver ao frio ártico.

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