Mistério por trás da morte de baleia-bicuda com feridas incomuns na Califórnia

Dominic Albuquerque
A baleia-bicuda tinha estranhos ferimentos no corpo. Imagem: Centro de Ciências Marinhas de Noyo

O corpo de um tipo raro de baleia-bicuda encalhou recentemente numa praia da Califórnia, com ferimentos misteriosos em sua cabeça e marcas de arranhões por todo o corpo. Os especialistas ainda não sabem o que causou os ferimentos, como a baleia morreu ou ainda a qual espécie ela pertence.

Os restos da baleia-bicuda, que tem cerca de 4.9m de comprimento, foram encontrados no último dia 15 numa praia do Jug Handle State Natural Reserve. Uma equipe do Centro de Ciências Marinhas (CAS na sigla em inglês) de Noyo recolheu o corpo com a ajuda de pesquisadores da Academia de Ciências da Califórnia, em São Francisco.

O grupo coletou amostras de gordura, dos órgãos e do crânio da baleia, e as enviou para serem analisadas no National Marine Mammal Tissue Bank na Carolina do Sul.

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Imagem: Centro de Ciências Marinhas de Noyo

Pouco se sabe sobre essas baleias misteriosas, que pertencem à família dos Ziphiidae. Os cientistas acreditam que existem cerca de duas dúzias de espécies, mas somente algumas delas foram estudadas a fundo.

Todavia, eles sabem que a baleia-bicuda, de maneira geral, é capaz de “mergulhar mais fundo do que qualquer outro mamífero marinho”, segundo uma postagem do Centro de Noyo, e que elas podem permanecer submersas por mais de três horas.

Essa incrível habilidade de mergulho é uma das principais razões pelas quais os cientistas sabem tão pouco sobre a baleia-bicuda. “Elas não são vistas com frequência, quer vivas ou mortas”, disse Moe Flannery, gerente sênior de coleções de pássaros e mamíferos marinhos no CAS.

A baleia-bicuda tinha estranhos ferimentos

A equipe do centro observou que o bico da baleia tinha ferimentos incomuns ao seu redor, ainda que não soubesse dizer exatamente o que os causou.

“Parece haver algum tipo de trauma próximo à mandíbula, mas até que eles analisem mais de perto o crânio em si, é difícil dizer o que o causou”, disse Trey Petrey, gerente de instalações do centro, que ajudou a remover a baleia da praia.

Uma possível causa para os ferimentos seriam colisões com veículos. A baleia-bicuda, assim como outros cetáceos (golfinhos e baleias), estão dentre os animais marinhos sob maior risco de serem atingidos por embarcações, pois usam o som para se navegarem, e a poluição sonora dos barcos pode desorientá-los, segundo um estudo publicado em 2020 na Frontiers in Marine Science.

O corpo da baleia-bicuda também estava marcado por arranhões no corpo e no rosto. Contudo, a maioria desses arranhões provavelmente foi causado por conflitos com outras baleias-bicudas ao longo do tempo.

A maioria delas não tem dentes, com exceção de um largo par de dentes semelhantes a presas na mandíbula inferior; esses dentes costumam ser exclusivos aos machos, que os utilizam para lutar contra rivais, disse Sascha Hooker, uma bióloga de mamíferos marinhos da Universidade de St. Andrews, na Escócia, não envolvida no resgate.

Ela acrescenta que os ferimentos podem ter sido causados por conflitos com outras baleias, ou após colisões anteriores com embarcações.

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“Piolho” de baleia, um parasita que gruda na pele do cetáceo. Imagem: Centro de Ciências Marinhas de Noyo

Outro detalhe na carcaça da baleia-bicuda foram os “piolhos” em sua pele. Os piolhos de baleia são camarões parasitas que se fixam na pele dos cetáceos e passam a vida inteira presos na pele de um único indivíduo, onde filtram micróbios da água e às vezes mordiscam a pele do hospedeiro.

Um estudo publicado em 2018 na Journal of Experimental Marine Biology and Ecology apontou que esses piolhos de baleia podem ser analisados como forma de rastrear os padrões de migração das baleias. Ainda não se sabe se isso poderá ser feito em relação à baleia-bicuda encalhada, mas os pesquisadores acreditam que poderão aprender muito sobre esse tipo de baleia de maneira geral após o ocorrido.

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