Asteroides provocaram ao menos dois megatsunamis em Marte

Felipe Miranda
Concepção artística de um oceano em Marte. (Imagem: NASA/GSFC).

Há aproximadamente 3,4 bilhões de anos, um enorme asteroide se chocou com o planeta vermelho, ocasionando um tsunami do tamanho de um prédio alto a velocidades comparáveis às de um jato. A explosão, que foi semelhante ao impacto que ocasionou a extinção dos dinossauros, deixou em Marte uma cratera até os dias de hoje. Após ele, outro asteroide também causou um tsunami no planeta.

“Imagine uma enorme parede de água vermelha do tamanho de um prédio alto se movendo em sua direção na velocidade de um jato”, descreve em um comunicado da NASA J. Alexis P. Rodriguez, ex-bolsista do Programa de Pós-Doutorado da NASA e cientista pesquisador sênior do Instituto de Ciência Planetária em Tucson, Arizona, nos EUA. “Essa pode ser uma maneira justa de imaginá-lo em sua mente”.

Marte é, hoje em dia, um grande deserto vermelho. No entanto, ele já foi um planeta cheio de água. É quase consensual na academia que cerca de 3,4 bilhões de anos, Marte era, em sua superfície, não muito diferente do que vemos agora – um deserto frio e seco, mas havia enormes aquíferos subterrâneos no planeta vermelho.

Nessa época, esses aquíferos se romperam e muita água vazou para a superfície, inundando enormes áreas do planeta, assim ocasionando, inicialmente, a formação de grandes canais e levando, posteriormente, à formação de rasos oceanos na superfície. Entre 3,5 e 3 bilhões de anos atrás, marte estava repleto desses oceanos um tanto rasos.

Tsunamis e suas “impressões digitais”

Há pelo menos dois eventos localizados pelos cientistas em que o impacto causou um megatsunami. A pesquisa, publicada em acesso aberto no periódico Scientific Reports, descreve uma cratera do primeiro impacto.

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Área repleta de rochas depositadas pelo tsunami mais antigo. Imagem: Alexis Rodriguez

Em 1976, a sonda Viking 1, enviada à parte pela NASA, pousou próximo a um canal que fora inundado. No entanto, ao analisar os dados, os cientistas não viram registros de uma megainundação, conforme esperado, mas uma série de rochas de origem indescritível. Hoje, o local é identificado como uma cratera de impacto, chamada Pohl, e é a melhor candidata ao primeiro impacto, de 3,4 bilhões de anos.

“Ficamos surpresos ao descobrir que os depósitos de tsunami mais antigos e mais jovens parecem tão diferentes”, disse Rodriguez. “O tsunami mais antigo chegou à costa e depositou enormes volumes de detritos, e a evidência de que a água voltou para o oceano é representada em uma ‘retrolavagem’ generalizada.

As gigantescas ondas ocasionadas pelo impacto devem ter atingido até 250 metros de altura e chegado a um raio de 1.500 quilômetros de distância da cratera. O impacto liberou uma energia centenas de milhares de vezes maior do que a bomba nuclear mais poderosa já detonada no planeta Terra.

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Esquerda: dois níveis propostos para a costa marciana. Direita: Áreas inundadas pelos tsunamis. Imagem: Alexis Rodriguez

“Achamos que depois que a costa oceânica recuou para uma elevação mais baixa – o que provavelmente resultou durante um período de resfriamento climático extremo que durou vários milhões de anos – o tsunami mais jovem ocorreu com enormes ondas congelando enquanto lavava a paisagem marciana congelada. As ondas congelaram rapidamente, mesmo antes de terem a chance de fluir de volta para o oceano”, explica Rodriguez

Agora, os cientistas esperam encontrar, nas camadas de sedimentos do tsunami, dados para realizar uma reconstrução do clima marciano. Além disso, se Marte um dia já abrigou vida microscópica, esses sedimentos podem nos trazer respostas.

“Na Terra, os depósitos de tsunami contêm uma lama significativa ou um componente de grão fino; em Marte, esse componente de grão mais fino poderia ter preservado evidências físicas ou químicas de atividade microbiana passada, se existisse”, disse a coautora do estudo Virginia Gulick, pesquisadora sênior do Instituto SETI e da NASA. “Se houvesse ambientes habitáveis, as bioassinaturas também poderiam ter sido preservadas nas grandes rochas visíveis nos depósitos de fluxo mais antigos”.

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