Árvores podem se comunicar por meio de fungos?

Mateus Marchetto
Imagem: Getty Images

Por várias décadas, cientistas e entusiastas divulgam a ideia de que árvores podem se comunicar por meio de fungos. As micorrizas são, de fato, fungos associados a raízes de plantas de formas altamente complexas. Contudo, um novo estudo agora contesta esse conhecimento. Segundo a pesquisa, não há evidências suficientes para afirmar que esse sistema de comunicação seja tão complexo e vital.

Uma micorriza, como dito acima, é um mutualismo entre uma raiz e um fungo, geralmente do filo Zygomycota, com certas plantas. Ao longo de vários anos, pesquisadores observaram que essas associações podem ser altamente complexas, se estendendo por grandes áreas e até mesmo criando um sistemas de comunicação entre árvores.

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Imagem: Jürgen/Pixabay 

De acordo com esse paradigma, as micorrizas poderiam transferir nutrientes e água entre árvores. Algumas afirmações sugerem que as árvores podem se comunicar por meio destas associações, transmitindo sinais de alerta para outras árvores, por exemplo.

Uma pesquisa publicada no dia 13 de fevereiro deste ano, no periódico Nature Ecology & Evolution afirma, no entanto, que o tema é “enviesado” e envolve “desinformação” científica, segundo termos do título da pesquisa.

Para os autores, não existem evidências suficientes para que sejam feitas afirmações sobre a comunicação por meio de uma rede de fungos. De acordo com a pesquisa, não há conteúdo peer-reviewed que de fato reforce as afirmações feitas ao longo de tantos anos.

Os autores da pesquisam, inclusive, anteriormente publicaram artigos acerca das micorrizas, anteriormente reforçando a ideia da comunicação por meio dos fungos. Em um ato de mea culpa, no entanto, os autores agora revisaram todo o conhecimento publicado a respeito do tema, demonstrando que as afirmações divulgadas sobre as redes de micorrizas na verdade não têm grande embasamento científico.

Fato é que as redes de micorrizas existem e são importantes para o ecossistema, quanto a isso não há dúvida. Afirmar que há comunicação e transmissão de nutrientes por meio delas, todavia, é outra história mais duvidosa.

Principais refutações para a teoria da rede de micorrizas

Segundo a pesquisa, ao longo de 25 anos, as afirmações sem validação científica sobre o tema duplicaram. Confira alguns dos pontos mais questionados:

Micorrizas são amplamente distribuídas, e permanentes?

Um dos principais questionamentos do artigo é a respeito da distribuição e perenidade destes fungos. Acontece que as micorrizas, assim como a maioria dos fungos do solo, se desenvolvem em períodos específicos, e permanecem em fases de resistência por muitos meses. Por isso muitos cogumelos só aparecem em algumas estações do ano.

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Imagem: Michael Reichelt/Pixabay 

Assim, por serem muito variáveis em ecossistemas também variados, é possível que esses fungos não possam ter um papel sólido ao longo do tempo na transferência de nutrientes e sinais químicos.

Acontece a transferência de nutrientes

Apesar de se saber que as micorrizas são muito benéficas para uma planta, ajudando-a a absorver nutrientes, a transferência destes nutrientes é que é duvidosa.

Segundo a pesquisa, não existe validação suficiente – e nem estudos de campo – para dizer que essa transferência acontece em larga escala e em florestas reais. Isso porque a maioria dos estudos anteriores foram feitos em estufas e ambientes controlados.

Ocorre comunicação entre árvores por meio dos fungos

Também não podemos dizer que as árvores transmitem sinais de aviso por meio dos fungos. De acordo com o paper, as evidências publicadas não são conclusivas para dizer que a sinalização ocorre deste modo.

Contudo, plantas possuem sistemas altamente complexos de comunicação química e hormonal, que não têm nenhuma relação conhecida com os fungos.

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