Arqueólogos encontram língua perdida em tábua cuneiforme na Turquia

Felipe Miranda
Inscrição cuneiforme do século IX a.C., possivelmente neo-assíria, encontrada no norte da Mesopotâmia. Imagem serve apenas para ilustração. Imagem: ReThink Quarterly

Em uma tábua cuneiforme, um grupo de pesquisadores encontraram uma língua extinta há muito tempo – milênios, para falar a verdade. A tábua de argila da Idade do Bronze foi encontrada na Turquia por pesquisadores da Julius-Maximilians-Universität Würzburg, universidade localizada na Alemanha.

A descoberta abre caminho para se decifrar a história das diversas línguas indo-europeias que existiram e ainda existem. Acredita-se que há e já houve centenas delas no mundo. Essas línguas estão relacionadas e nos trazem até as línguas atuais faladas na Europa e no mundo. Os pesquisadores acreditam que todas as línguas Indo-Europeias compartilham um ancestral comum na pré-história.

Com a colonização dos europeus por todo o mundo, hoje, metade da população mundial fala uma língua indo-europeia. Entre essas línguas, estão as línguas de origem europeia e de partes da Ásia fortemente ligadas à Europa historicamente, por exemplo: português, espanhol, inglês, francês, russo, português, alemão, punjabi, bengali e hindi.

A descoberta foi realizada na cidade de Hattusha, próximo a atual cidade de Boğazkale, antiga Boğazköy. Hattusha foi a capital do Império Hitita, um poderoso Império que existiu na região onde hoje é a atual Turquia, Líbano e Síria, em uma área chamada de Anatólia, a partir segundo milênio antes de Cristo e que foi extinto mais de um milênio a.C, durante da Idade do Bronze.

A área é, hoje, Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1986.

new indo european lang
Local de escavação onde foi encontrada a nova língua. Imagem: Andreas Schachner / Deutsches Archäologisches Institut

Há mais de 100 anos ocorrem escavações no local sob direção do Instituto Arqueológico Alemão. Desde então, quase 30 mil tábuas de argila foram encontradas e são documentadas desde então. Segundo um comunicado, os estudos “fornecem informações ricas sobre a história, a sociedade, a economia e as tradições religiosas dos hititas e dos seus vizinhos.”.

“Campanhas arqueológicas anuais lideradas pelo atual diretor do local, professor Andreas Schachner, do Departamento de Istambul do Instituto Arqueológico Alemão, continuam a aumentar os achados cuneiformes”, diz o comunicado.

A importância das descobertas

A maioria dos textos é escrita em hitita, a língua indo-europeia mais antiga atestada e a língua dominante no local. No entanto, as escavações deste ano renderam uma surpresa. Escondida em um texto ritual culto escrito em hitita está uma recitação em uma língua até então desconhecida”, explica o comunicado da Julius-Maximilians-Universität Würzburg (JMU Würzbur).

No comunicado, o professor Daniel Schwemer, chefe da Cátedra de Estudos Antigos do Oriente Próximo JMU Würzbur diz que os textos em hitita referem-se à nova língua encontrada como língua da terra de Kalašma, que é uma área localizada aproximadamente no noroeste do coração hitita. Os pesquisadores acreditam que Kalašma situa-se provavelmente na área da atual província de Bolu, ainda na Turquia.

“Os hititas estavam exclusivamente interessados em registrar rituais em línguas estrangeiras”, explica Schwemer.

Map Hittite rule en
Mapa do Império Hitita em sua maior extensão. As novas descobertas devem trazer luz ao nosso entendimento da história das línguas indo-europeias e da história da região. (Imagem: Wikimedia Commons).

Os textos, que foram escritos por escribas do rei hitita, trazem luz a várias tradições e meios linguísticos da Anatólia, Síria e Mesopotâmia. Há línguas faladas nas proximidades do Império Hitita que são pouco conhecidas, com o luwiano e palaico. Na região, havia também línguas não indo-europeias, como o hattic.

Já foi confirmado que a nova língua faz parte da família das línguas anatólio-indo-europeias. Por ser uma língua recém descoberta, o texto é, em sua maior parte, incompreensível. Entretanto, os pesquisadores já perceberam que o texto parece compartilhar bastante características com o Luwian.

Agora, os pesquisadores querem realizar novos estudos a fim de encontrar novas relações da língua com outras línguas e dialetos da região da Anatólia no final da Idade do Bronze para abrir caminho no conhecimento para a área.

Compartilhar