Aranha cuidando dos filhotes é descoberta em âmbar de 99 milhões de anos

Mateus Marchetto
Imagem: Guo et al. Proceedings of the Royal Society B, 2021.

No famoso livro e posterior filme Jurassic Park, um dos recursos da trama sci-fi é que pesquisadores conseguiram coletar o DNA de dinossauros em mosquitos presos no âmbar. Fora das telas e das páginas, contudo, artrópodes realmente se conservam em âmbar por milhões de anos. Ao invés de ressuscitar dinossauros, no entanto, pesquisadores utilizaram o âmbar para encontrar evidências de cuidado materno em aranhas de 99 milhões de anos de idade.

Ao norte de Myanmar, paleontólogos encontraram três fragmentos de âmbar contendo aranhas da extinta família Lagonomegopidae. Este grupo surgiu no planeta ainda no período Carbonífero (quando existiam insetos gigantes no planeta), em torno de 300 milhões de anos atrás.

Estas peças de âmbar, contudo, são mais recentes, datando do período Cretáceo, há 99 milhões de anos. A parte curiosa e rara da descoberta, no entanto, são os ovos e filhotes conservados juntamente às suas mães aranhas, em uma demonstração de cuidado materno pré-histórico nos aracnídeos.

210914162755 02 burmese amber spiders exlarge 169
Imagem: Guo et al. / Proceedings of the Royal Society B, 2021.

No âmbar (que é uma resina produzida por certas árvores), três mães aranhas acabaram presas e fossilizadas. Junto a elas estavam 24, 26 e 34 filhotes recém saídos dos ovos, também presos pela seiva grudenta de uma árvore.

Além disso, a cena congelada no tempo tinha pedaços de madeira envoltos em teias, sugerindo a presença dos restos de um possível ninho das aranhas.

De acordo com a pesquisa, disponível no periódico Proceedings of the Royal Society B, este é um caso extremamente raro de conservação de artrópodes, mostrando uma peça fundamental para o entendimento do cuidado materno nas aranhas.

Origens e estratégias do cuidado materno e paterno

Basta olhar para diferentes espécies de animais e seus filhotes para entender melhor a dinâmica da sua reprodução e evolução. Algumas espécies, por exemplo, têm vidas curtas e produzem muitos filhotes. Geralmente estes animais não cuidam de sua cria por muito tempo. Exemplo disso são os anfíbios e a maioria dos peixes.

Já outras espécies, como os elefantes e baleias, vivem muito e têm poucos filhotes ao longo de sua vida. Este segundo grupo também, em geral, cuida de seus filhos por mais tempo após o nascimento. O segredo para entender essa dinâmica, de forma puramente evolutiva, é a energia.

Acontece que a reprodução tem custos altíssimos de energia para um animal, o que implica diretamente na sobrevivência da espécie. Portanto, quando um bicho tem muitos filhotes, a maioria não sobrevive, mas ainda assim há muitos outros para dar continuidade à população.

gem 6579 1920
O âmbar se forma a partir da solidificação da seiva de certas árvores. Esta substância pode frequentemente prender artrópodes e se fossilizar. Imagem: Hans Braxmeier / Pixabay 

O cuidado materno e paterno, portanto, varia muito de acordo com o metabolismo e a sociabilidade de cada animal. Estas novas evidências, portanto, mostram que há muito tempo estas espécies de aranhas já evoluíram este tipo de investimento em suas crias.

Para reforçar isso, basta olhar as aranhas de porão em nossas casas hoje. Estes animais produzem pequenos sacos de teia com seus ovos, e os carregam cuidadosamente até certo ponto da vida dos filhotes. Algumas espécies de aranhas até mesmo se sacrificam para que seus cadáveres sirvam de comida para a cria.

Compartilhar