Aquamação: a versão aquática da cremação

Mateus Marchetto
Imagem: Israkress / Wikipedia Commons

Grande parte do planeta Terra têm uma única função: abrigar cemitérios. A cremação de entes queridos, por outro lado, pode custar muitos recursos financeiros e energia preciosa do planeta. Assim, uma nova alternativa para último descanso começa a se popularizar: a aquamação.

A cremação na água, aquamação ou – o nome mais científico – hidrólise alcalina, consiste em degradar um cadáver em um sistema aquoso e econômico em termos de energia.

Para tanto, a técnica se utiliza de um cilindro de metal preenchido com água em um fluxo leve. Além do mais, a água é aquecida a aproximadamente 150°C (muito mais fria que os 1000°C necessários para a cremação tradicional) e conta com um meio alcalino.

Ou seja, o pH da água que irá degradar a matéria é básico (o oposto de ácido), composto de 5% de uma mistura de hidróxidos de sódio e potássio; os outros 95% são água.

Ao final do processo, restam apenas os ossos, que são então reduzidos a pó e entregues à família junto aos demais resíduos (semelhantes a cinzas). Vale comentar que toda a matéria orgânica é degradada e pode ser reciclada.

O arcebispo Desmond Tutu, Nobel da Paz, escolheu a aquamação para seu funeral

No dia 26 de dezembro do ano passado, a África do Sul perdeu uma de suas importantes figuras públicas e símbolo de humildade no mundo todo. O arcebispo Desmond Tutu foi laureado em 1984 com o Nobel da Paz. Acontece que Tutu fora um dos maiores opositores públicos ao regime do Apartheid na África do Sul.

Além de pedir o caixão mais barato possível para seu funeral, e flores apenas para a sua catedral, Tutu deixou claro antes de sua morte que seu último destino deveria ser a aquamação. O processo, vale comentar, não é aceito ainda em todos os países e foi regulamentado em 2019 na África do Sul.

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Tutu faleceu aos 80 anos, na Cidade do Cabo. Imagem: World Economic Forumswiss / Wikipedia Commons

Assim, em uma cerimônia fechada, o corpo de Desmond Tutu foi hidrolisado ao longo de algumas horas e suas cinzas sepultadas sob o altar da Catedral de São Jorge.

Ponto positivo para o meio ambiente

Um corpo humano leva meses para ser decomposto. Além disso, a degradação no solo libera resíduos bioquímicos que podem contaminar lençóis freáticos e outros corpos d’água. E claro que o processo é natural, mas quando falamos de milhões de pessoas morrendo todos os dias, o problema começa a escalar.

A cremação surgiu, portanto, como alternativa aos cemitérios tradicionais. A ideia é que, em algum momento, não haverá mais espaço para enterrar pessoas e reduzi-las a cinzas pode ser uma alternativa. Contudo, a cremação requer temperaturas altíssimas por diversas horas e consome, em média, 7 vezes mais combustível que a aquamação. Além do mais, vários compostos tóxicos vão para a atmosfera com os gases da queima de um corpo humano.

Tendo isso em vista, novas alternativas ainda mais sustentáveis têm ganhado espaço nos funerais. A compostagem de corpos é uma opção também que exige um gasto quase nulo de combustíveis, mas demanda um bom espaço físico, ao menos até o tempo da degradação terminar.

Já a aquamação promete acelerar a decomposição de forma mais econômica e sustentável. Isso porque todos os resíduos do processo são inorgânicos e não causam impacto no ambiente após o descarte.

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