Nem só de beleza a atriz Hedy Lamarr viveu: ela foi uma mulher e inventora brilhante, que conseguiu, com muita audácia e elegância, questionar os estereótipos de gênero, os ideais de beleza e as artimanhas da tão famigerada Hollywood.
Com seu humor apurado, ela conseguiu fazer comentários sociais significativos que ultrapassaram fronteiras e que permanecem atuais mesmo após duas décadas de sua morte. Sua frase “Qualquer garota pode ser glamorosa. Tudo o que você precisa fazer é ficar parada e parecer estúpida” revela muito mais de sua personalidade e legado do que qualquer capa de revista ou publicidade que a atriz esteve envolvida.
No entanto, o que Hedy Lamarr tem a ver com o Wi-Fi e o GPS? É, no mínimo, uma história incrível.
Hedy Lamarr e a ciência
Hedwig Eva Maria Kiesler, nascida em 9 de novembro de 1914 na Áustria, demonstrou interesse precoce pelas artes cênicas, mas também era fascinada pela ciência e engenharia. Crescendo em uma família rica de classe média em Viena, Lamarr aprendeu piano clássico e apreciava balé, ópera e química, de acordo com Alexandra Dean, diretora do documentário “Bombshell: The Hedy Lamarr Story”. Ela adorava desmontar gadgets e, inclusive, desmontou sua caixa de música e quebrou uma lâmpada para entender seu funcionamento.
Lamarr chamou a atenção por sua beleza estonteante desde a adolescência, algo que poderia ajudá-la, mas também atrapalhar seu sucesso. Como relata Dean, ela se tornou atriz porque achou que seria mais divertido do que a escola e, assim, forjou uma autorização da mãe para faltar 10 horas de aula e fazer sua primeira audição aos 17 anos. Seu primeiro papel no cinema foi em um projeto alemão intitulado “Geld auf der Strase”. Hedy Lamarr permaneceu em produções europeias e, em 1932, conseguiu um papel controverso no filme escandaloso para a época, “Exstase”.
A atriz não se subjugou
Após um casamento tumultuado com o traficante de munições austríaco Fritz Mandl, que mantinha como uma boneca aprisionada e sem vida própria, Hedy Lamarr decidiu fugir de sua vida anterior e deixar para trás todos os parentes e laços que possuía na Áustria.
De braço dado com Mandl, frequentemente visto ao lado de amigos e parceiros de negócios suspeitos de ligações com o partido nazista, ela não pôde seguir sua paixão pela atuação.
No entanto, após assinar um contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer em Hollywood e mudar seu nome, Lamarr se tornou uma figura familiar e sua carreira decolou com seu primeiro filme americano, “Argel”. Embora tenha enfrentado um padrão duplo sexista, ela e Marlene Dietrich se destacaram em Hollywood graças ao seu fascínio exótico e erótico, mantendo seu valor de destaque.
Segunda Guerra Mundial e o salto de Hedy Lamarr
Em 1942, o pensamento inovador de Hedy Lamarr inspirou uma invenção sem precedentes. Em colaboração com o compositor George Antheil, Lamarr criou um dispositivo eletrônico que minimizava o bloqueio de sinais de rádio.
Foi no período em que ocorreu a Segunda Guerra Mundial que Hedy estava com medo de que sua mãe morresse em London Blitz e então todas as noites ela trabalhava na invenção de um torpedo de controle remoto.
A invenção, muito além de seu tempo, era tão avançada que seria capaz de caçar e explodir todos os submarinos nazistas no Oceano Atlântico, garantindo assim uma passagem segura para os Estados Unidos: ela criou um ‘sistema de comunicação secreta’ que não poderia ser hackeado. A patente foi registrada com o nome de casada de Lamarr na época, Hedy Kiesler Markey.
Lamarr tornou possíveis tecnologias como Wi-Fi, GPS e Bluetooth
Embora a invenção de Hedy Lamarr nunca tenha sido usada em tempos de guerra, ela teve um papel crítico no desenvolvimento de métodos de comunicação ao longo das décadas seguintes. “Lamarr deu a patente dessa invenção para a Marinha dos Estados Unidos e ela foi usada pela primeira vez durante a Crise dos Mísseis de Cuba”, explica Dean.
Muitos especialistas acreditam que a tecnologia de salto de frequência pioneira por Lamarr foi um precursor de tecnologias modernas, como Wi-Fi, GPS e Bluetooth, e dispositivos como telefones celulares.
Foi apenas após a sua aposentadoria que Hedy Lamarr obteve reconhecimento por suas contribuições tecnológicas; afinal de contas, ela era muito mais do que uma estrela de cinema. Embora sua beleza física tenha inspirado algumas das peças mais famosas da cultura pop: ela foi modelo para a Branca de Neve da Disney e inspiração para a Mulher-Gato da DC Comics, Lamarr certamente foi e continua sendo uma mulher histórica.