Ao longo dos séculos, o homem foi capaz de criar uma infinidade de instrumentos e entes que favorecessem sua vida, inclusive concebeu sistemas econômicos, políticos e doutrinas que até hoje fundamentam a sociedade. Desse modo, se faz necessário entender sobre a diferença entre capitalismo, comunismo e socialismo, sobretudo para que se utilize esses termos corretamente.
Em discussões políticas acaloradas – principalmente em ano eleitoral – é comum que se argumente que todos os males são provenientes de um dos modelos econômicos. No entanto, os conceitos políticos são rotineiramente utilizados sem que se leve em conta o seu real significado.
Diferença entre capitalismo, comunismo e socialismo: um contexto histórico
Desde o período medieval, o capitalismo como sistema econômico e político cresceu na Europa. O termo era utilizado para nomear o sistema no qual o capital fazia com que as pessoas – os capitalistas – enriquecessem. O sistema é baseado no lucro, na defesa da propriedade privada, no livre comércio e no individualismo; neste caso, a riqueza alcançada pelos indivíduos era considera como mérito.
Seus primeiros defensores ideológicos foram, do lado econômico, a Escola Austríaca; do lado filosófico, os escritos de Ayn Rand. Partindo dessa defesa, o portal capitalism.org assume as ideias de Rand quando determina que: “O capitalismo é o sistema social do Iluminismo, fundado em uma filosofia baseada na razão, no egoísmo e na liberdade. Central para um conceito adequado de capitalismo é a reverência pelo poder da razão e da mente humana. É esse poder que nos permite aproveitar o poder do átomo para obter energia, construir aviões e foguetes para viajar pelos céus e estrelas e inovar a tecnologia para aumentar a quantidade e melhorar a qualidade de nossas vidas.”
Entretanto, ainda em meados do século XIX, muitas pessoas perceberam que o capitalismo envolvia diversas injustiças sociais que não poderiam continuar sendo aceitas, mesmo com todo o avanço tecnológico proveniente dele. Nesse contexto, “O Manifesto Comunista”, publicado em 1848 por Karl Marx e Friedrich Engels, é considerado como o divisor de águas, pelo menos no que diz respeito à utilização das pessoas dos termos “capitalismo”, “socialismo” e “comunismo” como descrições de diversos conceitos políticos. Assim, o capitalismo tinha uma má reputação, enquanto o socialismo e o comunismo, no sentido de significarem um futuro melhor e mais justo, eram consideradas como ideais nobres.
No século XX, o socialismo foi finalmente implantado em diversos países, mas de forma decepcionante, uma vez que não se constituiu como o esperado. Em contrapartida, o que se observa é que o capitalismo e considerado ruim quando comparado ao socialismo, visto como bom. Isso porque enquanto as deficiências do primeiro justificam suas falhas deploráveis, o socialismo “não dá certo” por questões de implementação, não por ser um modelo passível de enganos.
Comunismo e socialismo não são sinônimos
Frequentemente e de forma errônea, comunismo e socialismo são considerados termos sinônimos. Contudo e embora sejam semelhantes, há diferenças essenciais em cada um dos modelos. O comunismo é, desse modo, uma forma de ordem social que tem como centro a comunidade.
Ao criticarem o capitalismo, Marx e Engels apontaram para a característica imoral presente na competição desenfreada e na busca impiedosa por dinheiro, pois fazem vir à tona a exploração das massas por um número muito menor de pessoas, aqueles que são os poucos privilegiados. Como alternativa aceitável de mudança, os pensadores imaginaram uma sociedade livre de classes, onde não houvesse hierarquia, nem moeda, nem sequer propriedade pessoal. Nessa sociedade todas as pessoas trabalhariam em harmonia, os problemas seriam facilmente e gentilmente solucionados. Além disso, haveria apenas a produção de bens e serviços que fossem suficientes; no comunismo a contribuição seria dada conforme as habilidades de cada indivíduo e o pagamento seria condizente com suas necessidades.
Nesse sentido, o comunismo clássico acreditava que uma sociedade comunista era o destino da humanidade, porém, os seguidores da doutrina perceberam que seria impossível fazer a migração do capitalismo para o socialismo de forma tão abrupta; havia a ideia comum de que a sociedade precisava de um período de transição. O socialismo, portanto, é esse momento de passagem, transferência de um modelo considerado imoral para um sistema ideal.
Desse modo, no socialismo, os representantes do povo deveriam se encarregar dos meios de produção e orientar a sociedade para o comunismo, como uma espécie de destino final. A própria existência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tinha esse objetivo. O Partido Comunista da União Soviética deveriam ter feito a transição, mas quanto mais tempo estavam no poder, menos falavam sobre o comunismo. Seguindo a mesma linha, o comunismo nunca foi implementado em nenhum lugar como sistema político. Cuba, China e Coreia do Norte simpatizaram com os ideais do comunismo, mas todos eles sempre foram socialistas.
Capitalismo e socialismo: um embate
O contexto pelo qual o capitalismo se desenvolveu tem como premissas o avanço gradual do setor tecnológico e sua implicação no desenvolvimento social e político. O socialismo, por sua vez, é uma invenção humana que foi pautada no desejo de assumir o controle da sociedade. O chamado “socialismo científico” é justamente a tomada de consciência sobre a ordem política existente. Muitos dos apoiadores do socialismo intitulam-se de “progressistas” devido à essa abordagem crítica que tem como objetivo trazer mudanças consideráveis para tornar a sociedade melhor, com a implementação de políticas – baseada na decisão e ação coletivas – que possam mudar as engrenagens impostas.
O bem da sociedade como um todo, é definido de forma coletiva no socialismo. Nesse caso, os representantes têm poderes para implementá-lo. No entanto, os indivíduos que não concordem com o que se acredita ser o bem da sociedade podem ter seus direitos suprimidos. A liberdade de expressão, por exemplo, caso corroborasse com os ideais capitalistas, era tida como imoral e obsoleta. Já no capitalismo, as liberdades pessoais – sobretudo a proteção da propriedade privada, a liberdade de empresa e a liberdade de expressão – são de suma importância, pois todos os indivíduos são livres para perseguir seus interesses, principalmente os econômicos.
No sistema capitalista, por sua vez, o governo é incumbido apenas de garantir segurança e liberdade igualitária para todos. Tal ideia se justifica pela defesa de que o governo deve se manter isento das escolhas que os indivíduos fazem, uma vez que o bem da sociedade como um todo é melhor alcançado sem a coerção governamental. Dessa forma, os objetivos pessoais, sejam econômicos, religiosos, científicos ou quaisquer outros que sejam, devem estar livres da ação ou influência do governo.
Desigualdade social
Nota-se, portanto, que os conceitos ideológicos do capitalismo e do socialismo são opostos, antagônicos em sua essência. Se no socialismo, as pessoas tomam decisões em coletividade acerca do direcionamento do progresso, tanto econômico, como social; no capitalismo o bem para a sociedade é a soma das ações individuais das pessoas que não têm suas expectativas pessoais coagidas pelo governo. Os rumos do progresso, no capitalismo, não tem agenda ideológica.
Os socialistas defendem que a sociedade deve identificar a direção do progresso para que seja possível a implementação de políticas que atinjam o objetivo. Os capitalistas, em contraditório, acreditam que o futuro não deve ser modelado, o progresso deve ser o que quer que aconteça.
Vale salientar que os críticos sinalizam para a disparidade social em se tratando do livre mercado, pois a igualdade dos indivíduos pregada no capitalismo é mais ficcional do que realística. As pessoas ricas detém o poder de coagir os outros; o que acentua a desigualdade social no sentido de que o rico cada vez fica mais rico e o pobre fica cada vez mais pobre.