A água alienígena de Urano e Netuno

Felipe Miranda
Urano e Netuno. (Créditos da imagem: Wikimedia Commons).

Urano e Netuno são os dois irmãos menores entre os gigantes gasosos. Apesar de serem gasosos, eles possuem, em seu interior, água. E os cientistas estão interessados em estudar essa água alienígena.

Em um estudo, publicado em acesso aberto no dia 17 de julho na revista Nature Communications, os cientistas descrevem os motivos pelo qual eles estudam essa água, os métodos e os resultados do trabalho. 

O trio que conduziu o estudo é formado por pesquisadores da Escola Internacional de Estudos Avançados (SISSA, na sigla em italiano) em Trieste, Itália e da Universidade da Califórnia em Los Angeles

Olhando indiretamente

Estudar a água pode parecer algo não muito interessante. Entretanto, através da água, é possível estudar diversas propriedades e estimar com uma precisão nunca antes vista, a idade exata desses dois irmãos gasosos, com dados dos campos físicos do planeta, já que não temos como enxergar diretamente seu interior. 

“O impacto da estrutura interna e da história térmica dos planetas em suas características observáveis, como luminosidade ou campo magnético, depende crucialmente do calor pouco conhecido e propriedades de transporte de carga de suas camadas internas”, explicam os cientistas no artigo

Olhar para fora é a única forma que pode-se conhecer o interior deles. “Nosso conhecimento do interior de outros planetas além da Terra depende principalmente da observação de seus campos magnéticos e propriedades de superfície”.

“Simulações de computador podem ser nosso único manuseio sobre as propriedades da matéria em condições físicas que não podem ser alcançadas em laboratório”, explicam.

Ou seja, com as observações externas, dos campos físicos, eles puderam coletar dados que foram analisados por computadores e, em laboratório, podem replicar os modelos para simular os processos físicos que ocorrem por lá em uma escala menor, a fim de entender as estruturas internas dos pequenos grandões. 

Uma água alienígena, realmente alienígena. 

São três as fases da água que podem ocorrer por lá: sólida, líquida e gelo superiônico (uma espécie de gelo muito quente, previsto há algumas décadas e replicado em laboratório no ano passado).

“Em tais condições físicas exóticas, não podemos pensar no gelo como estamos acostumados”, explicam os cientistas sobre o gelo superiônico, em um comunicado da SISSA.

“Até a água é realmente diferente, mais densa, com várias moléculas dissociadas em íons positivos e negativos, transportando assim uma carga elétrica. A água superiônica fica em algum lugar entre as fases líquida e sólida”, explicam.

É por isso que a descrevemos no título, assim como outros portais de notícia, como água alienígena. Não tem a ver, na verdade, simplesmente com ela ser de fora da Terra, mas sim com o quão estranha ela é. 

Com os modelos computacionais e experimentais, os pesquisadores puderam hipotetizar que o núcleo deles é formado por água congelada, muito provavelmente. São literalmente gigantes de gelo. 

“No caso de Urano, por exemplo, há muito que se reconheceu que sua luminosidade notavelmente pequena pode ser explicada por modelos não adiabáticos do interior”, explicam no artigo. Em outras palavras, o pouco brilho pode ocorrer pelo núcleo congelado. 

Ademais, essa “água alienígena” conduz a eletricidade de forma melhor do que na Terra, por estar ionizada (com elétron a mais ou a menos no átomos). A água superiônica pode compor as densas camadas misteriosas em seus interiores. 

O estudo foi publicado na revista Nature Communications. Com informações de Space.com e SISSA

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