Um estudo recentemente publicado na Scientific Reports traz conclusões preocupantes sobre o bioma do Cerrado, que vem sofrendo significativas reduções nas chuvas ao longo das últimas três décadas. A pesquisa analisou dados de 70 diferentes locais, dos quais 54 apresentaram declínio na precipitação anual e no número de dias com chuva em comparação com o período entre 1960 e 1990. Apenas 16 locais registraram aumento nas chuvas.
A temporada de chuvas tem demorado mais a chegar na maior parte do Cerrado, conforme confirmado pelo estudo. Essa mudança afeta negativamente a recarga dos aquíferos e reduz a disponibilidade de água nos reservatórios que abastecem cidades como Brasília. Um exemplo emblemático dessa situação ocorreu em 2017, quando foi necessário implementar um racionamento de água na capital federal devido ao esgotamento dos reservatórios durante a estação chuvosa.
O estudo aponta duas causas principais para o declínio das chuvas no Cerrado: o desmatamento e o aquecimento global. O desmatamento é especialmente preocupante, pois já devastou mais da metade da vegetação nativa do bioma. Além disso, ele reduz a evapotranspiração, processo importante para manter alguma umidade mesmo nos meses de seca. Já o aquecimento global está alterando o regime de ventos no Atlântico Sul, afastando a umidade das áreas do Cerrado.
O Cerrado abriga muitas nascentes das principais bacias hidrográficas do Brasil, sendo essencial para o abastecimento de água em várias regiões. O Pantanal, por exemplo, depende totalmente das águas que nascem no bioma. Portanto, a diminuição das chuvas no Cerrado pode ter efeitos em cascata em outras localidades.
Os pesquisadores ressaltam a importância de avaliar como o agronegócio pode estar prejudicando um dos biomas mais sensíveis do Brasil. O desmatamento para a expansão do monocultivo de soja é uma preocupação particular na região conhecida como “Matopiba”, situada entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. A diminuição da chuva média levanta questionamentos sobre a sustentabilidade do modelo de produção agrícola atualmente praticado no Cerrado, especialmente em relação à agricultura industrial.
O Observatório do Clima destaca a falta de áreas protegidas e os limites estabelecidos por lei para o desmatamento como fatores que contribuem para a permissividade ambiental no Cerrado. É fundamental promover medidas efetivas que garantam a preservação desse importante bioma brasileiro.
