Pesquisadores a bordo de uma embarcação na Islândia foram pegos de surpresa em 2021 ao avistarem uma orca fêmea nadando ao lado de um filhote bem diferente do que se poderia esperar: o animal, além de não ter a mancha branca próxima aos olhos, comuns às orcas (Orcinus orca) sequer era da mesma espécie.

A pesquisadora de orcas Marie-Thérèse Mrusczok trabalhava no deque superior da embarcação quando viu a orca e o que suspeitou ser uma baleia-piloto. Ela contou ao portal Live Science que o avistamento a surpreendeu, e que todos estranharam o tamanho pequeninho do filhote, acreditando que se tratava da mesma espécie das orcas.

Mrusczok contou a equipe que não se tratava de um filhote de orca, e após consultar com outros pesquisadores, confirmou que de fato se tratava de um filhote de baleia-piloto (Globicephala melas). Mrusczok e seus colegas publicaram a descoberta em 17 de fevereiro na revista canadense Journal of Zoology, no que poderia ser o primeiro caso documentado de uma orca cuidando de um filhote de outra espécie.

Os pesquisadores observaram a orca e o filhote por 21 minutos antes da embarcação prosseguir. Nesse período, relatam que a orca parecia estar cuidando do filhote. Mrusczhok contou que ela exibiu um “comportamento protetor” em relação a ele. Nomeada como Sædís, um nome islandês, a orca já era estudada há nove anos pela equipe, e não tivera nenhum filhote nesse tempo, possivelmente por ser muito velha e não produzir leite.

De onde veio o filhote adotivo da orca?

O filhote encontrava-se numa má situação de saúde, e era improvável que a orca o estivesse alimentando. Quando Sædís foi vista novamente em 2022, o filhote não estava mais com ela.

Mrusczok acredita que o filhote possivelmente morreu, mas os pesquisadores ainda não tinham descoberto porque os dois estavam juntos em primeiro lugar. Uma possível explicação demonstrada no estudo é de que a orca encontrou o filhote perdido e o adotou como um filhote substituto.

Outra hipótese mais sombria é de que a orca sequestrou o filhote. As baleias-piloto afugentam as orcas nas águas islandesas, onde competem por comida, além de vê-las como possível ameaça. Mas Mrusczok observou algo novo quando Sædís e suas companheiras estavam sendo perseguidas por baleias-piloto em 2022: quando elas interromperam a perseguição, as orcas davam a volta e iam em sua direção novamente.

Os autores do estudo sugerem que Sædís, agora sem filhotes, pode ter se aproximado das baleias-piloto diversas vezes em busca de um novo filhote para levar, e que esse seria o motivo das baleias-piloto a expulsarem da área. A pesquisadora também observou que a equipe está coletando dados todos os anos acerca das interações sociais entre essas duas espécies, e que espera descobrir mais informações no futuro.