Ciência
Universidades Públicas respondem por mais de 95% da produção científica do Brasil

Quem minimamente acompanha a questão da produção científica no Brasil e do financiamento da pesquisa em ciência, tecnologia e inovação sabe que, ao lado da meta tão longamente sonhada da aplicação de 2% do PIB no setor, um bom equilíbrio entre investimentos públicos e privados nessas atividades constitui o segundo grande objeto de desejo de boa parte dos estrategistas e gestores da área – além, é claro, da parcela da comunidade científica nacional bem antenada às políticas de CT&I.
Isso se apresentou desde a redemocratização do país, na segunda metade dos anos 1980. O espelho em que todos miravam era obviamente o das nações mais desenvolvidas. O pensamento que então se espraiava, muito distante de recentíssimas tentações obscurantistas, era o de que o desenvolvimento científico e tecnológico constituía condição sine qua para um verdadeiro desenvolvimento socioeconômico e para a implantação de uma sociedade mais justa.
Na época, o Brasil andava ali pela casa de pouco mais de 0,7% do PIB em investimentos totais em ciência e tecnologia e a participação do setor privado, quer dizer, de empresas, ressalte-se, nesse bolo, mal ultrapassava a marca de 20%. De lá para cá, o país fez uma reviravolta nesses números, avançou muito, e pode-se mesmo dizer que cresceu espetacularmente, quando a métrica é o volume de artigos científicos indexados em bases de dados internacionais, um indicador mundialmente consagrado. Essa produção científica praticamente dobrou do começo para o fim da primeira década do século XXI. E continuou sua ascensão consistente (dados disponíveis até 2016).
A expansão notável, fruto de algumas políticas muito bem estruturadas que estão a merecer outros comentários no Ciência na rua, foi baseada na capacidade de produzir ciência das universidades públicas brasileiras, com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ou seja, duas grandes universidades estaduais paulistas, mais algumas grandes universidades federais, como a do Rio de Janeiro (UFRJ), a de Minas Gerais (UFMG) e a do Rio Grande do Sul (UFRGS), na liderança desse processo. Mais de 95% dessa produção científica do Brasil nas bases internacionais deve-se, assim, à capacidade de pesquisa de suas universidades públicas.
Daí o espanto que causou a seguinte afirmação do presidente da República durante entrevista à rádio Jovem Pan, na noite da segunda-feira, 8 de abril:
“(…) e nas universidades, você vai na questão da pesquisa, você não tem, poucas universidades têm pesquisa, e, dessas poucas, a grande parte tá na iniciativa privada, como a Mackenzie em São Paulo, quando trata do grafeno”.
A resposta da Academia Brasileira de Ciências
A primeira e tranquila reação do presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, físico, professor da UFRJ, pesquisador dos mais respeitados por seus brilhantes trabalhos em emaranhamento quântico, foi observar que “é importante fornecer ao Presidente da República a informação correta sobre as universidades brasileiras, coletadas por órgãos internacionais”
Relata em seguida que, “de acordo com recente publicação feita por Clarivate Analytics a pedido da CAPES, o Brasil, no periodo de 2011-2016, publicou mais de 250.000 artigos na base de dados Web of Science em todas as áreas do conhecimento, correspondendo à 13a posição na produção científica global (mais de 190 países)”. As áreas de maior impacto, prossegue, “correspondem a agricultura, medicina e saúde, física e ciência espacial, psiquiatria, e odontologia, entre outras”.
Davidovich ressalta que “todos os estados brasileiros estão representados” nessa produção, “o que mostra uma evolução em relação a períodos anteriores e o papel preponderante desempenhado pelas universidades públicas que estão presentes em todos os estados”.
Outro ponto fundamental de sua fala: “Mais de 95% das publicações referem-se às universidades públicas, federais e estaduais. O artigo lista as 20 universidades que mais publicam (5 estaduais e 15 federais), das quais 5 estão na região Sul, 11 na região Sudeste, 2 na região Nordeste e 2 na Centro-Oeste”.
Essas publicações, destaca o presidente da ABC, “estão associadas a pesquisas que beneficiam a população brasileira e contribuem para a riqueza nacional. Graças a essas pesquisas, o petróleo do pré-sal representa atualmente mais de 50% do petróleo produzido no país, a agricultura brasileira sofisticou-se e aumentou sua produtividade, epidemias, como a do vírus da zika, são enfrentadas por grupos científicos de grande qualidade, novos fármacos são produzidos, alternativas energéticas são propostas, novos materiais são desenvolvidos e empresas brasileiras obtêm protagonismo internacional em diversas áreas de alto conteúdo tecnológico, como cosméticos, compressores e equipamentos elétricos”.
A realidade que os dados mostram
Coordenador do projeto Métricas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o professor Jacques Marcovich, ex-reitor da USP (1997-2001), enviou a pedido do Ciência na rua duas tabelas também muito reveladoras da produção científica das universidades brasileiras. A primeira (aqui), baseada no Leiden Ranking, “mostra que das 20 universidades que mais publicam no Brasil, não há nenhuma privada”, ele comentou.
A segunda (aqui), modificada do capítulo de autoria de Solange Santos na obra coletiva Repensar a Universidade (Repensar a universidade: desempenho acadêmico e comparações internacionais, organizado por Jacques Marcovitch, 256 pp, São Paulo, ComArte, 2018, disponível para download em http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/book/224), mostra resultados de todas as universidades no Brasil em rankings internacionais e, ele observa, “aparecem apenas as PUCs em termos de privadas, e em posições relativamente baixas”.
Uma terceira tabela (veja o PDF), mais extensa e bastante atualizada, foi obtida pelo diretor científico da Fapesp, professor Carlos Henrique de Brito Cruz, a partir da base de dados Incites (https://jcr.incites.thomsonreuters.com). O que ele observa é que, “das 100 universidades brasileiras que mais publicaram artigos científicos no quinquênio 2014-2018, há 17 privadas. A melhor colocada é a PUC Paraná, em 37º lugar”.
Essa publicação foi originalmente realocada do site oficial da Academia Brasileira de Ciências.
Ciência
Este mineral raro é mais antigo que a própia Terra

O mineral krotite é um tesouro cósmico fascinante que desafia nossa compreensão sobre a formação do universo. E não estamos falando de diamantes ou rubis. Essa substância rara surgiu há bilhões de anos, muito antes do nascimento da Terra, em condições extremas que mal podemos imaginar.
Sua descoberta oferece aos cientistas uma janela única para os primórdios do Sistema Solar. O krotite é tão incomum que sua existência parece quase fictícia, rivalizando com as gemas mais preciosas em termos de raridade e valor científico. Sua origem extraterrestre o coloca em uma categoria própria entre os minerais conhecidos pela humanidade.
O krotita é um mineral verdadeiramente extraordinário. Sua formação ocorreu em temperaturas extremamente altas, comparáveis às encontradas no interior de estrelas moribundas ou no disco de material que deu origem ao nosso Sol.
Em 2011, cientistas fizeram uma descoberta notável ao encontrar krotita em um fragmento de meteorito na África. Esse meteorito, denominado NWA 1934, viajou pelo cosmos por bilhões de anos antes de cair na Terra. A krotita não pode se formar naturalmente em nosso planeta devido às condições específicas necessárias para sua criação.
As circunstâncias que deram origem à krotita são semelhantes às dos primórdios do Sistema Solar, há cerca de 4,6 bilhões de anos. Isso sugere que esse mineral seja um dos mais antigos em nossa vizinhança cósmica.
Os meteoritos funcionam como cápsulas do tempo, preservando minerais como a krotita em seu estado original. Diferentemente da crosta terrestre, que está em constante transformação, os meteoritos permanecem praticamente inalterados. Isso permite aos cientistas estudar a krotita como era há bilhões de anos.
O krotita, um mineral raro encontrado em meteoritos, oferece pistas fascinantes sobre o início do sistema solar. Essa substância, composta por cálcio, alumínio e oxigênio, só poderia se formar em temperaturas extremamente altas, semelhantes às da nebulosa solar primitiva.
Os pesquisadores têm uma teoria sobre como esse mineral se formou. Primeiro, ele se cristalizou no ambiente quente da nebulosa solar. Depois, reagiu com um gás rico em alumínio, criando camadas de minerais diferentes. Eventos de derretimento parcial causaram a corrosão de alguns minerais e a formação de outros. Por fim, processos mais frios introduziram cloro e ferro.
Curiosamente, os humanos criaram algo muito parecido sem perceber. Certos tipos de cimento aluminoso têm uma composição química quase idêntica à do krotita. A diferença está no arranjo dos átomos, assim como o diamante e o grafite são feitos do mesmo elemento, mas têm estruturas diferentes.
Outro mineral meteorítico, o dmitryivanovita, também se assemelha ao krotita em sua fórmula química. Ambos receberam nomes em homenagem a cientistas importantes: Alexander Krot, que estudou os processos do sistema solar primitivo, e Dmitriy Ivanov, respectivamente.
Essa semelhança entre minerais extraterrestres e materiais terrestres destaca como a natureza às vezes imita a si mesma em escalas cósmicas e humanas. O estudo desses compostos pode revelar segredos sobre a formação de planetas e o desenvolvimento de novos materiais aqui na Terra.
A krotita pode ser mais antiga que a Terra. Ela nos lembra das forças surpreendentes que moldaram o universo. A geologia não está apenas sob nossos pés, mas também sobre nossas cabeças. Basta olhar com atenção para perceber.
Ciência
NASA descobre base secreta do exército enterrada por décadas sob o gelo da GroelÂndia

Quando os seres humanos entram em conflito, as situações podem se tornar bastante obscuras. Abrigos secretos e instalações clandestinas se tornam comuns – e nem sempre podem ser reutilizados após o fim das hostilidades.
Cientistas da NASA, a bordo de um jato Gulfstream III, estavam realizando medições do gelo ártico com radar quando se depararam com uma instalação secreta, há muito abandonada e encoberta pela camada de gelo na Groenlândia.
“Estávamos analisando o leito de gelo e, de repente, surgiu o Camp Century”, relata Alex Gardner, cientista da criosfera no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. “No início, não fazíamos ideia do que era.”
O Camp Century foi erguido no noroeste da Groenlândia pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA entre 1959 e 1960, com a escavação de um sistema de 21 túneis que se estendiam por cerca de 3 quilômetros sob o gelo, conferindo à base o apelido de “cidade sob o gelo”.
Essa instalação foi projetada para acomodar até 200 soldados durante todo o ano e armazenar até 600 mísseis balísticos nucleares de médio alcance. Devido à sua localização remota, a base era alimentada por um reator nuclear.
O Camp Century representava a primeira fase do Projeto Iceworm, uma iniciativa audaciosa para criar uma rede de locais de lançamento nuclear que fossem capazes de suportar um ataque inicial. Contudo, a estabilidade da camada de gelo não era a esperada, e o Camp Century nunca chegou a ser finalizado.
Em vez disso, os EUA abandonaram a instalação após apenas oito anos, em 1967, deixando para trás milhares de toneladas de resíduos, incluindo material radioativo. Desde então, a camada de gelo acumulada sepultou o Camp Century sob 30 metros de gelo.
Na verdade, a base nunca foi completamente perdida. Cientistas expressam sérias preocupações sobre o que poderá ocorrer com todo esse resíduo caso a camada de gelo continue a derreter.
Há o risco de que líquidos – 200.000 litros de combustível fóssil e 24 milhões de litros de outros resíduos, como esgoto, deixados no local – possam infiltrar-se ainda mais na camada de gelo à medida que esta se degrada, possivelmente chegando ao oceano. Pesquisas de radar frequentemente revelam indícios da base, que permanece oculta como uma bomba-relógio ambiental sob o gelo. Contudo, em abril de 2024, utilizando o Radar de Abertura Sintética de Veículo Aéreo Desabitado (UAVSAR) da NASA, os cientistas conseguiram obter imagens do Camp Century com um nível de detalhe sem precedentes.
“Com os novos dados, estruturas individuais da cidade secreta tornam-se visíveis de uma maneira nunca antes observada”, afirma Chad Greene, cientista da criosfera no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.
Na década de 1960, acreditava-se que a camada de gelo resolveria o problema do descarte de resíduos. Não havia necessidade de tomar medidas, pois a neve os enterraria e congelaria indefinidamente. Assim, ao invés de seguir um processo cuidadoso para desativar completamente o Camp Century, a base foi simplesmente deixada à mercê das intempéries.
Essa decisão, como a retrospectiva dolorosa nos mostra agora, foi extremamente míope. Desde 1978, as plataformas de gelo da Groenlândia perderam 35% de seu volume, e essa perda de gelo está ocorrendo de maneira alarmante. O derretimento do gelo e o subsequente aumento do nível do mar podem acelerar a contaminação dos resíduos deixados para trás.
Por enquanto, no entanto, as imagens do Camp Century obtidas com o UAVSAR não serão utilizadas para abordar diretamente o problema. Os pesquisadores estão concentrados em medir a espessura da camada de gelo em geral, a fim de entender melhor como o derretimento do gelo impactará nosso planeta.
Ciência
O único reator nuclear natural conhecido na Terra tem 2 bilhões de anos

Um fenômeno fascinante foi revelado em Oklo, Gabão, há décadas atrás. Cientistas encontraram evidências de um reator nuclear natural que operou há mais de 2 bilhões de anos. Esta descoberta surpreendente ocorreu em 1972, quando um físico francês notou algo incomum em amostras de urânio.
O urânio normalmente contém três isótopos: urânio-238, urânio-234 e urânio-235. O urânio-235 geralmente representa 0,72% do total. Mas nas amostras de Oklo, essa porcentagem era menor. Em alguns locais, chegava a apenas 0,4%.
Essa diferença pequena mas significativa levantou questões. Os cientistas investigaram mais a fundo e chegaram a uma conclusão impressionante: um reator nuclear natural havia funcionado naquele local há bilhões de anos.
“Todo o urânio natural hoje contém 0,720 por cento de U-235”,
explica a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) . “Se você o extraísse da crosta terrestre, ou de rochas da Lua ou em meteoritos, é isso que você encontraria. Mas aquele pedaço de rocha de Oklo continha apenas 0,717 por cento.”
As condições para esse evento eram raras. O urânio-235 era mais abundante no passado distante. Além disso, água subterrânea era essencial para sustentar a reação. A água desempenhava um papel crucial, assim como nos reatores nucleares modernos.
O processo funcionava em ciclos. A água aquecia e virava vapor, interrompendo a reação. Depois esfriava, voltava ao local e a reação recomeçava. Isso continuou por milhares de anos até que o “reator” natural parou de funcionar.
Esta descoberta mostra como a natureza pode criar fenômenos incríveis. Muito antes dos humanos dominarem a energia nuclear, processos naturais já haviam produzido reações semelhantes. O reator de Oklo oferece uma visão única da história da Terra e dos processos físicos que moldam nosso planeta.
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