Um fenômeno estranho ocorreu durante o eclipse solar marciano

Felipe Miranda
(Imagem: NASA / JPL-Caltech).

Durante o eclipse total solar na Terra, momentaneamente, os instrumentos captam uma pequena redução na temperatura atmosférica, além de ventos anormais. O eclipse solar marciano, no entanto, é um pouco mais estranho do que isso. 

Um grupo de cientistas do Instituto de Geofísica da ETH Zurique, Suíça, percebeu isso, através de dados da sonda Insight, da NASA. Os resultados foram publicados no periódico Geophysical Research Letters.

A Insight possui um sismógrafo. Quando Fobos, uma das duas luas de Marte, tampa o Sol, o sismógrafo é levemente inclinado. Ou seja, algo modifica levemente o eixo marciano. O efeito é muito pequeno, mas o sismógrafo é extremamente sensível. 

O curioso é que Fobos se move na órbita de Marte de forma muito rápida. Ele gira em torno do planeta três vezes a cada dia marciano. Um astronauta por lá veria Fobos cruzar o céu a cada 5 horas.

Por isso, um eclipse solar marciano é extremamente rápido. Dura cerca de 30 segundos, em comparação com os vários minutos de duração de um eclipse solar na Terra.

“Quando a Terra passa por um eclipse solar, os instrumentos podem detectar um declínio na temperatura e rajadas de vento rápidas, à medida que a atmosfera esfria em um determinado lugar e o ar foge daquele local”, diz Simon Stähler, sismólogo do Instituto de Geofísica ETH Zurique em um comunicado.

Mas em Marte é diferente. A Insight não detectou nenhuma mudança atmosférica em Marte durante os eclipses, seja quanto aos ventos, seja quanto à temperatura no planeta vermelho.

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Este objeto no chão, ao lado do lander, é o sismógrafo. (Imagem: NASA/JPL).

Estudando as peculiaridades

Para saber que naquele momento houve um eclipse, o que foi percebido, na verdade, foi a diferença na quantidade de luz recebida, entretanto. A placas solares equipadas no lander Insight que detectaram.

“Quando Phobos está em frente ao sol, menos luz solar atinge as células solares e estas, por sua vez, produzem menos eletricidade”, explica Stähler no comunicado da ETH Zurique. Houve uma queda de 30% na quantidade de luz recebida. 

“Mas não esperávamos essa leitura do sismômetro; é um sinal incomum”, diz Stähler. A função principal do sismógrafo, assim como na Terra, é detectar terremotos, assim como outros tipos de tremores.

“Essa inclinação é incrivelmente pequena”, explica Stähler. “Imagine uma moeda de 5 francos; agora, empurre dois átomos de prata sob uma borda. É dessa inclinação que estamos falando: 10^-8”.

E nada tem a ver com a gravidade de Fobos, no entanto. “A explicação mais óbvia seria a gravidade de Fobos, semelhante a como a lua da Terra causa as marés, mas rapidamente descartamos isso”.

Entretanto, os cientistas descobriram que ocorre algo muito mais interessante. Quando a Lua tapa o Sol, esses breves 30 segundos são suficientes para que o solo esfrie um pouco.

No entanto, o solo não é totalmente igual. Há variações em formato e composição, por exemplo. Portanto, ele resfria de forma desigual. Isso faz com que o terreno abaixo do sismógrafo seja deformado, em relação à posição anterior.

E foi, portanto, simplesmente isso que causou essa estranha detecção durante o eclipse solar marciano. É um fenômeno que já causou alguns mal entendidos também aqui na Terra.

O estudo foi publicado no periódico Geophysical Research Letters. Com informações de Science Alert e ETH Zurich

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