Um ‘cérebro no intestino’ regula a insulina e o açúcar no sangue

Ruth Rodrigues
(Imagem: Pixabay)

A descoberta não é nova. No entanto, não haviam muitas evidências concretas sobre a real função desse ‘cérebro no intestino’. A ciência trabalha com provas concretas, e para chegar nelas é um longo processo. Só assim elas devem ser repassadas à toda comunidade.

Antes, os especialistas suspeitavam que o nosso Sistema Nervoso Entérico (SNE) seria capaz de fazer a regulação do açúcar no sangue, mas sem que pudesse envolver o Sistema Nervoso Central (SNC).

Informações acerca do Sistema Nervoso Entérico

No meio científico, quando um pesquisador relata sobre um ‘cérebro no intestino’, ele está fazendo referência ao sistema nervoso próprio do intestino. Essa nomenclatura, apesar de não ser nada formal, foi o jeito mais fácil encontrado para que as pessoas de fora da comunidade acadêmica conseguissem compreender o assunto.

Um ‘cérebro no intestino’ regula a insulina e açúcar no sangue
(Imagem: Depositphotos)

De forma geral, o SNE é constituído por uma grande quantidade de neurônios, os quais executam diversas funções. A sua função hormonal é levar informações para todo o sistema, enquanto a função motora promove a movimentação dos músculos e a imunológica ajuda na proteção contra os patógenos.

Experimento científico: cérebro no intestino

Em um novo estudo publicado na revista Science, o grupo de pesquisadores conseguiram demonstrar como o SNE contribui para a regulação do açúcar e da insulina no sangue.

Sabemos que o nosso organismo possui uma microbiota, e que ela poderia estar relacionada aos níveis de açúcar no sangue. Entretanto, essa era apenas uma suposição. Com esse novo trabalho ficou evidente que, para regulação da glicose e insulina, se faz necessário de pelo menos um mecanismo casual proveniente da microbiota. Assim, os cientistas criaram o “RiboTag”, um procedimento capaz de capturar os RNAs mensageiros produzidos durante a tradução, encontrados em diferentes partes do intestino do camundongo.

Os animais foram separados em 2 grupos: com a microbiota e sem. Notou-se que, quando a microbiota era menos rica, havia uma diferença maior no transcriptoma, em especial na parte do cólon e do íleo. Apesar de a microbiota fazer a expressão de diversos metabólitos, um em especial chamou a atenção dos cientistas: o neuropeptídio CART +.

Um ‘cérebro no intestino’ regula a insulina e açúcar no sangue
(Imagem: Shutterstock)

O CART se expressa, além do intestino, na região do hipotálamo, onde colabora nas funções de regulação do peso corporal e de recompensa. Quando foi identificado, esse peptídeo deixou os pesquisadores intrigados. Para eles, era importante compreender a sua procedência, onde se iniciavam. Na busca por respostas, houve uma infecção nos neurônios que secretam CART+, por meio de uma partícula viral modificada.

Após a infecção, o neurônio seria capaz de expressar uma proteína fluorescente. Durante todo o experimento, foi notado que os vírus agiam de forma retrógrada quando estevam infectando os neurônios. Assim, os neurônios CART partiam do intestino paras as vísceras. E por meio do Sistema Nervoso Simpático, eles inervavam os gânglios, mesentérico superior, pâncreas e fígado.

Ativação dos neurônios CART

Para que os neurônios CART sejam ativados, se faz necessário a presença de um receptor, que possa se conectar ao seu ligante. No estudo, foram utilizados um receptor modificado, no qual faria ligação com um ligante sintético, o Clozapine-N- óxido.

Quando esses neurônios estão ativos, foi observado, em camundongos, uma diminuição na ingestão de alimentos que estava associada a um aumento no açúcar no sangue e uma diminuição na insulina. No momento em que eram desativados, os neurônios exibiam um padrão oposto.

Onde acarretaria em uma redução do açúcar no sangue, e no aumento da insulina. Foi notado também que, com essa desativação, a via metabólica que gera glicose (gliconeogênese), sofreu interferências. Essa demonstração serviu como prova de que, os neurônios são glicorreguladores, uma vez que enervam o fígado e pâncreas, órgãos reguladores do açúcar.

Por fim, com esse estudo, foi possível demonstrar que a microbiota induz uma secreção de neuropeptídios CART, por meio de neurônios do SNE. Assim, o cérebro no intestino é, basicamente, um segundo órgão que atua sem a obrigação de um Sistema Nervoso Central.

Com informações de Science e Futura Sciences.

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