Um ancestral misterioso acasalou com humanos antigos. Agora carregamos o seu DNA

Felipe Miranda
Um crânio de Homo erectus. Imagem: Emőke Dénes/ Wikimedia Commons

Nós sapiens possuímos, em nosso DNA, registros de um ancestral misterioso, que acasalou com espécies humanas há aproximadamente um milhão de anos e deixou suas marcas.

Hoje em dia, conhecemos apenas uma espécie humana, que somos nós. Mas no passado, convivemos com diversas outras espécies, como os erectus e os neandertais, que acabaram sendo extintos pela natureza e pela competição.

Alguns desses fluxos gênicos remanescentes foram mapeados por um trio de pesquisadores. Os resultados foram publicados da última quinta-feira (6) na revista de acesso aberto PLOS Genetics.

Bom, o ‘misterioso’ no título já indica que ninguém sabe ao certo qual espécie humana que deixou sua marca, embora haja suspeitas de que foi o Homo erectus, que viveu por quase dois milhões de anos e foi extinto à 100 ou 200 mil anos. Ele viveu com nós, os Homo sapiens, entretanto.

Os pesquisadores não conseguem afirmar quem é o ‘ancestral misterioso’ com certeza porque até hoje não conseguimos sequenciar o genoma dos erectus, mesmo tendo posse de restos mortais de alguns indivíduos. 

Além de ter encontrado este genoma misterioso, eles descobriram que os acasalamentos de sapiens com neandertais ocorriam muito antes do que se pensava até então. Há 200 e 300 mil anos a prática já ocorria. 

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Concepção artística de um neandertal. (Créditos da imagem: Thomas Vogt / Flickr).

Pensava-se que isso fosse mais recente porque os sapiens são originários da África, e migraram para a Europa apenas 50 mil anos atrás. Os neandertais que habitavam o continente europeu. 

Os nazistas mataram os outros povos por se considerarem a raça pura. Entretanto, os europeus possuem entre 3% e 7% de gene neandertal. Os africanos são os humanos mais próximos da pureza, embora a pureza de espécies de fato não exista, e eles também possuem DNA neandertal.

Ilustrando o passado

Os genes são estruturas bastante complexas que guardam muita história. É possível, por meio deles, encontrar diversas pistas, que podem ser completadas, mais tarde, por evidências arqueológicas.

“Nossa melhor conjectura é que um grupo inicial de humanos anatomicamente modernos deixou a África e depois se encontrou e cruzou com neandertais, talvez no Oriente Médio”, diz Adam Siepel ao Live Science.

Siepel, biólogo computacional que participou do estudo, explica: “Essa linhagem [de humanos] seria então perdida – extinta ou absorvida pelos neandertais ou migrada de volta para a África”.

Nossos irmãos neandertais conviveram conosco por muito tempo, e possuíam uma atividade bastante complexa, e eram capazes de fazer até arte. Foram extintos somente 30 mil anos atrás por motivos que ainda se debatem. 

“Estamos tentando construir um modelo completo para a história evolutiva de todos os segmentos do genoma, em conjunto com todos os indivíduos analisados”, explica Siepel, sobre a busca que levou ao ancestral misterioso.

“O gráfico de recombinação ancestral, como é conhecido, inclui uma árvore que captura os relacionamentos entre todos os indivíduos em todas as posições ao longo do genoma, e os eventos de recombinação que fazem com que essas árvores mudem de uma posição para a próxima”, explica.

Por meio deste tipo de análise, é possível encontrar detalhes que poderiam ser apagados em outras formas de leitura. É possível identificar diversos “nós” de recombinação, anteriores à chegada dos fragmentos ao nosso DNA.

Se há um cruzamento entre o neandertal e uma determinada espécie, por exemplo, e depois de um neandertal com um sapien, é possível identificar essas duas recombinações. Caso não fosse, não saberíamos a ordem dos acontecimentos.

O estudo foi publicado no periódico PLOS Genetics. Com informações de Live Science.

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