Tesouros escondidos: Cientistas procuram fósseis nas profundezas dos rios

Felipe Miranda
Restos de um crocodilo com chifres são encontrados em caverna subaquática em Madagascar. Imagem: Barry Coleman

O mundo subaquático pode ser um verdadeiro paraíso para aqueles que buscam por fósseis. O mundo muda muito e, da mesma forma que muitos depósitos de calcário em terra já foram locais repletos de água, muitos locais onde hoje são mares, rios e oceanos já foram terra firme. Assim, no mundo dos fósseis subaquáticos, se pode encontrar até mesmo fósseis de animais terrestres.

A Costa Jurássica, um local tão repleto de fósseis declarada pela UNESCO como patrimônio da humanidade, é hoje uma praia do Canal da Mancha, mas há muito tempo foi um oceano. Ali, há uma história de quase 200 milhões de anos fossilizada.

Lá não há necessariamente a busca por fósseis subaquáticos, já que como o próprio nome sugere, a Costa Jurássica está na praia – ou na água rasa, ou na areia e na terra que circunda o mar. Entretanto, serve para exemplificar a abundância de fósseis abaixo da água.

Quando um animal morre na terra firme, é bem provável que um outro animal carniceiro o torne em pequenos pedaços. Além disso, a decomposição geralmente faz o corpo inteiro do animal desaparecer. Por isso, é necessário um evento muito especial para criar um fóssil, tornando-os não muito comuns. Para você achar um fóssil, é necessário muita persistência, além de saber o que está procurando e onde está procurando.

Entretanto, no oceano, ao afundar, o animal morto pode ser facilmente coberto por alguns sedimentos, ser esquecido ali e fossilizar com o tempo.

“Milhões de anos atrás, quando um animal terrestre morria, havia uma grande chance de sua carcaça ser removida”, diz James Hyslop, chefe de Ciência e História Natural da empresa de leilões de arte Christie’s em uma matéria no site da empresa. “Se algo morresse no oceano, no entanto, poderia afundar no fundo sem ser perturbado, e é por isso que os fósseis subaquáticos são mais comuns do que seus homólogos terrestres”.

“Alternativamente, poderia ter sido enterrado em sedimentos após um megatsunami, ou por parte da plataforma continental colapsando e enviando tudo para as profundezas. Isso deixaria uma camada espetacular de fósseis subaquáticos para fornecer um instantâneo de como era a vida naquela época”, explica Hyslop.

Um exemplo é o fóssil na imagem abaixo. O fóssil, de cerca de 50 milhões de anos, é de um peixe que, ao tentar engolir outro, foi sufocado. Assim, a dupla morreu e se fossilizou no fundo do oceano.

fósseis subaquáticos
Lêmures são um dos exemplos de fósseis subaquáticos encontrados. Imagem: Barry Coleman.

Os fósseis subaquáticos de animais terrestres

Em alguns locais, se pode encontrar animais terrestres fossilizados abaixo da água. Por exemplo, em 2014, pesquisadores encontraram um cemitério de lêmures gigantes nas cavernas submersas do Parque Nacional Tsimanampetsotsa, em Madagascar.

Cavernas subaquáticas podem conter tesouros paleontológicos valiosíssimos, mas não é nada fácil de explorar esses ambientes, já que envolve um esforço coletivo entre antropólogos, paleontólogos e mergulhadores.

Matthew Weas, um experiente mergulhador que busca fósseis pelo rio Cooper, na Carolina do Sul, EUA, falou sobre suas aventuras, como ter a mão engolida por um bagre, e ter jacarés nadando em sua direção.

Com esses desafios, os pesquisadores estão sempre em busca de melhorar os procedimentos.

Em 2019, foi publicado, nos anais do 35º Congresso Brasileiro de Espeleologia, um texto no qual “são detalhadas soluções técnicas desenvolvidas pela equipe do Museu Nacional (UFRJ) e colaboradores, que permitiram o acesso qualificado à depósitos fossilíferos subaquáticos cavernícolas – diante de desafios impostos por condicionantes e riscos inerentes a própria condição de imersão dos depósitos em cavernas alagadas”.

A equipe explica que “o acesso às cavernas alagadas só foi iniciado há algumas décadas e se dá até hoje essencialmente limitado à diminuta comunidade de espeleo-mergulhadores que efetiva a aventura exploratória científica (ou turística) nas condições de risco impostas por cavernas alagadas”.

Assim, os fósseis subaquáticos são abundantes, mas muitas vezes de difícil acesso.

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