Como explicar as pinturas de macacos africanos feitas por gregos antigos?

Erik Behenck
Macacos africanos desenhados por gregos antigos. Foto: B. Urbani / Antiguidade

Os gregos antigos produziram diversas obras de arte mostrando macacos que vivem apenas em algumas regiões do continente africano. Mas como eles poderiam conhecer a existência destes animais que vivem há milhares de quilômetros? Teria o artista visto tais animais diretamente ou conversado com alguém que os viu? Estas questões levantam grandes debates entre os especialistas.

Uma obra de arte produzida pelos gregos e encontrada recentemente em um assentamento de 3.600 anos, no sítio arqueológico de Akrotiri, na ilha grega de Santorini. Ela mostra um pequeno macaco de rosto preto subindo pela paisagem. É uma pintura bastante precisa, que mostra detalhes claros desses animais que vivem na África. Com tantos detalhes, fica difícil negar que são macacos-vervet (Chlorocebus pygerythrus), que habitam a África Oriental.

Na ilha vizinha de Creta, existem primatas pintados de azul, mostrados com uma cintura estreita, peito grosso e nariz sem pelos. Assim, esses são muito semelhantes com os babuínos, que também são da África.

Os gregos antigos produziram diversas obras de arte mostrando macacos que vivem apenas em algumas regiões do continente africano. (Imagem: Antiquity)
Os gregos antigos produziram diversas obras de arte mostrando macacos que vivem apenas em algumas regiões do continente africano. (Imagem: Antiquity)

Como gregos antigos pintaram macacos desconhecidos?

Conforme os autores escreveram na revista Antiquity, essas pinturas fornecem um novo conhecimento sobre o mundo no passado, mostrando como os gregos antigos mantinham contato com outras sociedades. Além disso, é uma evidência de que os gregos tinham certos conhecimentos sobre como era a vida selvagem no continente africano.

Mas, obviamente que os macacos não são azuis, cor no qual foram retratados. De acordo com os pesquisadores, a escolha da tonalidade não é um fator definitivo, já que muitas vezes o azul é utilizado para representar diferentes tonalidades de cinza. Ainda assim, é possível que tenham introduzido o azul a partir dos egípcios, que usavam a cor em contextos sagrados.

As pinturas foram feitas por sociedades minoicas, que tiveram bastante influência ao longo da Idade do Bronze, entre 3.000 AEC e 1.100 AEC. Dessa maneira, é possível conhecer um pouco sobre a forma como viviam, inclusive mostrando a maneira como tinha contato com pelo menos duas espécies de macacos africanos.

Um afresco da era do bronze criado pelos gregos antigos, mostrando um macaco velvet ao lado de babuíno. (Imagem: B. Urbani / Antiquity)
Um afresco da era do bronze criado pelos gregos antigos, mostrando um macaco velvet ao lado de babuíno. (Imagem: B. Urbani / Antiquity)

Onde viviam os macacos?

Uma das possibilidade é de que os gregos antigos responsáveis pelas pinturas tenham viajado até a África e visto com seus próprios olhos os animais que vieram a representar depois. Além disso, outra alternativa é que tenham ouvido histórias sobre esses animais e por isso tenham feito os desenhos.

O macaco-vervet, ou macaco do velho mundo hoje em dia vive no Caribe, nas ilhas de Barbados, São Cristóvão e Nevis, levado até lá por escravos. Mas, é uma espécie natural da África, vivendo principalmente na costa leste, em diversos países, se estendendo até a África do Sul.

Já os babuínos, que também foram representados pelos gregos antigos, são animais que costumam viver nos campos abertos africanos, como nas savanas ou nos terrenos rochosos. Diferente dos macacos, eles costumam passar boa parte do tempo no chão, já que suas caudas não são ideais para escaladas em árvores.

O estudo foi publicado na revista Antiquity da Universidade de Cambridge, clique aqui para acessá-lo.

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