Sonda na NASA detecta erupção em Vênus: o planeta está vivo

Entender a atividade vulcânica de Vênus pode nos dar detalhes de sua história.

Felipe Miranda
O modelo 3D mostra o cume de Maat Mons, o vulcão que teve atividade recente. Imagem: NASA / JPL-Caltech

A atividade geológica é um importante processo que ocorre na Terra e em outros planetas. No entanto, alguns planetas “morrem” rapidamente e perdem essa atividade geológica constante, com terremotos e erupções vulcânicas. Geralmente, essa morte ocorre com o resfriamento da parte interna do planeta. A atividade geológica é, por exemplo, uma das variáveis que geraram o surgimento da vida na Terra.

Agora, os pesquisadores detectaram a presença da atividade geológica em Vênus. Foi a primeira vez que os pesquisadores detectam evidências geológicas diretas de vulcanismo no nosso planeta vizinho. A descoberta foi publicada em 15 de março em um artigo no periódico Science e apresentada na 54º Conferência de Ciência Lunar e Planetária no mesmo dia da publicação.

A atividade vulcânica pode ser um importante fator para Vênus estar como está hoje.

A detecção, conforme divulgado pela agência, traz algumas pistas e abre caminho para a missão VERITAS, que será lançada futuramente pela NASA. A sonda orbitará Vênus e utilizará topografia, espectroscopia e dados de rádio para realizar um mapeamento de alta resolução da superfície do irmão gêmeo da Terra. A missão tem como intuito entender o passado geológico, a gravidade, o histórico de impactos e outros itens da história do planeta. A ideia da missão VERITAS é entender o que tornou seu caminho tão diferente da Terra, já que os dois planetas são aproximadamente do mesmo tamanho e estão em um local muito próximo. Vênus deveria ser como a Terra – cheio de vida -, mas se tornou um forno repleto de ácido sulfúrico.

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Concepção artística de um vulcão em erupção em Vênus. Imagem: NASA/JPL-Caltech/Peter Rubin

“A seleção da NASA da missão VERITAS me inspirou a procurar atividade vulcânica recente em dados de Magalhães”, disse em um comunicado da NASA Robert Herrick, que é professor e pesquisador da Universidade do Alasca Fairbanks. “Eu realmente não esperava ser bem sucedido, mas depois de cerca de 200 horas comparando manualmente as imagens de diferentes órbitas de Magalhães, vi duas imagens da mesma região tiradas com oito meses de intervalo, exibindo mudanças geológicas reveladoras causadas por uma erupção”.

A sonda Magalhães foi lançada em 1989 e orbitou Vênus entre 1990 e 1994.

Detecção de atividade vulcânica

As evidências geológicas da atividade vulcânica em Vênus ocorreram na região montanhosa Atla Regio, que localiza-se próximo à linha do equador do planeta. A região abriga, ainda, dois dos maiores vulcões de Vênus, chamados de Ozza Mons e Maat Mons. Embora os cientistas já acreditassem que a região ainda era vulcanicamente ativa, ainda não haviam sido encontradas evidências.

Foi descoberto um respiradouro quase circular. A estrutura era associada a Maat Mons e enfrentou mudanças significativas entre os meses de fevereiro e outubro de 1991. Nas primeiras imagens, sinais de lava demonstravam uma possível atividade geológica, que foi confirmada nas imagens de oito meses depois, o respiradouro possuía o dobro do tamanho e estava, aparentemente, cheio até a borda com lava.

No entanto, a qualidade das imagens, que foram capturadas na década de 1990, não eram muito boas. Para confirmar as observações, então, os pesquisadores realizaram simulações de computadores para descartar, por exemplo, deslizamentos de Terra. No entanto, as simulações demonstraram que apenas uma erupção poderia ter ocasionado as mudanças observadas.

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As imagens exemplificam as observações. (Imagem: Robert Herrick/UAF).

“Apenas algumas das simulações corresponderam às imagens, e o cenário mais provável é que a atividade vulcânica tenha ocorrido na superfície de Vênus durante a missão de Magalhães”, disse Scott Hensley, pesquisador do JPL que também participou do projeto VERITAS. “Embora este seja apenas um ponto de dados para um planeta inteiro, ele confirma que há atividade geológica moderna”.

Missões futuras

Em cerca de uma década, a sonda VERITAS estará decolando rumo à sua missão. Além disso, será lançada também, em breve, a missão DAVINCI (Deep Atmosphere Venus Investigation of Noble gases, Chemistry, and Imaging). Ambas nos trarão muito novos detalhes para conhecermos melhor o irmão gêmeo da Terra.

“Vênus é um mundo enigmático, e Magalhães provocou tantas possibilidades”, disse no comunicado Jennifer Whitten, vice-pesquisadora principal associada do VERITAS na Universidade de Tulane, em Nova Orleans. “Agora que temos certeza de que o planeta experimentou uma erupção vulcânica há apenas 30 anos, esta é uma pequena prévia das incríveis descobertas que a VERITAS fará.”

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