Assim como os polvos, as sépias (ou chocos) são cefalópodes solitários. Estes animais, que lembram bastante uma lula, raramente têm muitas interações sociais. Todavia, pesquisadores agora registraram sépias migrando juntas e até mesmo algumas ficando de guarda enquanto as outras dormiam.
Os pesquisadores Christian Drerup e Gavan Cooke, nesse sentido, coletaram e analisaram ao menos dez registros em vídeo de sépias no período entre 2013 e 2020, nos meses de agosto e setembro. De acordo com a pesquisa, aliás, este período do ano é quando estes cefalópodes migram para águas mais profundas, ao longo da costa da França e do sul do Reino Unido.
A parte curiosa é que, ao contrário de tudo que se sabia destes animais até o momento, as sépias dos registros na pesquisa estavam migrando em bandos relativamente grandes. Lulas frequentemente podem formar grupos grandes, mas os chocos raramente apresentam um comportamento tão social.
O autor Gavan Cooke afirma ao New Scientist, em relação às observações de cardumes de chocos: “A literatura é muito dogmática sobre o que cefalópodes fazem e não fazem, e você meio que aceita até ver as coisas com seus próprios olhos.”
Além do estranho comportamento social, os chocos também apresentavam alguns padrões de movimento do cardume. Em diversos dos registros, por exemplo, os animais formavam uma linha horizontal na água, com todos olhando para uma direção, exceto um deles. De acordo com a pesquisa, disponível no periódico Ethology, o choco que ficava virado para trás provavelmente estava monitorando possíveis predadores.
Ainda em outra formação comum, as sépias formava círculos, com todos os animais de costas para o centro. Novamente, a dupla de especialistas acredita que isto tenha a ver com a proteção contra predadores.
Mudando paradigmas sobre as sépias
Como afirma Cooke, a zoologia pode ser bastante dogmática, com certas áreas mudando muito pouco em relação a outros campos científicos. Todavia, os autores acreditam que estas observações podem possibilitar uma gama completamente nova de estudos sobre a sociabilidade de cefalópodes.
Além da proteção contra predadores, ademais, a migração em grupos permite maiores chances de se encontrar fontes de alimento e possíveis parceiros reprodutivos. Ainda, é possível que o comportamento facilite a navegação e direcionamento dos bichos.
Outros estudos recentes, aliás, indicam evidências de agrupamentos reprodutivos e mesmo indícios de aprendizado entre os animais.
As sépias deste estudo, vale ressaltar, são da espécie Sepia officinalis, as quais aparecem em vídeos dentro de cardumes de até 30 animais. Em sua maioria, os animais eram jovens ou adultos não muito velhos, sendo que a maior parte dos registros foi feita por mergulhadores nas águas britânicas.
Concluindo, portanto, a pesquisa indica que as sépias também se beneficiam, como milhares de outras espécies, da formação de grupos para o aumento das chances de sobrevivência. Especialmente durante a migração, isso faz bastante sentido uma vez que os animais sejam jovens e estejam nadando por águas desconhecidas, sujeitos a mais ameaças.