Segredos dos antigos egípcios: a descoberta da Pedra Roseta

SoCientífica
Exército de Napoleão no Egito. Pintura de Jean-Charles Tardieu.

O Antigo Egito frequentemente nos impele um senso de admiração e nos transfere a uma odisseia através do tempo para buscarmos mais compreensão sobre quem nossos ancestrais foram e quem realmente somos. Pois é com base no estudo dessa civilização — ressurgida de súbito, no século 19, das areias secas do norte da África oriental por uma expedição guiada por Napoleão Bonaparte àquelas destemidas terras, onde outrora Alexandre, O Grande, e Júlio César exalaram o ar vivo dos povos que viviam ali — que podemos vislumbrar como se deu a evolução das crenças, das artes e das ciências no mundo ocidental. Não só redescobrimos uma civilização, mas a nós mesmos.

Qualquer contemporâneo de Napoleão, seja ele oriental ou ocidental, que visitasse as ruínas das antigas cidades e aldeias da remota civilização que viveu no Egito, só teria uma mínima compreensão acerca do que ela foi se ousasse averiguar os escritos dos viajantes e historiadores gregos e romanos. Mas, mesmo lendo os relatos escritos das pessoas que visitaram o local em sua época de glória, ainda sabia-se muito pouco sobre quem tinham sido os egípcios.

A expedição de Bonaparte foi munida de um efetivo de 36 mil homens mas, sua carta na manga foi mais um efetivo de 160 homens, entre eles, cientistas, artistas e intelectuais. Foi graças à essa peripécia de Bonaparte que a sua expedição ao Egito não foi um total fracasso. Napoleão era um erudito e sabia da importância do conhecimento. Ele concedia prioridades aos cientistas para explorarem, coletarem amostras e fazerem experimentos nas terras desafiadoras que eles diariamente enfrentavam. Porém, só depois que Napoleão deixou o Egito que um de seus soldados conseguiria achar, por acaso, uma simples pedra de granito sob as pardas areias, que mudaria todo o rumo de investigação daquela civilização. Hoje, a conhecemos como a Pedra Roseta, consequentemente achada numa cidade chamada Roseta — localizada ao leste de Alexandria.

Como caraterística rudimentar, haviam dois tipos de hieróglifos desenhados na Pedra Roseta e, para o espanto da comunidade científica da época, um texto escrito em grego na parte inferior. Foi a partir dos escritos em grego que Jean-François Champollion, um jovem prodígio que havia se fascinado pela cultura oriental e que devorou os livros que os cientistas de Napoleão escreveriam posteriormente sobre aquela expedição, pôde entender que aquilo seria, então, uma tradução daqueles hieróglifos desconhecidos. Até então, os investigadores achavam que os hieróglifos eram apenas representações pictóricas, como as artes rupestres. Mas Champollion viu que não era isso. Ele foi a primeira pessoa a entender que aqueles desenhos formavam sons fonéticos e eram a escrita dos egípcios.

Surge, então, a Egiptologia, uma área de estudo voltada especialmente ao Egito Antigo. A expedição de Napoleão no final do século 18, em termos políticos, foi um fracasso. Porém, em termos científicos, trouxe à tona uma civilização que jazia há muito esquecida.

Não é de se admirar que o Egito mexe, ainda hoje, com o imaginário das pessoas. Era um lugar onde suas construções haviam sido feitas para deuses, gigantescas estruturas com mais de 30 metros de altura — das quais o próprio Champollion visitou e maravilhou-se; crenças atraentes, prometendo vida eterna — veja-se aqui de onde provavelmente o cristianismo tirou sua ideia de paraíso —, e mitos românticos, remetendo deuses a viverem entre os humanos.

A Pedra Roseta desvendou para nós um Egito desconhecido, nos fez compreender melhor aquela civilização. Hoje, podemos ler qualquer coisa que os antigos escribas egípcios deixaram registrados em tumbas, monumentos ou em blocos de granitos, como a Pedra Roseta. Mesmo dois séculos depois da descoberta, continuamos a inquirir quem foram os egípcios e quais foram suas influências nas civilizações que emergiram em seus entornos. Portanto, sabe-se lá o que, ainda, podemos descobrir submerso no grande oásis que é o Egito e que, eventualmente, amplie nossos conhecimentos acerca dessa civilização que tanto mexe com nosso imaginário.

Referências

ENGLUND, Steven. Napoleão: Uma Biografia Política. Zahar, 2005.

SAGAN, Carl. Cosmos: Uma Visão Pessoal. Gradiva, 1991.

A Obsessão de Napoleão: Egito. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=fuPxEj7F_cI>.

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