Remédio medieval a base de cebola e alho mata bactérias resistentes a antibióticos

Erik Behenck
Receita do remédio medieval chamado Sanguessuga de Bald. (Biblioteca Britânica / Domínio Público)

Com o passar dos anos as bactérias vão evoluindo e passando a ser resistentes aos medicamentos modernos. Por isso, alguns pesquisadores olham para o passado em busca de soluções que já foram eficazes em outros tempos. Assim, recentemente descobriram um remédio medieval com cebola e alho que mata bactérias resistentes aos antibióticos.

É uma espécie de pomada, desenvolvida há cerca de 1.000 anos. A receita foi encontrada em um dos primeiros livros médicos conhecidos, da Inglaterra medieval, chamado Leechbook de Bald. Atualmente a receita está sendo tratada por “biótico antigo”.

O que sabemos até agora sobre o potente remédio medieval?

Baseados em estudos feitos algum tempo atrás, os pesquisadores conseguiram identificar que essa mistura contendo alho, cebola, bile de vaca e vinho deve conter propriedades antissépticas poderosas. E realmente parece funcionar muito bem contra algumas bactérias que são resistentes aos medicamentos modernos.

Os pesquisadores prepararam 75 lotes de colírios para olhos de Bald, 15 deles feitos com alho-poró e 15 com cebola, já que o primeiro ingrediente também consta no livro. Assim, puderam testar a eficácia da receita milenar.

Um estudo antigo indicou que essa receita mata o Staphylococcus aureus, uma bactéria que causa o estafilococo. Agora um estudo liderado por Jessica Furner-Pardoe, da Universidade de Warwick, indicou que mesmo estas bactérias formando estruturas robustas, chamadas de biofilmes, a pomada foi eficaz.

Essas bactérias podem se aglomerar, passando a ser ainda mais resistentes e perigosas. Dessa forma, é complicado encontrar um agente que possa superá-las. Para quebrar esse biofilme é preciso de um antibiótico até 1.000 vezes mais forte do que um para acabar com as formas flutuantes da bactéria.

Além disso, o remédio medieval parece funcionar muito bem contra outras bactérias resistentes, como Acinetobacter baumanii, Stenotrophomonas maltophilia, S. epidermidis e S. pyogenes, capazes de infectar feridas e resistir a antibióticos.

“Achamos que há uma promessa específica para o tratamento de infecções nos pés diabéticos”, disse o microbiologista da Universidade de Warwick, Freya Harrison, em entrevista à CNN.

Por que essa receita combate bactérias resistentes?

Os ingredientes que compõe esse remédio medieval funcionam muito bem na forma final do medicamento. Porém, quando os elementos são separados, não são tão eficazes no combate as cepas bacterianas.

Esse pode ser um indicativo sobre o porquê de os remédios à base de plantas não sobrevivem ao escrutínio. Acontece que durante o desenvolvimento de medicamentos é comum isolar os compostos, para avaliar como o remédio funcionaria de maneira diferente.

O vinho foi um elemento que mostrou pouca eficácia contra micróbios atuando sozinho. Por outro lado, isso não garante que ele seja completamente descartável para a receita. Dessa forma, quando foi removido da receita do bálsamo, perceberam uma grande queda em sua eficácia, algo que sugere uma capacidade antimicrobiana do vinho.

De modo geral, serão necessários mais estudos para mostrar se o colírio de Bald funciona ou não em um ambiente clínico. Mas, a mistura não mostrou dano algum às células humanas e nos ratos de laboratório onde foi testado, indicando que é algo seguro.

“A maioria dos antibióticos que usamos hoje são derivados de compostos naturais, mas nosso trabalho destaca a necessidade de explorar não apenas compostos únicos, mas misturas de produtos naturais para o tratamento de infecções por biofilme”, diz Harrison.

A pesquisa foi publicada no Scientific Reports.

Com informações de Science Alert.

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