Registro inédito do menor jacaré do mundo é feito no Pantanal

Felipe Miranda
Paleosuchus palpebrosus. Imagem: Karelj / Wikimedia Commons

Por meio de um levantamento de anfíbios e répteis (herpetofauna) realizado na Estação Ecológica (ESEC) de Taiamã, pesquisadores brasileiros identificaram a presença de jacarés-anão (Paleosuchus palpebrosus) no Pantanal, no Mato Grosso. Com registros anteriores feitos apenas ao redor do Pantanal, a ocorrência do menor jacaré do mundo é inédita no Pantanal mato-grossense.

Embora o nome da espécie envolva o termo “anão”, e seja conhecida como a menor espécie de jacaré do mundo, eles não são exatamente pequenos. Os machos medem 1,7 metros, e as fêmeas, 1,2 metros.

Os pesquisadores publicaram uma nota científica no periódico Brazilian Journal of Biology em que descrevem uma possibilidade de que a ocorrência do jacaré-anão pela região mato-grossense esteja sendo ampliada.

“A ausência de informação sobre a herpetofauna na ESEC de Taiamã torna esse artigo pioneiro e os resultados encontrados importantes de modo geral. Nossos resultados apontam que a estação ecológica pode apresentar uma diversidade de espécies maior do que esperado e interações ecológicas ainda não conhecidas para o grupo de herpetofauna”, disse o biólogo especialista em herpetofauna Vancleber Divino, doutorando em Ciências Ambientais pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e primeiro autor do artigo ao ((o)) eco.

Em agosto de 2017 e fevereiro de 2018, os pesquisadores coletaram amostragens de diversos animais: 11 espécies de anfíbios, 8 espécies de répteis e duas espécies Crocodylia: jacaré-do-Pantanal (Caiman yacare) e jacaré-anão (Paleosuchus palpebrosus).

Paleosuchus palpebrosus Distribution
Distribuição geográfica do Jacaré-anão. Imagem: Wikimedia Commons

Os cientistas defendem que a distribuição do jacaré-anão esteja se ampliando no Pantanal do estado do Mato Grosso porque houve uma grande ocorrência do animal. No parágrafo anterior, nos referimos ao número espécies, e não de amostras. Houve, na verdade, um grande número de amostras dos animais. E a questão é que as amostras do jacaré-anão são muitas: 99 registros. Enquanto isso, o próprio jacaré-do-Pantanal teve menos registros – apenas 85.

A a bióloga Jessica Rhaiza Mudrek, doutora em Ecologia e Conservação da Biodiversidade pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), destaca o tamanho da surpresa em encontrar esse jacaré nas planícies pantanosas, já que ele prefere outros ambientes. “É uma espécie de hábitos noturnos, menor espécie de jacaré do mundo. Geralmente está associada a córregos pequenos, estreitos e de águas correntosas. Por isso é uma surpresa […] é inédito”, disse

“Ela pode estar ampliando a área de ocorrência, se adaptando a novos ambientes”, diz Mudrek. Ela ainda diz: “Uma razão a mais para preservar”, em relação à preservação da Estação Ecológica (ESEC) de Taiamã. No entanto, não há um estudo que monitore o comportamento dos jacarés para entender exatamente o que eles estão fazendo por ali. O artigo, até o momento, trata-se de uma nota científica que descreve as observações.

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Bióloga Jessica Mudrek durante amostragem de um jacaré-anão na ESEC de Taiamã. Imagem: Daniel Kantek/ICMBio via ((o)) eco

“Diversos estudos afirmam que a espécie P. palpebrosus está restrita a áreas do entorno do Pantanal sem ocorrência na várzea”, dizem os pesquisadores no artigo. “Observamos que indivíduos ou grupos de P. palpebrosus estavam próximos à margem do rio, onde havia galhos, troncos ou raízes de arbustos ou árvores, enquanto o Caiman yacare foi encontrado principalmente em áreas abertas, como pequenos canais temporários e baías”.

Estações ecológicas e Taiamã

“Uma estação ecológica é sempre uma unidade de conservação de uso restrito. São muito importantes no sentido de representar o que há de mais significativo e representativo para aquele ecossistema onde ela está instaurada”, disse ao ((o)) eco o geógrafo Clovis Vailant, integrante do Instituto Gaia, uma ONG que atua em defesa do Pantanal.

“Essa nova descoberta reforça a importância desse tipo de unidade para a conservação geral do Pantanal”, disse Vailant referindo-se À ESEC de Taiamã.

“Aqui, apresentamos a primeira lista de espécies de herpetofauna para a área, e acreditamos que essas informações podem fornecer uma base para auxiliar no manejo e conservação desta importante unidade de conservação do Pantanal, a Estação Ecológica Taiamã”, finalizam no artigo os pesquisadores.

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